1 Flávia Helena Pereira1 Danilo Donizetti Trevisan2 Daniela Santos Lourenço3 Juliana Bastoni da Silva4 Maria Helena de Melo Lima5 Efeito de estratégias educativas na qualidade do sono de pessoas com diabetes: ensaio clínico randomizado 1 orcid.org/0000-0001-9331-7020. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Brasil. flavia.pereira@ifsuldeminas.edu.br 2 orcid.org/0000-0002-6998-9166. Universidade Federal de São João del-Rei, Brasil. ddtrevisan@ufsj.edu.br 3 orcid.org/0000-0002-4176-300X. Universidade Federal de Alfenas, Brasil. daniela.maximo@unifal.edu.br 4 orcid.org/-0000-0002-6642-8910. Universidade Federal do Tocantins, Brasil. juliana.bastoni@uft.edu.br 5 orcid.org/0000-0001-6521-8324. Universidade Estadual de Campinas, Brasil. melolima@unicamp.br Recebido: 10/01/2019 Submetido: 06/03/2019 Aceito por pares: 24/05/2019 Aceito: 12/06/2019 DOI: 10.5294/aqui.2019.19.3.2 Para citar este artigo / Para citar este artículo / To reference this article Pereira FH, Trevisan DD, Santos D, da Silva JB, Lima MHdM . Effect of educational strategies on the sleep quality of people with diabetes: randomized clinical trial. Aquichan 2019; 19(3): e1932. DOI: https://doi.org/10.5294/aqui.2019.19.3.2 RESUMO Objetivo: avaliar o efeito de estratégias educativas sobre a qualidade do sono e sua relação com o estresse emocional associado com o diabetes em pessoas com DM2. Materiais e método: ensaio clínico randomizado com dois grupos. O grupo 1 (G1, n = 45) recebeu orientações verbais e folhetos sobre estratégias de higiene do sono; o grupo 2 (G2, n = 46), orientações usuais das unidades de saúde sobre autocuidado com os pés. O sono foi avaliado pelo Pittsburgh Sleep Quality Inventory (PSQI-BR), e o estresse emocional, pelo Diabe- tes Distress Scale (B-DDS). Utilizaram-se modelos lineares de efeitos mistos e modelo de regressão linear para as análises estatísticas. Resultados: no final do seguimento, verificou-se melhora da qualidade do sono (p = 0,02) no G1. Baixo escore de estresse emocional (p = 0,03), ser do sexo masculino (p = 0,02), pertencer ao G1 (p = 0,002) e idade (p = 0,04) contribuíram para melhor qualidade do sono. Conclusão: orientações educativas sobre a higiene do sono em pacientes com DM2 foram efetivas na melhora da pontuação da qualidade do sono, mensurada pelo instrumento PSQI-BR, e do estresse emocional relacionado ao diabetes, avaliado pelo instrumento do B-DDS. PALAVRAS-CHAVE (fonte: DeCS) Sono; higiene do sono; Diabetes Mellitus tipo 2; estresse psicológico; Enfermagem. AÑO 19 - VOL. 19 Nº 3 - CHÍA, COLOMBIA - AGOSTO 2019 l e1932 Temática: cuidado crônico. Contribuição para a disciplina: os achados deste estudo reforçam a importância de os profissionais de saúde conhecerem integralmente o paciente com diabetes mellitus tipo 2 (DM2), fazendo com que a abordagem e a avaliação do padrão do sono sejam parte da prática clínica, para que intervenções de higiene do sono sejam propostas de acordo com cada necessidade. Além disso, ações de higiene do sono podem melhorar o estresse relacionado à doença e à qualidade de vida, o que reflete em atitudes positivas para o controle da doença. http://orcid.org/0000-0001-9331-7020 mailto:flavia.pereira@ifsuldeminas.edu.br http://orcid.org/0000-0002-6998-9166 mailto:ddtrevisan@ufsj.edu.br http://orcid.org/0000-0002-4176-300X mailto:daniela.maximo@unifal.edu.br mailto:juliana.bastoni@uft.edu.br http://orcid.org/0000-0001-6521-8324 mailto:melolima@unicamp.br https://doi.org/10.5294/aqui.2019.19.3.2 https://doi.org/10.5294/aqui.2019.19.3.2 2 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 AÑO 19 - VOL. 19 Nº 3 - CHÍA, COLOMBIA - AGOSTO 2019 l e1932 Efecto de estrategias educativas en la calidad del sueño en personas con diabetes: ensayo clínico aleatorizado RESUMEN Objetivo: evaluar el efecto de estrategias educativas en la calidad del sueño y su relación con el estrés emocional asociado con diabetes en personas con DM2. Materiales y método: ensayo clínico aleatorizado con dos grupos. El grupo 1 (G1, n = 45) tuvo orien- taciones