Microsoft Word - 23-Agra_13932.doc 1616 Original Article Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 USO DE Trichoderma harzianum E CONDICIONADOR ORGÂNICO DE SOLO PARA CONTROLE DA PODRIDÃO POR Sclerotium rolfsii EM ALHO USE OF Trichoderma harzianum and PEAT BASED SOIL AMENDMENT TO CONTROL GARLIC ROT CAUSED BY Sclerotium rolfsii Thiago Gomes de SOUSA1; Luiz Eduardo Bassay BLUM2 1. Mestre em Agronomia pelo programa de pós-graduação da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília – UnB, Brasília, DF, Brasil. tgsousa@agronomo.eng.br; 2. Professor Associado, UnB, Brasília, DF, Brasil. RESUMO: Sclerotium rolfsii é um agressivo patógeno de várias culturas, entre elas o alho (Allium sativum). Uma alternativa de controle da doença é o uso de agentes biológicos. Neste estudo, foi avaliada a eficiência de Trichoderma harzianum comercial em relação a fungicidas (procimidona e tiofanato metílico) por teste de germinação de esclerócios em solo em laboratório e teste in vivo em casa de vegetação. Os testes foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado e em blocos ao acaso, no laboratório e em casa de vegetação, respectivamente. Para avaliar o efeito a germinação de esclerócios, foram aplicados: T. harzianum, condicionador de solo + T. harzianum, condicionador de solo, procimidona e testemunha (água esterilizada). Nos experimentos in vivo foram aplicados seguintes tratamentos: T. harzianum, condicionador de solo + T. harzianum, condicionador de solo, procimidona, tifanato metílico e testemunha (água esterilizada), e foram avaliados: % de plantas infectadas, massa seca de raízes, massa seca da parte aérea, número de esclerócios capturados. Trichoderma harzianum e condicionante de solo + T. harzianum reduziram a % de germinação de esclerócios. No teste in vivo foi observado: (a) menor % de plantas infectadas, (b) aumento de massa seca de raiz e parte aérea em relação à testemunha com patógeno, e; (c) menor número de esclerócios capturados nos tratamentos com T. harzianum. Os tratamentos com fungicidas e somente com condicionador de solo não reduziram o número de plantas infectadas e esclerócios capturados. PALAVRAS-CHAVE: Allium sativum. Athelia rolfsii. Controle biológico. INTRODUÇÃO O alho (Allium sativum L.) é uma das espécies cultivadas mais antigas. No Brasil, é uma das hortaliças mais consumida juntamente com a batata (Solanum tuberosum spp. tuberosum), cebola (Allium cepa), tomate (Lycopersicon esculentum) e cenoura (Daucus carota). Rico em amido e substâncias aromáticas, o bulbo é composto por bulbilhos os quais, são a parte mais utilizável, devido seus valores nutricionais, medicinais e condimentares (FILGUEIRA, 2008). Nos anos de 2008 e 2009, a população brasileira consumiu cerca de 21,5 milhões de caixas (10 kg por caixa) de alho in natura, e 22,3 milhões de caixas, respectivamente. Chegando a um consumo per capita de 1,1kg/ ano (LUCINI, 2008, 2009). Sclerotium rolfsii é patógeno de mais 500 espécies de plantas, dicotiledôneas e monocotiledôneas, encontradas em 100 famílias suscetíveis. Há relatos de 30% (MONTES- BELMONT et al., 2003) a 70% (MULLEN, 2001) perdas, nas mais diversas plantas, provocadas pelo patógeno. O patógeno é encontrado com mais frequência em regiões de clima tropical e subtropical. e alho as lesões iniciais são encharcadas, seguindo podridão e murcha das folhas, o fungo produz abundante micélio branco nos tecidos infectados. Neste micélio são produzidos esclerócios de coloração branca que evoluem para uma coloração marrom-escura (PUNJA; RAHE, 1992; FERREIRA; BOLEY, 2006; FLORES-MOCTEZUMA et al., 2006; KWON, 2010). O controle do patógeno é de difícil realização, não sendo eficiente por meio de uma única prática cultural ou química, como uso de fungicidas ou a rotação de cultural com plantas resistentes (SAHNI et al., 2008). Desta forma, o objetivo do estudo foi avaliar o efeito de produto comercial a base de Trichoderma harzianum e fungicidas no controle da podridão causada por Sclerotium rolfsii em plantas de alho. