425 - 436 Traducao e adaptacao transcultural.indd 425 Arménio Cruz1 António Marcos Tosoli-Gomes2 Pedro Miguel Parreira3 Denize Cristina de Oliveira4 Tradução e adaptação transcultural do Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para a língua portuguesa (Brasil e Portugal) 1 orcid.org/0000-0003-3254-3176. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal. acruz@esenfc.pt 2 orcid.org/0000-0003-4235-9647. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. professor@uerj.com.br 3 orcid.org/0000-0002-3880-6590. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal. parreira@esenfc.pt 4 orcid.org/0000-0002-0830-0935. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. professor@uerj.com.br Recibido: 30 de noviembre de 2015 Enviado a pares: 16 de diciembre de 2015 Aceptado por pares: 8 de agosto de 2016 Aprobado: 12 de diciembre de 2016 DOI: 10.5294/aqui.2017.17.4.6 Para citar este artículo / To reference this article / Para citar este artigo Cruz A., Tosoli-Gomes AM., Parreira P. & Oliveira DC. Tradução e adaptação transcultural da Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para a língua portuguesa (Brasil e Portugal). Aquichan. 2017; 17(4): 425-436. Doi: 10.5294/aqui.2017.17.4.6 RESUMO Objetivos: traduzir e adaptar o Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para o português do Brasil e o de Portugal. Metodologia: seguiram-se os procedimentos metodológicos de adaptação cultural e linguística: tradução inicial, síntese das traduções, retroversão, avaliação por comitê de peritos da equivalência semântica, idiomática, cultural e conceitual. A versão adaptada foi testada (pré-teste) com aplicação da escala a 249 enfermeiros portugueses e brasileiros em 2014. Resultados: não se encontraram palavras ou expressões consideradas divergentes, com exceção da palavra awareness no título do instrumento e da expressão medical acuity do item K. De acordo com o estágio IV do processo de tradução e adaptação cultural, o comitê de peritos propôs alterar a expressão 75 anos ou mais por 65 anos ou mais, na introdução do instrumento. Na versão portuguesa do Brasil, apenas se substituiu a palavra sanita por vaso sanitário. Com relação à versão adaptada, os participantes não colocaram questões nem referiram dificuldades no preenchimento do ins- trumento. Conclusões: o processo de tradução e adaptação cultural do Henas para a língua portuguesa seguiu as etapas recomendadas internacionalmente, e do qual se obteve equivalência semântica, idiomática, cultural e conceitual. São necessárias novas pesquisas para avaliar outras propriedades do instrumento e seu comportamento em amostras diferentes. PALAVRAS-CHAVE Avaliação em saúde; enfermagem; qualidade da assistência à saúde; idoso fragilizado; serviços de diagnóstico ; estudos de validação (Fonte: DeCS). AÑO 17 - VOL. 17 Nº 4 - CHÍA, COLOMBIA - DICIEMBRE 2017 l 425-436 426 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 AÑO 17 - VOL. 17 Nº 4 - CHÍA, COLOMBIA - DICIEMBRE 2017 l 425-436 Traducción y adaptación transcultural del Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para la lengua portuguesa (Brasil y Portugal) RESUMEN Objetivos: traducir y adaptar el Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para el portugués de Brasil y de Portugal. Me- todología: se siguieron los procedimientos metodológicos de adaptación cultural y lingüística: traducción inicial, síntesis de las traduccio- nes, retroversión, evaluación por comité de expertos de la equivalencia semántica, idiomática, cultural y conceptual. La versión adaptada fue probada (pre-test) con aplicación de la escala a 249 enfermeros brasileños y portugueses en el 2014. Resultados: no se encontraron palabras o expresiones consideradas divergentes, a excepción de la palabra awareness en el título del instrumento y de la expresión medical acuity del ítem K. De acuerdo con la fase IV del proceso de traducción y adaptación cultural, el comité de expertos planteó alte- rar la expresión 75 años o más por 65 años o más en la introducción del instrumento. En la versión portuguesa de Brasil, solo se reemplazó la palabra sanita por vaso sanitário. En cuanto la versión adaptada, los participantes no presentaron dudas ni refirieron dificultades en completar el instrumento. Conclusiones: el proceso de traducción y adaptación cultural del Henas para la lengua portuguesa siguió las etapas recomendadas internacionalmente y del cual se obtuvo equivalencia semántica, idiomática, cultural y conceptual. Son necesarias nuevas investigaciones para evaluar otras propiedades del instrumento y su comportamiento en muestras distintas. PALABRAS CLAVE Adulto debilitado; calidad de la asistencia a la salud; enfermería; estudios de validación; evaluación en salud; servicios de diagnóstico (Fuente: DeCS). 