verbales y folletos acerca de estrategias de higiene del sueño; el grupo 2 (G2, n = 46), orientaciones usuales de las unidades de salud sobre autocuidado con los pies. El sueño se evaluó por el Pittsburgh Sleep Quality Inventory (PSQI-BR), y el estrés emocional, por el Diabetes Distress Scale (B-DDS). Se emplearon modelos lineales de efectos mixtos y modelo de regresión lineal para análisis esta- dísticas. Resultados: al término del seguimiento, se encontró mejoría de la calidad del sueño (p = 0,02) en el G1. Bajo índice de estrés emocional (p = 0,03), ser del sexo masculino (p = 0,02), pertenecer al G1 (p = 0,002) y edad (p = 0,04) contribuyeron a mejor calidad del sueño. Conclusión: orientaciones educativas acerca de la higiene del sueño en pacientes con DM2 fueron efectivas en la mejoría de la puntuación de la calidad del sueño, mensurada por el instrumento PSQI-BR, y del estrés emocional relacionado con diabetes, evaluado por el instrumento del B-DDS. PALABRAS CLAVE (fuente: DeCS) Sueño; higiene del sueño; Diabetes Mellitus tipo 2; estrés psicológico; Enfermería. 3 Efeito de estratégias educativas na qualidade do sono de pessoas com diabetes: ensaio clínico randomizado l Flávia Helena Pereira e outros Effect of Educational Strategies on the Sleep Quality of People with Diabetes: Randomized Clinical Trial ABSTRACT Objective: To evaluate the effect of educational strategies on sleep quality and its relation to diabetes-related distress and glycemic control in people with type 2 diabetes mellitus (DM2). Materials and methods: Randomized clinical trial involving two groups. Group 1 (G1, n = 45) received verbal guidance and leaflets on sleep hygiene strategies and group 2 (G2, n = 46) received usual health care guideli- nes on self-care with the feet. Sleep was assessed by the Pittsburgh Sleep Quality Inventory and diabetes-related distress by the Diabetes Distress Scale. Linear mixed-effects models and linear regression model were used for the statistical analysis. Results: At the end of the follow-up, sleep quality improvement (p = 0.02) was verified in G1. Low diabetes-related distress score (p = 0.03), being male (p = 0.02), belonging to G1 (p = 0.002), and age (p = 0.04) contributed to better sleep quality. Conclusion: Educational guidelines on sleep hygiene in patients with DM2 were effective in improving sleep quality, measured by the PSQI instrument and emotional stress related to diabetes as assessed by the Diabetes Distress Scale. KEYWORDS (SourCe: DeCS) Sleep; Sleep Hygiene; Diabetes Mellitus, Type 2; Stress, Psychological; Nursing. AÑO 19 - VOL. 19 Nº 3 - CHÍA, COLOMBIA - AGOSTO 2019 l e1932 4 AÑO 19 - VOL. 19 Nº 3 - CHÍA, COLOMBIA - AGOSTO 2019 l e1932 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 Introdução A Federação Internacional de Diabetes (IDF) estimou, em 2017, que aproximadamente 425 milhões de pessoas viviam com Diabetes Mellitus (DM) no mundo. Em 2045, esse número poderá ultrapassar 629 milhões de pessoas (1). Naquele mesmo ano, aproximadamente 12,4 milhões de brasileiros adultos entre 20 e 79 anos conviviam com DM, o que levou o país a ser considerado o primeiro nas Américas do Sul e Central, e o quarto em âmbito mundial com maior número de adultos com DM, considerando a população total (1). O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é o tipo mais prevalente dessa condição crônica. Na literatura, a relação entre o DM2 e os distúrbios do sono é bem estabelecida (2-4). Pessoas com essa condição crônica comumente apresentam alterações no padrão do sono, como di- ficuldade em iniciar e manter o sono, sonolência diurna e baixa qualidade do sono (5-8). Estudo mostrou que 55 % das pessoas com DM2 apresentavam baixa qualidade do sono, de acordo com o Pittsburgh Sleep Quality Inventory (Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh — PSQI) (9). A baixa qualidade do sono pode afetar o bem-estar físico e emocional, e contribuir negativamente no tratamento do DM2 (9). Além disso, devido à condição complexa que o DM2 pode demandar, muitos