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no Laboratório de Micologia do Departamento de Fitopatologia da Universidade de Brasília (experimento “de germinação de esclerócios”, gerbox) e em casa de vegetação na Estação Experimental da Universidade de Brasília (experimento “in vivo”). Received: 10/12/12 Accepted: 31/08/13 1617 Uso de Trichoderma harzianum ... SOUSA, T. G.; BLUM, L. E. B. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 Obtenção dos isolados Os isolados de Sclerotium rolfsii (UB 193 e UB 686) foram obtidos na coleção de micologia da Universidade de Brasília. Cada isolado foi usado nos experimentos in vitro e in vivo. Antes da realização dos experimentos, os esclerócios foram inoculados em bulbilhos de alho e colocados em câmaras úmidas constituídas de gerbox com papel toalha umedecido no fundo e com lâminas de vidro para evitar o contato dos bulbilhos com o papel toalha umedecido (12h de luz, 23 ± 3ºC). Os esclerócios produzidos foram recuperados e colocados em placas de Petri com meio de cultura (BDA). Logo após as placas foram colocados em câmara de incubação (luz por 12h a 24 ± 1ºC) por 15 dias. Posteriormente, os esclerócios produzidos foram coletados e armazenados em placas de Petri até o uso. Os produtos usados à base de Trichoderma foram os seguintes: Trichoderma harzianum (Trichodermil SC, 2.109esporos.ml-1, suspensão concentrada) e condicionante de solo adicionado de T. harzianum (Ribumin T5, concentração estimada de 2.105esporos.g-1,). Análise de solo O solo utilizado nos experimentos foi um latossolo vermelho com as seguintes características químicas e físicas: pH =5,2 , P = mg.dm-3 = 0,5 ppm, K = cmolc.dm-3 = 0,13 mE.100mL-1, Ca = cmolc.dm-3 = 0,6 mE.100mL-1, Mg = cmolc.dm-3 = 0,1 mE.100mL-1, Al = cmolc.dm-3 = 0,0 mE.100mL- 1, V =20% , matéria orgânica = 17,7 g/kg, areia = 250g/kg, silte = 200 g/kg, e argila = 550 g/kg. Para os experimentos de germinação de esclerócios e in vivo o solo foi esterilizado por 1 hora, a 1 atm, a 121°C antes de ser utilizado. Teste de germinação de esclerócios Os experimentos foram conduzidos em caixas plásticas (gerbox) sob luz de 12h a 26ºC (25º - 27ºC). Em cada gerbox colocou-se 200g de solo, o solo foi umidecido com 75ml de água destilada esterilizada. Sobre a superfície do solo em cada caixa foram colocados 25 esclerócios. Sobre cada esclerócio foram aplicados os seguintes tratamentos: 100µ l Trichoderma harzianum (Trichodermil SC, 106 conídios.ml-1), 100µ l de procimidona (Sumilex, 150g.100l-1 de água), 10 mg de condicionador de solo (Ribumin, 1000kg.ha-1), 10 mg de condicionador de solo + T. harzianum (Ribumin T5, 1000kg.ha-1), na testemunha foram adicionados 100µ l por esclerócio de água esterilizada. O número de esclerócios germinados e não germinados foi avaliado diariamente. Nos tratamentos que continham agentes biológicos de controle foi considerado não germinado o esclerócio totalmente coberto pelo biocontrolador (CLARKSON et al., 2002). Os experimentos (UB193 e UB 686) foram montados em um delineamento inteiramente casualizado com 5 repetições. Teste in vivo Foram plantados dois bulbilhos por vaso (10 vasos por tratamento) em cada experimento (UB193 e UB686), 15 dias após o plantio foram depositados dois esclerócios por planta e sobre eles foram aplicados os tratamentos 100µl de água, 100µ l de procimidona (Sumilex, 150 g.100l-1), 100µ l de tiofanato metílico (Support, 100ml.100l-1), 100µ l de Trichoderma harzianum (Trichodermil SC, 2.106 conídios.ml-1), 10mg de condicionador de solo (Ribumin, 1000 kg.ha-1), 10 mg de condicionador de Solo + Trichoderma harzianum (Ribumin T5,1000 kg.ha-1). Após a aplicação os vasos foram cobertos com sacos plásticos por 24h, segunda a metodologia modificada de Blum et al. (2003). Utilizaram-se vasos plásticos pretos (1,7 kg de solo) com solo esterilizado, fertilizado