427 Tradução e adaptação transcultural do Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para a língua portuguesa (Brasil e Portugal) l Arménio Cruz e outros Translation and Transcultural Adaptation of the Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) for the Portuguese Language (Brazil and Portugal) ABSTRACT Objectives: Translate and adapt the Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) into Portuguese for Brazil and Portugal. Methodology: The methodological procedures for cultural and linguistic adaptation were followed; namely, initial translation, synthesis of translations, retroversion, and an evaluation of semantic, linguistic, cultural and conceptual equivalence carried out by a committee of experts. The adapted version was tested (pre-test) by applying the scale to 249 Brazilian and Portuguese nurses during 2014. Results: No words or expressions considered divergent were found, with the exception of the word awareness in the title of the instrument and the expression medical acuity in Item K. In keeping with phase IV of the cultural translation and adaptation process, the expert com- mittee proposed changing the expression 75 years or more to 65 years or more in the introduction to the instrument. In the Portuguese version for Brazil, the word sanita was replaced by the expression vaso sanitário. As for the adapted version, the participants did not express doubts or refer to difficulties in completing the instrument. Conclusions: The process of translation and cultural adaptation of Henas for the Portuguese language followed the stages recommended internationally and from which semantic, idiomatic, cultural and conceptual equivalence was obtained. Further research is needed to evaluate other properties of the instrument and its behavior with different samples. KEYWORDS Health evaluation; nursing; quality of health care; frail elderly adults; diagnostic services; validation studies (Source: DeCS, BIREME). AÑO 17 - VOL. 17 Nº 4 - CHÍA, COLOMBIA - DICIEMBRE 2017 l 425-436 428 AÑO 17 - VOL. 17 Nº 1 - CHÍA, COLOMBIA - MARZO 2017 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 Introdução As alterações e as tendências demográficas que se verificam no mundo, em face das multipatologias e dos níveis acentuados de dependência apresentados pelas pessoas idosas, têm sido acom- panhadas do aumento do risco de hospitalização dessa população. Nesse contexto, os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, veem aumentar a complexidade na sua prática de cuidados de enfermagem, inscrita dentro de um novo paradigma do cuidar. Contudo, a realidade mostra que as práticas clínicas, de uma maneira geral, ainda não refletem essas mudanças que se verificam na estrutura e no contexto das problemáticas associa- das ao processo saúde-doença da pessoa idosa, do qual o declínio funcional (DF) é exemplo. O DF e o descondicionamento dos idosos hospitalizados não é um fenômeno novo e continua a ser uma realidade nos serviços de internamento, apesar do esforço de seus gestores e dos pro- fissionais de enfermagem. As pessoas idosas são os clientes que, proporcionalmente a outras faixas etárias, mais utilizam os serviços de internamento hospitalares; portanto, eles estão sujeitos à complexidade desse sistema e a todos os fatores nele inscritos (1). De fato, a causa do DF dos idosos é multifacetada com responsabilidade partilhada entre a gestão do hospital, as equipas de saúde e o próprio idoso. Alguns estudos confirmam o desenvolvimento do DF e do descondicionamento de idosos no período de internamento, e observa-se associação entre o comprometimento funcional e o aumento do número de dias de hospitalização (2), justificado pelo repouso prolongado no leito durante o internamento (3). O DF inclui mudanças na autonomia funcional e na mobilidade, e nele se identificam as complicações que os idosos podem de- senvolver durante a hospitalização (4). Os riscos do repouso no leito estão estabelecidos e podem incluir a imobilidade prolon- gada, a perda de tecido ósseo, a desidratação, a má nutrição, o delirium, a privação sensorial, o isolamento, a lesão por pres- são e a incontinência (5-6). A evidência atual tem identificado alguns fatores de risco con- correntes para o DF relacionados com a hospitalização: fatores demográficos, estado cognitivo e psicológico, estado funcional antes da hospitalização, fatores sociais, comorbilidade e polime- dicação, mobilidade, estado nutricional, défices sensoriais e sín- dromes geriátricas (7). Num estudo realizado em contexto hospitalar, os autores (8) reportaram que 65 % dos pacientes idosos admitidos apresenta- vam sinais de descondicionamento após dois dias de internamento. Entre o segundo dia de internação e a alta clínica, 67 % deles não conseguiam melhorar, e em mais de 10 % das situações oco- rreram agravamento da situação. Noutro estudo, realizado num centro hospitalar universitário, em unidades de internamento de medicina, com uma amostra de 118 idosos, verificou-se que, por meio da avaliação da frequência de deambulação no corredor, a falta de atividade