pacientes podem enfrentar dificuldades na modificação do estilo de vida, o que envolve mudanças dos há- bitos alimentares, realização de atividade física e adesão ao tra- tamento medicamentoso; desse modo, podem sofrer impactos psicológicos importantes, como o aumento dos níveis de estresse emocional relacionado ao diabetes. Níveis elevados de estresse emocional relacionado ao diabetes são significativamente relacio- nados à má qualidade do sono e a maiores níveis de hemoglobina glicada (A1c) em diferentes cenários e tipos de estudo (9-11). Algumas medidas não farmacológicas como intervenções que envolvem a terapia cognitivo-comportamental, a exposição à luz, a realização de atividade física, a higiene do sono e terapias de relaxamento são direcionadas para a melhora da qualidade do sono e podem contribuir para diminuir o estresse relacionado ao diabetes (12-16); em consequência, pode-se observar aumento do autocuidado para o manejo do DM. Entretanto, a relação entre a qualidade do sono e o estresse relacionado ao diabetes ainda permanece estreita, sugerindo a necessidade de novos estudos para melhor elucidá-la. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de estratégias educativas baseadas na higiene do sono sobre a qualidade do sono e sua relação com o estresse emocional relacionado ao diabetes em pessoas com DM2. Método Desenho do estudo Trata-se de um ensaio clínico randomizado, paralelo e com- posto por dois braços — Grupo 1 (G1) e Grupo 2 (G2). O estudo ocorreu em quatro unidades de Estratégias de Saúde da Família (ESFs) de um município do sul de Minas Gerais, Brasil. O estudo foi conduzido entre setembro de 2015 e agosto de 2016, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa local, com parecer favorável (1.183.930/2016), e registrado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC, RBR-468WM2). O Consolidated Statement of Re- porting Trials (CONSORT) (17) foi seguido para a aleatorização, o cegamento, o seguimento e a análise dos dados. Participantes Participaram deste estudo pessoas com DM2, adultas e que realizam o tratamento dessa condição crônica nas unidades de ESFs onde se realizou este estudo. Foram incluídos os usuários que estavam em tratamento do DM2 há pelo menos seis meses, que possuíam baixa qualidade do sono (pontuação > 5 pontos), mensurada por meio do PSQI (18) , que não faziam qualquer tra- tamento farmacológico ou não farmacológico que interferisse no sono e que tinham acesso telefônico (móvel ou fixo). Foram excluídos os participantes que apresentaram comportamento cognitivo insuficiente, de acordo com as faixas de escolaridade, por meio do instrumento Miniexame do Estado Mental (MEEM) (19), e os que eram trabalhadores noturnos. Os critérios de descontinuidade foram: não comparecimento ou desistência em qualquer um dos encontros agendados e início de tratamento farmacológico/não farmacológico que interferisse no sono. Tamanho da amostra O tamanho amostral foi estimado considerando a metodologia para o cálculo de amostra de acordo com o teste t de Student não pareado a partir dos resultados observados em estudo prévio (20). Assumiu-se um poder de 80 % e um nível de significância de 1,25 % nos cálculos amostrais. Esse nível de significância foi de- terminado por meio da correção de Bonferroni. Após considerar 5 Efeito de estratégias educativas na qualidade do sono de pessoas com diabetes: ensaio clínico randomizado l Flávia Helena Pereira e outros uma taxa de perda de 20 %, a amostra foi composta, no mínimo, por 47 participantes em cada grupo. Programa de intervenção O programa de intervenção foi composto por dois grupos, G1 e G2, monitorados ao longo de 90 dias por meio de quatro encon- tros presenciais: baseline (T0), 30 dias após T0 (T1), 60 dias após T0 (T2) e 90 dias após T0 (T3). Houve também reforços telefônicos semanais até 60 dias de seguimento, totalizando quatro encon- tros presenciais e seis contatos telefônicos por grupo. Em T 0 (baseline), realizou-se o primeiro encontro presencial com os participantes de ambos os grupos (G1 e G2) para explicar os objetivos do estudo e obter a concordância para participar da pesquisa. Após aceitarem a participar do estudo, os participantes foram conduzidos para uma sala privativa da ESF. Em seguida, foram aplicados os instrumentos para a caracterização sociode- mográfica e clínica, para a avaliação do estado cognitivo, para a mensuração da qualidade do sono e para o estresse emocional relacionado ao diabetes. Os participantes que obtiveram escorem total do PSQI > 5 pontos e estado cognitivo suficiente de acordo com o nível de escolaridade foram aleatorizados em ambos os grupos (G1 ou G2) e lhes foi entregue o pedido para a coleta de sangue para mensurar os níveis de A1c. Os participantes do G1, em T0, receberam orientações educati- vas sobre higiene do sono baseadas nas diretrizes internacionais e nacionais de DM e sono (21, 22) vigentes na época do estudo. A higiene é considerada uma intervenção psicoeducacional, que consiste em ensinar a pessoa a evitar fatores externos ou am- bientais que gerem efeitos adversos e nocivos ao sono (22). As sessões de orientação duraram de 30 a 40 minutos e fo- ram conduzidas pessoalmente pelo pesquisador principal por meio de orientações verbais e de folhetos. As orientações realizadas envolveram aspectos para promover a melhora da qualidade do sono, tais como: manter o ambiente silencioso, escuro e com tem- peratura agradável para dormir; ir para a cama somente quando estiver sonolento; não ler, escrever, comer, assistir à televisão, falar ao telefone ou jogar cartas na cama; levantar-se caso tenha deitado e não tenha conseguido dormir em 20 minutos; utilizar téc- nicas de relaxamento como de respiração, concentração e alonga- mento antes de dormir; manter regularidade de horário de dormir; não se alimentar em grande quantidade antes de dormir, prefe- rindo pequenas porções ou um lanche; não tomar café, chá preto ou mate, refrigerantes, chocolate ou bebida alcoólica de quatro a seis horas antes de ir dormir; não fumar pelo menos de quatro a seis horas antes de deitar; evitar longos repousos após o almoço (mais que uma hora) ou diminuir cochilos diurnos; evitar atividade física quatro horas ou menos antes de dormir; expor-se à luz solar diariamente por 40 minutos na primeira metade da manhã ou no final da tarde. Esse período foi escolhido como medida para prote- ger dos possíveis danos solares na pele dos participantes. Em T 1 e T 2 , os encontros foram destinados para reforçar as orientações educativas e esclarecer dúvidas dos participantes. Isso aconteceu semanalmente por contato telefônico entre T0 e T1 e T1 e T2. Para o G2, em T0, os participantes receberam orientações so- bre os cuidados com os pés, focadas na higiene, na hidratação, no uso adequado de sapatos e meias apropriadas, e no corte de unhas (21). Essa orientação foi proposta por se tratar de uma estratégia já implantada nas unidades onde ocorreu a coleta de dados e por não estar associada com a qualidade do sono. Esse grupo também recebeu os reforços presenciais e contatos tele- fônicos nos mesmos moldes do G1, entretanto foram reforçadas as orientações de autocuidado com os pés. Por fim, em T3, realizou-se novamente a mensuração das va- riáveis do estudo dos participantes de ambos os grupos (G1 e G2). Nessa fase, um colaborador da pesquisa previamente capacitado realizou a coleta de dados. Os participantes dos grupos G1 e G2 foram compostos por in- divíduos das quatro unidades de ESF. Para evitar o contato entre os participantes de ambos os grupos, foram realizados os agen- damentos dos encontros presenciais em horários intervalados, de forma que os participantes não se encontrassem na unidade de saúde. Durante a coleta de dados, os participantes foram também orientados a não revelar o grupo ao qual pertenciam. Coleta de dados As variáveis sociodemográficas e clínicas foram obtidas por meio de instrumento semiestruturado e subdividido em informa- ções sociodemográficas: idade em anos completos, sexo, estado civil, escolaridade, ocupação, renda familiar mensal e