de acordo com a análise de solo e recomendações da EMBRAPA (SOBRINHO et al., 1993) para a cultura (500 kg.ha-1 de superfosfato simples, 102 kg.ha-1 de cloreto de potássio, 15 kg.ha-1 de bórax, 50 kg.ha-1 de sulfato de zinco, 200 kg.ha-1 de sulfato de magnésio e 198 kg.ha-1 de uréia dividida em 2 aplicações, sendo metade no plantio e metade aos 45 dias após plantio) e com pH corrigido para 6,5 (2,237 t.ha-1). As plantas foram cortadas a 1 cm do solo, as partes aéreas foram retiradas e solo de cada vaso foi depositado em um recipiente com 5 litros de água. A parte radicular foi retirada e lavada na torneira, em seguida foi acondicionada em sacos de papel, a parte aérea foi acondicionada do mesmo modo. Todos os sacos com as partes das plantas foram colocados em estufa com ventilação forçada a 65°C para posterior determinação do peso de matéria seca, as partes radiculares foram retiradas após 48h, as partes aéreas após 72h e todos foram pesados, segundo método Tosi et al. (1999).O solo em cada recipiente foi misturado manualmente por 1 min e os esclerócios do sobrenadante foram coletados com um peneira (0,6 mm). A operação de mistura e coleta do sobrenadante foi repetida 3 vezes em cada vaso, segundo a método modificado de Rodriguez- Kabana et al. (1974). Análise estatística 1618 Uso de Trichoderma harzianum ... SOUSA, T. G.; BLUM, L. E. B. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 Os dados foram submetidos à análise de variância (F≤0,05) e após comprovação da significância as médias foram comparadas pelo teste de Fisher (P≤0,05). Para a análise da percentagem de esclerócios germinados e do percentual de plantas de alho infectada com podridão por Sclerotium rolfsii, os dados originais foram transformados em arcsen √(X/100). Para a análise do número de esclerócios os dados foram transformados em √(X). Foi utilizado o software (SigmaStat 3.5) para processamento das análises estatísticas. RESULTADOS E DISCUSSÃO O tratamento somente com T. harzianum apresentou a maior redução no percentual de germinação dos esclerócios, com um alto percentual de parasitismo (93,6% no isolado UB686 e 51,6% no isolado UB193), no 15º dia após o tratamento (Tabela 1). Tabela 1. Percentagem de germinação (G) e percentual de parasitismo (P) dos esclerócios no 15º dia após aplicação de tratamentos. Brasília/DF, 2010. UB 686* UB 193 Tratamento G (%) P (%) G (%) P (%) T. harzianum 6,4 a** 93,6 38,4 a 51,6 Condicionador de solo + T. harzianum 36 b 64 80,8 b 19,2 Procimidona 68,8 c 31,2 98,4 c 1,6 Condicionador de solo 100 d 0,0 100 c 0,0 Controle – água esterilizada 100 d 0,0 100 c 0,0 CV (%) 7,0 6,8 IV(%) 3,1 3,0 DMS 0,1 0,1 *Teste I – inoculação em 6/4/2010 com S. rolfsii UB686; Teste II – inoculação em 23/4/2010 com S. rolfsii UB193. **Letras representando os valores significativamente diferentes em coluna, dados originais foram transformados para Arcsen √(%germinação/100), analisados pelo Teste de Fisher (P≤0,05). Os tratamentos com T. harzianum diferiram significativamente da testemunha (esclerócios tratados apenas com água). O condicionador de solo+T. harzianum apresentou uma menor formação de novos esclerócios (dados não apresentados), já os tratamentos com procimidona e somente com o condicionador de solo estimularam o crescimento de forma radial das hifas. Madi et al. (1997) relatam que o alto percentual de parasitismo de S. rolfsii por Talaromyces flavus teve uma relação com a degradação da melanina e a redução da produção de novos esclerócios. Henis et al. (1983) afirmaram que para definir a eficiência dos biocontroladores, o parasitismo deveria ser considerado o mecanismo mais importante. O condicionador de solo quando aplicado de forma separada estimulou a germinação dos esclerócios, porém o mesmo aplicado com T. harzianum reduziu a germinação dos esclerócios no 15º dia após o tratamento, e reduziu o número de plantas infectadas e o número de esclerócios (teste in vivo). Segundo