durante o período de internamento contribuía para o descondicionamento e o DF (9). O DF pode também colocar em risco a segurança do doente. Falamos de quedas, que são consideradas os eventos adversos mais frequentes nos hospitais, normalmente, um fenómeno mul- tifatorial que congrega causas individuais e/ou ambientais, com consequências significativas do ponto de vista físico, psicológico e social (10). O medo de cair pode também contribuir para limitar a atividade física e a mobilidade durante o internamento, o que resulta em DF (11). Outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento desse fenómeno, reconhecendo-se que a hospitalização, mais do que a própria doença, pode ser a causa provável do declínio que se verifica (12). O ambiente e a cultura organizacional hospitalar, assim como a formação dos seus profissionais, os seus valores culturais e as representações sociais que estes têm da pessoa idosa podem também interferir em todo o processo de transição doença-saúde do idoso. Assim, o processo de intervenção tera- pêutica holística, a segurança do idoso e a qualidade geral dos cuidados prestados serão afetados (13). Embora exista uma conceção global na reabilitação para os cuidados de enfermagem no qual os enfermeiros se envolvem ati- vamente nas diversas atividades respeitantes à promoção ao au- tocuidado estimulando e incentivando a participação do utente em tais atividades, muitas vezes ocorre uma tendência para que os enfermeiros substituam os doentes, em vez de os ajudar na con- cretização de determinadas atividades (por exemplo, facultam um urinol em vez de o ajudar a ir até o vaso sanitário; o banho é dado no leito em vez de ajudar o doente a deslocar-se ao chuveiro) (14). Ou seja, nem sempre o ambiente e a prestação de cuidados se rea- lizam de forma que a independência funcional seja maximizada (2). 429 Tradução e adaptação transcultural do Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para a língua portuguesa (Brasil e Portugal) l Arménio Cruz e outros Alguns autores referem também que pode existir alguma associação entre o DF e a falta de consciencialização e/ou de conhecimentos que os profissionais de saúde têm dos referidos fatores de risco, e/ou de os poder prevenir ou minimizar (15-16). Esse problema com características iatrogénicas levanta ques- tões éticas em todo o processo de transição doença-saúde e na qualidade dos cuidados prestados a esse grupo de doentes, que deve preocupar cada vez mais os responsáveis pela área da for- mação e da prática clínica dos enfermeiros, na implementação de estratégias e medidas que permitam a mudança dessa realidade. Nos últimos anos, tem havido maior preocupação com a execução de cuidados de enfermagem individualizados e holísticos, assente no aumento das competências dos enfermeiros perante exigên- cias e responsabilidades profissionais cada vez maiores (17-18). É nesse contexto que alguns autores (13, 19) assinalam o impac- to dos benefícios desse novo paradigma de cuidados na gestão hospitalar, nos enfermeiros ou nos próprios idosos hospitalizados, avaliado por meio de um processo de análise das perceções dos enfermeiros sobre as suas responsabilidades profissionais, con- juntamente com a avaliação das necessidades funcionais de seus pacientes idosos. Embora seja um fenómeno reconhecido e multi- fatorial, existe necessidade de clarificação acerca da perceção e do conhecimento que os enfermeiros têm dos fatores que contri- buem para o DF e das suas implicações. As necessidades do idoso hospitalizado em termos de mobilida- de tornam-se por isso fulcrais; em muitos aspectos, relacionam-se com a habilidade e a capacitação necessárias para manter auto- nomia na realização dos autocuidados, prevenindo complicações e promovendo a saúde nos seus componentes físico, mental e social, e a qualidade de vida. Apesar das evidências existentes, é nesse enquadramento que se torna importante e pertinente conhecer a perceção que os enfermeiros têm dos fatores que contribuem para o aumento do DF observado em idosos hospitalizados, nomeadamente sobre as suas necessidades funcionais, pelo que colocamos as seguintes questões: os enfermeiros estão conscientizados de que os ido- sos apresentam características únicas e necessidades que são diferentes de outros pacientes? Os enfermeiros estão conscienti- zados e têm conhecimento dos múltiplos fatores que contribuem para o DF observado no internamento agudo de idosos ou das suas implicações? O Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) de- senvolvido por Kimberling (20) avalia a perceção dos profissio- nais de enfermagem sobre as necessidades específicas de seus doentes idosos, especificamente, a manutenção de sua capacida- de funcional e da qualidade de vida no que respeita aos fatores que podem interferir nas necessidades funcionais individuais dos idosos (65 anos ou mais) no contexto diário da prestação de cui- dados de enfermagem. A versão original do Henas (20) apresenta uma parte inicial de orientações gerais, constituindo-se por um total de 21 itens, de- monstrada sob a forma de escala de Likert de 5 pontos (1 — discordo completamente; 2 — discordo; 3 — não concordo nem discordo; 4 — concordo; 5 — concordo completamente). Das 21 afirmações, 7 relacionam-se com uma dimensão fisiológica das atividades da vida diária (AVDs) e cuidados de enfermagem (A, B, C, E, F, K, P), 11 afirmações estão relacionadas com a dimensão psicológica/psi- cossocial dos pacientes idosos (G, H, I, J, M, N, O, Q, R, S, T) e três relacionam-se com a dimensão ambiente hospitalar (D, L, U). 