com quem residia atualmente; clínicas: tempo de tratamento do DM2 em meses, comorbidades, medicamentos utilizados, realização de atividade física, uso de tabaco e consumo de bebidas alcoólicas 6 AÑO 19 - VOL. 19 Nº 3 - CHÍA, COLOMBIA - AGOSTO 2019 l e1932 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 também foram variáveis abordadas. Realizaram-se também as mensurações antropométricas de peso, altura, índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal. Para avaliar o funcionamento cognitivo geral, utilizou-se o MEEM (19, 23). O instrumento possui 11 itens com escore máximo de 30 pontos ajustados de acordo com o nível de escolaridade do indivíduo: analfabetos: MEEM > 20 pontos; escolaridade de 1-4 anos: MEEM > 25 pontos; escolaridade de 5-8 anos: MEEM > 26,5; escolaridade 9-11 anos: MEEM > 28; escolaridade superior a 11 anos: MEEM > 29 (24). A qualidade do sono foi mensurada por meio da versão bra- sileira do PSQI (18). A consistência interna da versão brasileira (PSQI-BR), mensurada pelo coeficiente alfa de Cronbach, foi de 0,73, o que indicou alto grau de consistência interna. Esse instru- mento avalia a qualidade do sono em relação ao último mês e tem como objetivo fornecer uma medida de qualidade de sono padro- nizada entre “bons dormidores” e “maus dormidores”. É composto por quatro questões abertas e seis questões semiabertas divi- didas em sete domínios: qualidade subjetiva, latência, duração, eficiência habitual e distúrbios do sono, uso de medicações para dormir e distúrbios durante o dia; a pontuação máxima é 21 pon- tos. Escores superiores a cinco pontos indicam qualidade ruim no padrão do sono (18). O estresse emocional relacionado ao diabetes foi mensurado por meio da versão brasileira do Diabetes Distress Scale (B-DDS) (24). O instrumento é composto por 17 itens divididos em quatro domínios: carga emocional (5 itens); insegurança relacionada ao profissional de saúde (4 itens); estresse relacionado ao regime terapêutico (5 itens) e estresse nas relações interpessoais (3 itens). A escala utilizada é do tipo Likert, que varia entre 1 (não é um problema) e 6 (é um problema muito importante) pontos. A soma das respostas dos quatro domínios divididos pelo núme- ro de itens gera um escore total que varia entre 1 e 6. Valores menores que 2,0 indicam pouco ou nenhum estresse relacionado ao diabetes; valores entre 2,0 e 2,9 indicam estresse moderado relacionado ao diabetes, e maiores ou iguais a 3,0 indicam alto estresse relacionado ao diabetes (25). Todos os dados, exceto os de caracterização dos participantes, foram coletados em T0 e T3; a mensuração da A1c foi realizada em até cinco dias após T0. O método utilizado para mensurar a A1c seguiu as recomendações do National Glycohemoglobin Standardizartion Program (NGSP) e foi padronizado pelo ensaio de referência do Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) (26). A coleta de sangue pré-intervenção ocorreu no laboratório do município onde o estudo foi realizado, pela técnica de cromatografia líquida de alto performance. Recrutamento, aleatorização, alocação e cegamento Por meio de uma lista de pessoas cadastradas nas unidades de saúde, foram acessados os prontuários de cada um dos parti- cipantes elegíveis. Em seguida, as pessoas foram convidadas in- dividualmente, por via telefônica, para participarem do estudo. No dia programado, o entrevistador reforçou o convite e explicou os passos da pesquisa. Um membro da equipe de pesquisa que não teve contato com os participantes preparou uma lista de sequên- cia aleatória gerada pelo website www.randomization.com, que considerou o método por blocos de tamanho aleatório com 100 participantes. A lista aleatorizada foi numerada em sequência e selada individualmente em envelopes opacos, a fim de ocultá-los dos pesquisadores. Preparou-se um número excedente ao cálculo da amostra devido a possíveis perdas durante a coleta de dados. No final do primeiro encontro (baseline), após a aplicação dos ins- trumentos de medidas, o pesquisador principal abriu, na sequên- cia, cada envelope e alocou o participante em um dos grupos (G1 ou G2). No final do seguimento, um pesquisador colaborador que não estava em contato com os participantes do estudo realizou a coleta dos dados, a fim de evitar viés de coleta. Análise dos dados Foi utilizada estatística descritiva para caracterizar a amostra no baseline, teste t de Student, teste não paramétrico de Mann-Whitney, teste de qui-quadrado. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para avaliar a normalidade das variáveis. Para as comparações entre os grupos com relação às variáveis qualidade do sono e estresse emocional, mensuradas ao longo do tempo, foram pro- postos modelos lineares de efeitos mistos. Para os casos em que os pressupostos do modelo não foram atendidos, aplicou-se a transformação Box-Cox na variável dependente. Um modelo de regressão linear múltipla foi construído com o objetivo de avaliar a relação entre um conjunto de variáveis inde- pendentes (IMC, estresse emocional, idade, tempo de tratamento, sexo, estado civil, pessoas com quem reside, renda familiar, ativi- dade física e grupo) e a qualidade do sono. Esse modelo foi ajustado pela medida da qualidade do sono na linha de base. Foi informado 7 Efeito de estratégias educativas na qualidade do sono de pessoas com diabetes: ensaio clínico randomizado l Flávia Helena Pereira e outros o valor do coeficiente de explicação R2 para o modelo ajustado (27), que sugere a seguinte classificação do coeficiente de explicação R2 de 0,01 até 0,08 (fraco); 0,09 a 0,24 (moderado) e maior ou igual a 0,25 (forte). As análises foram realizadas por meio do software SAS versão 9.4 e foi considerado um nível de significância de 5 %. Resultados Um total de 189 indivíduos apresentavam critérios de elegi- bilidade. Destes, 87 não atenderam aos critérios de inclusão, e dois recusaram-se a participar do estudo. Houve perdas ao longo do seguimento em ambos os grupos. Cinco participantes foram descontinuados no G1 e quatro no G2 por iniciarem tratamento farmacológico que interferia no sono (Figura 1). Nenhum dos par- ticipantes relatou complicações ou quaisquer danos atribuídos à intervenção durante o programa do estudo. Na Tabela 1, são apresentadas as características sociodemo- gráficas e clínicas dos participantes no baseline. A amostra teve predomínio de mulheres (57,14 %), com média de idade de 54,87 ± 6,96 anos. A maioria dos participantes (71,43 %) possuía de 1 a 8 anos de escolaridade. A média de A1c foi de 8,18 ± 2,07. Com exceção do gênero e do autorrelato de atividade física, não houve diferenças significantes entre os grupos. Figura 1. Diagrama do fluxo dos partici pantes do estudo conforme CONSORT (Paraguaçu, Minas Gerais, Brasil, 2016) Fonte: elaboração própria. Inclusão Avaliados para elegibilidade (n = 189) Excluídos (n = 89) Não atenderam aos critérios de inclusão (n = 87) Recusaram a participar (n = 2) Randomizados (n = 100) Alocados no grupo 1 (n = 50) Receberam intervenções de medidas de higiene do sono e exposição à luz (n = 50) Alocação Alocados no grupo 2 (n = 50) Receberam orientações sobre cuidados com os pés (n = 50) Seguimento Perda de seguimento (n = 5) Intervenção descontinuada: iniciaram o uso de medicamentos para dormir ou que interferiam no sono Perda de seguimento (n = 4) Intervenção descontinuada: iniciaram o uso de medicamentos para dormir ou que interferiam no sono Análise Analisados (n = 45) Analisados (n = 46) 8 AÑO 19 - VOL. 19 Nº 3 - CHÍA, COLOMBIA - AGOSTO 2019 l e1932 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 Tabela 1. Comparação dos dados sociodemográficos e clínicos entre as pessoas com DM2 do G1 e do G2 na linha de base (Paraguaçu, Minas Gerais, Brasil, 2016) Características dos participantes Total (n = 91) G1 (n = 45) G2 (n = 46) p-valor* Idade (anos), média (DP †) 54,87 (6,96) 55,78 (7,40) 53,98 (6,45) 0,11 ‡ Gênero (% feminino) 57,14 68,89 45,65 0,02§ Estado civil (% casados) 58,24 53,33 63,04 0,34§ Ocupação (%) Não trabalham 62,64 71,11 54,35 Trabalham 37,36 28,89 45,65 0,09§ Renda mensal (%)