10 dos 21 itens constituem-se sob a forma de afirmações positivas (A, G, H, I, J, M, N, Q, R, S), enquanto 11 são proposições na sua forma negativa (B, C, D, E, F, K, L, O, P, T, U). A versão original do Henas passou por um processo de vali- dação e confiabilidade por meio de estudo de campo, que incluiu validade de conteúdo, de constructo, de critério e análise fatorial. A validade de conteúdo foi realizada por meio de um processo de revisão da literatura que suportou os fatores a medir como re- presentativos da manutenção da capacidade funcional de idosos hospitalizados. Obteve-se também o contributo de diversos peri- tos nas diferentes áreas (enfermeiros, terapeutas, gestores) que analisaram e comentaram cada questão, bem como avaliaram a sua adequação ao conteúdo para medir cada fator. Quanto à va- lidade de constructo, foi realizada por avaliação da forma como cada fator contribuiu para o constructo geral da capacidade fun- cional de idosos hospitalizados. A validade de critério foi alcançada durante o teste de campo em que foi dada maior credibilidade aos participantes da área da saúde do que aos que não estavam familiarizados com aquela área (20). A cotação global do Henas realiza-se pela soma das pon- tuações dos itens. Escores mais altos refletem maior compreensão das questões que contribuem para a manutenção das necessida- des funcionais dos pacientes idosos hospitalizados. 430 AÑO 17 - VOL. 17 Nº 1 - CHÍA, COLOMBIA - MARZO 2017 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 O Henas inclui ainda questões sobre dados demográficos ge- rais, como idade, sexo, raça/etnia, anos de profissão de enfer- magem, anos em situação atual, horas trabalhadas por semana e tipo de unidade de trabalho, ou seja, médico-cirúrgico, reabili- tação, terapia intensiva ou outros para descrever os participantes da pesquisa. A autora do Henas (20) reconhece que uma amostra maior poderia melhorar a confiabilidade e a validade da escala. No en- tanto, concluiu que pode ser um excelente instrumento de ensino para sensibilizar os estudantes de enfermagem antes da gra- duação e da prática clínica, e ser usado para identificar as neces- sidades funcionais de pacientes hospitalizados. Nesse sentido, e integrado num estudo mais amplo sobre o DF em idosos hospitalizados, desenvolveu-se o presente estudo com o objetivo de realizar a tradução e a adaptação transcultural para a língua portuguesa, do Brasil e de Portugal, do Henas. A necessidade de utilização de uma versão transcultural ade- quada do Henas para enfermeiros, a inexistência de estudos que avaliem a sua validade cultural em amostras brasileiras e por- tuguesas, o acordo ortográfico entre os países de língua oficial portuguesa e o interesse na realização de investigações futuras comparativas justificam a realização deste estudo. Metodologia O presente estudo é de natureza quantitativa, de corte transver- sal tipo metodológico e visa à tradução e à adaptação transcultural do Henas (20) para a língua portuguesa do Brasil e de Portugal. A qualidade da tradução do instrumento é essencial para ga- rantir que os resultados obtidos em investigação entre diferentes culturas não sejam comprometidos por inadequação da lingua- gem. No entanto, não existe consenso sobre o melhor procedi- mento a adotar, sendo possível encontrar na literatura formas diversas de conduzir a tradução e a adaptação transcultural de instrumentos de pesquisa. A utilização de instrumentos em populações de outros paí- ses e culturas necessita de um conjunto de requisitos que têm de ser respeitados, passando por uma avaliação rigorosa da sua tradução e adaptação cultural, além de uma avaliação das pro- priedades de medida. Com relação à adaptação ao português, o Henas foi traduzido para o português de Portugal por meio de um processo bem conhecido e estabelecido no âmbito internacional (21), que compreende cinco estágios: tradução inicial, síntese dessas traduções, retroversão, avaliação por um comité de peri- tos e teste de campo. Estágio I: tradução inicial Foi realizada uma tradução inicial por dois tradutores bilíngues (nativos da língua de origem), um deles com experiência clínica. As duas traduções foram comparadas, e identificadas as discre- pâncias que podiam refletir palavras ambíguas na língua original ou discrepâncias próprias da tradução. Cada um dos tradutores elaborou um relatório escrito da sua tradução (T1 e T2). Foram incluídos comentários, de forma a destacar frases ou incertezas, acompanhados duma análise racional para as escolhas finais. Estágio II: síntese das traduções A síntese de ambas as traduções foi efetuada após uma reu- nião de avaliação das traduções entre os tradutores iniciais, com a participação duma terceira pessoa, que atuou como mediador perante a existência de possíveis diferenças. Emitiu-se um docu- mento final detalhado, e todos os assuntos foram esclarecidos e resultaram de consensos entre os intervenientes. Estágio III: retroversão A retroversão dos questionários foi realizada por dois tradu- tores bilíngues (nativos para o idioma original), sem experiência clínica. A retroversão emerge como processo de validade pois permite certificar se a versão traduzida reflete exatamente o con- teúdo da versão original. Estágio IV: Comité de Especialistas ou Peritos O Comité de Especialistas ou Peritos foi crucial para con- seguir a equivalência do cruzamento cultural do instrumento traduzido e foi constituído por 10 indivíduos: 1 metodólogo, pro- fissionais de saúde (2 médicos e 3 enfermeiros) e 4 tradutores, que avaliaram os questionários e participaram no processo de consenso. Esse comité reviu todas as traduções e pronunciou-se sobre as discrepâncias encontradas. Além disso, emitiu um do- 431 Tradução e adaptação transcultural do Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para a língua portuguesa (Brasil e Portugal) l Arménio Cruz e outros cumento de consenso final, no qual se refletem todo o processo e todas as decisões tomadas. Para verificar a equivalência entre a versão inicial e a versão final, o comité de especialistas teve orientações por escrito sobre o objetivo do estudo e as definições adotadas sobre a equivalência semântica, a idiomática, a cultural e a conceitual, de forma a todos seguirem critérios claros sobre o julgamento das diversas versões. A versão em português do Brasil do Henas (Henas-br) emerge da adaptação da versão em português de Portugal da escala (Henas- -pt). Essa adaptação foi realizada de forma independente por dois peritos cuja língua materna é o português do Brasil; os desacor- dos foram resolvidos por discussão até ser obtido consenso. A equivalência conceitual das duas versões da escala foi avaliada por meio dos juízos de dois peritos e de comentários de outros investigadores cuja língua materna é o português do Brasil. Estágio V: teste da versão adaptada Na fase do pré-teste, buscou-se a melhor equivalência entre a versão original e a traduzida, de forma que pudesse ser avalia- da a compreensão pela população-alvo. Dessa forma, a versão pré-final da escala foi aplicada em 30 pessoas com lesão medu- lar traumática de maneira que fosse avaliado cada item quanto a clareza, pertinência e relevância. Vale ressaltar que todos os participantes estavam na fase crônica da lesão medular, ou seja, após os seis primeiros meses do evento traumático. A fim de avaliar a compreensão pela população-alvo, nomea- damente com relação a clareza, pertinência e relevância, realizou- se um teste com a versão pré-final (pré-teste), com aplicação da escala a 249 enfermeiros, 125 (50,2 %) de nacionalidade brasileira e 124 (49,8 %) de nacionalidade portuguesa, que frequentavam cursos de pós-graduação de enfermagem na Faculdade de En- fermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FEUERJ), Brasil, e na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Portugal, respectivamente, tendo como critérios de inclusão: os(as) enfermeiros(as) cuidarem ou terem cuidado recentemente de idosos internados em fase aguda em unidades hospitalares. Os dados foram recolhidos no período de julho a setembro de 2014 em contexto de sala de aula, após parecer positivo do Comité de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Pa- recer n.º 257.211/2014) e do parecer positivo da Comissão de Éti- ca da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde Enfermagem (264/03-2015) assim como autorização da diretora da FEUERJ. Os enfermeiros participaram voluntariamente após explicação pré- via do estudo e dos seus objetivos, expressando a aceitação da participação por meio da assinatura do Termo de Consentimen- to Livre e Esclarecido, tendo sido salvaguardado o anonimato e a confidencialidade das respostas, bem como o direito de desistir da pesquisa sem prejuízos. Foram registados o tempo de aplicação do instrumento e questões ou dúvidas colocadas durante o seu preenchimento. Resultados O processo de tradução e adaptação da versão original para o português de Portugal decorreu sem problemas na generalida- de, tendo surgido pequenas divergências entre os tradutores com relação a algumas expressões e palavras. Assim, nos estágios ini- ciais I e II, verificou-se divergência quanto à palavra awareness no título do instrumento e da expressão medical acuity do item K. Na versão T1, foi proposta consciência e acuidade médica e, na versão T2, perceção e gravidade resultante. Essa divergência foi ultrapassada, tendo sido decidido, após reunião, ficar perceção e gravidade resultante, respetivamente. No estágio III, os tradutores não relataram nenhuma palavra, frase ou expressão considerada problemática. No estágio IV, nas orientações iniciais do instrumento, o co- mité de peritos decidiu alterar a expressão 75 anos ou mais para 65 anos ou mais por considerar que a realidade portuguesa e brasileira, nomeadamente com relação à esperança de vida e aos conceitos de pessoa idosa, é diferente comparada com a do país de origem. Também foram sugeridas por um dos elementos, e aceites por todos os peritos, alterações na formatação e na apre- sentação final do instrumento, para facilitar a leitura dos itens por parte dos participantes e a colocação das respetivas respostas. Na avaliação de equivalências das versões realizadas pelo comité de peritos, nos casos de divergências encontradas, a opção foi manter a versão em que a maioria dos peritos avaliou como equivalente. Na fase de adaptação da versão em português de Portugal para português do Brasil, realizada de forma independente por dois peritos cuja língua materna é o português do Brasil, apenas 432 AÑO 17 - VOL. 17 Nº 1 - CHÍA, COLOMBIA - MARZO 2017 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 foi relatada alguma dificuldade na compreensão da palavra sa- nita, tendo sido sugerida e realizada a sua substituição por vaso sanitário no item C da versão portuguesa do Brasil. Participaram no último estágio, V, teste da versão adaptada (pré-teste), 249 enfermeiros que cuidam ou cuidaram de idosos hospitalizados em fase aguda, sendo 125 (50,2 %) de nacionalidade brasileira e 124 (49,8 %) de nacionalidade portuguesa. 206 enfer- meiros eram do sexo feminino, e a média de idades foi de 32,63 (DP=7,81), mínimo de 22 anos e máximo de 59 anos. A maioria dos participantes é composta por solteiros (n=132; 53,2 %), li- cenciados em enfermagem (n=136; 55,1 %), exercia funções em serviços de medicina (n=74; 30 %) e prestava cuidados diretos (n=202; 81,8 %). A média de tempo de profissão era de 8,77 anos (DP=7,83), com um mínimo de 1 ano e um máximo de 37 anos. A média de tempo no serviço atual era de 5,62 anos (DP=6,13), mínimo de 1 ano e máximo de 34 anos. O tempo médio de contato semanal com idosos era de 34,45 horas (DP=12,70), mínimo de 4 horas e máximo de 70 horas, tal como apresentado nas Tabelas 1 e 2. Tabela 1. Caracterização dos enfermeiros Brasil-Portugal: gênero, estado civil, habilitações acadêmicas e local de trabalho Variáveis N Brasil n (%) Portugal n (%) Brasil- Portugal n (%) Gênero 125 (50,2) 124 (49,8) 249 (100) Feminino 106 (42,6) 100 (40,2) 206 (82,7) Masculino 19 (7,6) 24 (9,6) 43 (17,3) Estado civil 125 (50,6) 122 (49,4) 247 (100) Solteiro(a) 79 (59,8) 53 (40,2) 132 (53,4) Casado(a) 39 (15,8) 61 (24,7) 100 (40,5) Viúvo(a) 3 (75,0) 1 (25,0) 4 (1,6) Divorciado(a)/separado(a) 4 (44,4) 5 (55,6) 9 (3,6) Outro 0(0) 2(100) 2 (0,8) Habilidades acadêmicas 123 (50,6) 122 (49,4) 247 (100) Bacharelato 92 (37,2) 1 (0,4) 93 (37,7) Licenciatura 22 (8,9) 114 (46,2) 136 (55,1) Pós-graduação 8 (3,2) 7 (2,8) 16 (6,0) Outra 3 (1,2) 0 (0,0) 3 (1,2) Local de trabalho 125 (50,6) 122 (49,4) 247 (100) Medicina 41 (16,6) 33 (13,4) 74 (30,0) Variáveis N Brasil n (%) Portugal n (%) Brasil- Portugal n (%) Cirurgia geral 13 (5,3) 11 (4,5) 24 (9,7) Pneumologia 3 (1,2) 2 (0,8) 5 (2,0) Cardiologia 10 (4,0) 4 (1,6) 14 (5,7) Neurologia 7 (2,8) 17 (6,9) 24 (9,7) Urologia 0 (0,0) 5 (2,0) 5 (2,0) Ortopedia/traumatologia 4 (1,6) 18 (7,3) 22 (8,9) Psiquiatria 3 (1,2) 4 (1,6) 7 (2,8) Cuidados intensivos 28 (11,3) 3 (1,2) 31 (12,6) Urgência 11 (4,5) 7 (2,8) 18 (7,3) Outro 5 (2,0) 18 (7,3) 23 (9,3) Função desempenhada 125 (50,6) 122 (49,4) 247 (100) Prestação de cuidados 97 (39,8) 105 (42,5) 202 (81,8) Gestão 2 (0,8) 6 (2,4) 8 (3,2) Ambas 26 (10,5) 11 (4,5) 37 (15,0) Fonte: elaboração própria. Tabela 2. Caracterização dos participantes Brasil-Portugal: idade, tempo de profissão, horas semanais de contacto com o idoso Variáveis N Brasil Portugal Brasil-Portugal Idade Média 35,45; DP=7,81; Min.= 24; Máx.= 59 Média 29,88; DP=6,75; Min.= 22; Máx.= 59 Média 32,63; DP= 7,81; Min.= 22; Máx.= 59 Tempo de profissão Média 4,7; DP= 5,54; Min.= 1; Máx.= 35 Média 12,84; DP= 7,62; Min.= 2; Máx.= 37 Média 8,77; DP= 7,83; Min.= 1; Máx.= 34 Tempo de serviço atual Média 3,29; DP= 4,36; Min.= 1; Máx.= 34 Média 7,95; DP= 6,72; Min. = 1; Máx. = 32 Média 5,72; DP= 6,13; Min. = 1; Máx. = 34 Horas semanais de contato com o idoso Média 33,5; DP= 15,48; Min. = 4; Máx. = 70 Média 35,5; DP= 8,27; Min.= 4; Máx.= 70 Média 34,45; DP= 12,70; Min.= 4; Máx.= 70 Fonte: elaboração própria. 433 Tradução e adaptação transcultural do Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para a língua portuguesa (Brasil e Portugal) l Arménio Cruz e outros Durante o preenchimento da versão adaptada do instrumen- to, os participantes (brasileiros e portugueses) não levantaram questões nem referiram dificuldades de compreensão e interpre- tação, e o tempo médio de preenchimento foi de 20 minutos. O escore médio global do Henas foi de 3,79 (DP=0,323), com um mínimo de 2,47 e um máximo de 4,67. O escore médio global do Henas-pt foi de 3,77 (DP= 0,307), com um mínimo de 2,81 e um máximo de 4,57, enquanto o escore médio global do Henas-br foi de 3,82 (DP=0,338), com um mínimo de 3,00 e um máximo de 4,67. Apresentam-se, na Tabela 3, a média, o desvio-padrão, o mínimo e o máximo obtidos nos itens da escala Henas para os dois países. Tabela 3. Estatística descritiva dos itens da escala Henas global (Brasil-Portugal) N Mín. Máx. Média Desvio- padrão A. Os doentes idosos devem caminhar várias vezes ao dia, quer queiram, quer não. 246 1 5 2,47 ,955 B. É aceitável que os doentes idosos possam comer as suas refeições na cama. 246 1 5 2,65 1,048 C. Usar a cadeira higiênica é a mesma coisa que usar o vaso sanitário no banheiro. 246 1 5 4,09 ,81 D. É mais importante manter os meus doentes seguros do que promover a sua independência. 246 1 5 3,65 1,05 E. Os doentes idosos devem poder ficar na cama se assim o pretenderem. 246 1 5 3,34 1,00 F. Os doentes idosos merecem toda a ajuda que lhes consiga dar nas atividades da vida diária. 246 1 5 2,12 1,11 G. Preciso entender o estado psicológico dos meus doentes idosos para prestar cuidados eficazes. 246 1 5 4,57 ,70 H. Tenho que saber qual o nível de clareza mental dos meus doentes idosos para prestar cuidados eficazes. 246 1 5 4,42 ,838 I. Ter consciência das diferenças geracionais com relação aos meus doentes idosos contribui para a forma como interajo com eles. 246 1 5 4,31 ,74 J. Os doentes idosos devem pôr em prática as suas próprias competências para as atividades da vida diária da melhor forma que conseguirem. 246 1 5 4,46 ,69 N Mín. Máx. Média Desvio- padrão K. A gravidade resultante das doenças dos meus doentes idosos impede-me de prestar cuidados personalizados. 246 1 5 3,96 ,97 L. Os ruídos hospitalares são inevitáveis, e os meus idosos têm de aprender a tolerá-los. 246 1 5 3,99 ,89 M. Os doentes idosos cognitivamente conscientes são capazes de tomar as suas próprias decisões com relação aos seus cuidados e tratamento. 246 1 5 3,78 ,96 N. É muito importante para mim saber quais as condições de vida e os sistemas de apoio social pré-hospitalares dos meus doentes idosos. 246 2 5 4,45 ,676 O. As necessidades dos meus doentes idosos não são diferentes das necessidades dos meus doentes mais jovens. 246 1 5 4,00 1,04 P. Os meus doentes idosos irão sofrer um declínio funcional no hospital independentemente da minha diligência em satisfazer as suas necessidades. 246 1 5 3,41 1,13 Q. Manter a qualidade de vida dos meus doentes idosos é tão importante como manter a qualidade de vida dos meus doentes mais jovens. 246 1 5 4,45 ,79 R. As necessidades individuais dos meus doentes idosos estão entre as minhas maiores prioridades. 246 1 5 3,91 ,836 S. Faz parte das minhas funções defender os meus doentes idosos. 246 2 5 4,19 ,77 T. Os doentes idosos não necessitam de apoios adicionais para se adaptarem a estar no hospital visto que muitos já estiveram hospitalizados anteriormente. 245 1 5 4,28 ,87 U. É difícil dar privacidade aos doentes idosos num ambiente hospitalar. 245 1 5 3,25 1,21 Fonte: elaboração própria. Com relação às dimensões definidas na versão original, a saber: fisiológica, psicológica/social e ambiente hospitalar, ob- servamos que, tal como apresentado na Tabela 4, os valores são muito aproximados entre os participantes de Portugal e do Brasil. A dimensão psicológica/social apresenta valores médios mais elevados, e a dimensão fisiológica, os valores médios mais baixos. 434 AÑO 17 - VOL. 17 Nº 1 - CHÍA, COLOMBIA - MARZO 2017 AQUICHAN - ISSN 1657-5997 - eISSN 2027-5374 Tabela 4. Valores médios das dimensões fisiológica, psicológica/social e ambiente hospitalar Fonte: elaboração própria. Os dados deste estudo sugerem que os participantes tenham globalmente uma perceção elevada dos fatores que beneficiam a capacidade dos pacientes idosos a manterem a sua capacidade funcional, com um escore global médio de 3,79 (DP=0,32), valo- res similares ao da versão original, com um escore global médio de 3,96 (DP=0,30). Quanto às dimensões definidas na versão ori- ginal, os resultados sugerem que os participantes tenham uma perceção mais elevada a respeito da dimensão psicológica/social e mais baixa com relação à dimensão fisiológica. Discussão O DF dos idosos hospitalizados em fase aguda é uma rea- lidade da maioria dos serviços de internamento hospitalar. As necessidades do idoso hospitalizado em termos de mobilidade tornam-se fulcrais em muitos aspetos relacionados com as ha- bilidades e a capacitação necessárias para manter autonomia na realização dos autocuidados e, entre outras complicações, preve- nir o DF (3, 8). Com este estudo, pretendeu-se traduzir e adaptar cultural- mente o Henas (20) para a língua portuguesa do Brasil e a de Por- tugal, escala que avalia as perceções dos enfermeiros sobre os fatores que podem interferir com as necessidades funcionais in- dividuais dos doentes idosos (65 anos ou mais) no contexto diário da prestação de cuidados de enfermagem em ambiente hospitalar. A avaliação da equivalência conceitual, semântica e idiomáti- ca revelou-se importante, dada a especificidade de alguns termos e sua significação em cada cultura e língua mãe, muitas vezes alicerçada num simbolismo idiomático cujo significado é de difícil tradução. Daí a necessidade do processo de validação, com tra- duções e retroversões independentes e idôneas, e a participação multidisciplinar de revisores, que se tornaram fulcrais para ga- rantir a sua equivalência. Dimensões Henas global Henas-pt Henas-br Fisiológica 3,15 3,23 3,07 Psicológica/social 4,25 4,27 4,24 Ambiente hospitalar 3,63 3,56 3,7 A impressão inicial dos enfermeiros brasileiros e portugueses após a aplicação do questionário foi de que o instrumento é de fácil compreensão. A versão para a língua portuguesa do Henas (20) apresenta- se adequada, tendo em vista a equivalência obtida e ajuizada pelo painel de peritos acerca do processo de tradução e retrotradução, bem como de avaliação de consensos. Vale ressaltar que o processo de tradução e a adaptação transcultural de instrumentos de pesquisa exigem menos tempo e gastos do que a criação de novos instrumentos, além de permitir comparações de resultados em diversas populações, o que carac- teriza um avanço científico importante para o desenvolvimento do conhecimento sobre determinado conceito (21). Gostaríamos de salientar que, à data de publicação deste re- latório, o Henas-pt e o Henas-br não se encontram aferidos para as respetivas populações. Tal significa que o resultado ou escore obtido nessa escala não tem um significado absoluto e não é pas- sível de interpretação clínica ou outras aplicações práticas. Nesse sentido, o Henas-pt e o Henas-br apenas podem ser utilizados responsavelmente para fins de investigação, com as devidas pre- cauções éticas que o seu estatuto implica. A versão em português (do Brasil e de Portugal) do Henas poderá constituir um estímulo ao desenvolvimento de novos estu- dos e uma mais-valia para o estudo do DF de idosos hospitalizados, e também para a prática clínica e a qualidade dos cuidados de enfermagem. Concluindo, o Henas pretende ser um instrumento para ava- liar a perceção/consciência dos enfermeiros sobre os multifa- tores que contribuem para o DF de idosos hospitalizados e das suas implicações, e pode constituir-se um ponto de partida para o despertar de consciências, ajudando os enfermeiros a refletirem sobre a sua intervenção a esse grupo de doentes cada vez mais numeroso; simultaneamente, contribuirá para sensibilizar os dife- rentes profissionais para a especificidade dos cuidados ao idoso hospitalizado. O processo de tradução e adaptação cultural do Henas para a língua portuguesa do Brasil e de Portugal seguiu as etapas reco- mendadas internacionalmente e foi realizado com sucesso. 435 Tradução e adaptação transcultural do Hospitalized Elderly Needs Awareness Scale (Henas) para a língua portuguesa (Brasil e Portugal) l Arménio Cruz e outros Assim, o Henas teve as suas dimensões mais bem explo- radas, tendo passado por rigoroso processo de tradução e adaptação do conteúdo ao contexto português e ao brasileiro. Conforme recomendado pela literatura, o instrumento deve passar, ainda, por outras etapas de validação, nomeadamente validação de conteúdo, consistência interna e estabilidade tem- poral, a fim de encontrar-se disponível para avaliar as perceções dos enfermeiros sobre os fatores que podem interferir com as necessidades funcionais dos doentes idosos hospitalizados em contexto agudo de cuidados. Novas pesquisas nesta área precisam ser feitas para verificar outras propriedades do instrumento e sua aplicabilidade em po- pulações com características diferentes. Agradecimentos Os autores expressam os seus agradecimentos aos enfermei- ros participantes na investigação e às instituições que facilitaram a sua realização, a FEUERJ e a ESEnfC. Isenção de responsabilidade Os autores declaram que não há conflito de interesses no pre- sente artigo. O estudo teve apoio financeiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (Portugal). A tradução e a adaptação do Henas para a língua portuguesa foi autorizada pela sua autora (20). Referências 1. Carvalhais M & Sousa L. Promover a qualidade de cuidados de enfermagem a pessoas idosas hospitalizadas. Rev. Enf. Ref. 2011; III Série(3): 75-84. 2. Hanna A, Efrat S, Hagar B & Anna Z. From Research to Reality: Minimizing the Effects of Hospitalization on Older Adults. 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