relatos de Bettiol et al. (1997) substratos enriquecidos com turfa apresentaram uma maior severidade da doença e percentagem de tombamento causada por Pythium ultimum em pepino. Os dados observados nos testes “in vivo” reforçam em parte os resultados apresentados nos experimentos de germinação de esclerócios, onde houve um controle mais eficaz do patógeno (UB 686) no tratamento com T. harzianum e um maior desenvolvimento do S. rolfsii nos tratamentos com fungicidas e condicionador de solo. Os resultados apresentados na Tabela 2 mostram menor percentual de plantas infectadas no tratamento com condicionador de solo + T. harzianum. Os tratamentos com T. harzianum apresentaram um maior redução no número de plantas infectadas, eles não diferiram entre si, porém diferiram significativamente da testemunha com patógeno (UB 193). Wells et al. (1972) relataram em amendoim e tomate o controle do S. rolfsii por T. harzianum, chegando a 100% de plantas saudáveis. Segundo Menezes et al. (2004) com condições de solo adequadas (pH, textura e umidade) e inexistência de fatores bióticos desfavoráveis, os biocontroladores têm a capacidade de crescer e se multiplicar na rizosfera, controlando o patógeno, antes mesmo deste penetrar no hospedeiro. 1619 Uso de Trichoderma harzianum ... SOUSA, T. G.; BLUM, L. E. B. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 Tabela 2. Percentual de plantas de alho infectada com podridão por Sclerotium rolfsii ao final do ciclo da cultura. Brasília/DF, 2010. Tratamento UB 193* UB 686 Testemunha (sem patógeno) 0a 0a Condicionador de solo + T. harzianum (Ribumin T5) 40 b 20 a T. harzianum (Trichodermil SC) 70 bc 30 a iofanato metílico (Support) 70 bc 60 bc Procimidona (Sumilex) 80 c 60 bc Condicionador de solo (Ribumin) 80 c 80 c Controle com água em solo com S. rolfsii 90 c 60 bc CV (%) 33,2 32,7 IV(%) 14,8 14,6 DMS 0,6 0,8 *Isolados de Sclerotium rolfsii utilizados. Letras que indicam a diferença de significância estatística na coluna. Percentual de plantas infectadas, dados originais foram transformados para Arcsen √(%germinação/100) e analisados pelo Teste Fisher (P≤0,05). Assim como nos testes de germinação de esclerócios os tratamentos com T. harzianum apresentaram os melhores resultados, promovendo aumento significativo do ganho de massa seca de raiz e parte aérea, e a diminuição do número de esclerócios capturados por quilo de solo, quando comparados com a testemunha com patógeno (Tabela 3). Os tratamentos com fungicidas e o somente com condicionador de solo não diferiram da testemunha com patógeno em todas as variáveis avaliadas. Conforme mostrado nas Tabelas 2 e 3 o emprego do condicionador de solo + T. harzianum proporcionou uma redução no percentual de plantas infectadas e no número de esclerócios capturas por quilo de solo. O tratamento somente com Trichoderma apresentou resultado semelhante aos citados acima somente no segundo experimento. Tabela 3. Massa seca de raiz (MSR), ganho percentual de massa seca de raiz em relação à testemunha com patógeno (GR), ganho percentual da massa seca da parte aérea em relação á testemunha com patógeno (GPA), massa seca da parte aérea (MSPA) e número de esclerócios capturados (EC) do solo ao final do ciclo do alho. Brasília/DF, 2010. Tratamento/ Isolado UB 193¹ MSR (g) GR (%) MSPA (g) GPA (%) EC Testemunha (sem patógeno) 4,6 abc 16,9 ab 7,3 ns 10,0 ns 0,0 a T. harzianum 5,5 a² 37,3 a 7,6 ns 15,0 ns 46,8³c4 Condicionador de solo+T. harzianum 5,0 ab 26,4 a 7,5 ns 13,1 ns 16,8 b Procimidona 3,8 d -10,3 b 6,6 ns -0,8 ns 50,5 c Tiofanato metílico 4,3 bc 9,7 ab 6,8 ns 3,3 ns 55,9 c Condicionador de solo 4,4 bc 9,8 ab 6,9 ns 3,1 ns 47,7 c Controle água esterilizada 4,1bcd - 6,6 ns - 65,1 c CV(%) 13,3 11,4 15,8 IV(%) 6,0 5,1 7,1 DMS 0,9 - 1,6 Tratamento/ Isolado UB 686¹ Testemunha (sem patógeno) 4,4 a 63,9 a 6,7 a 70,1 a 0,0 a T. harzianum 4,1 ab 54,5 ab 6,6 ab 66,9 ab 21,3 b Condicionador de solo+ T.harzianum 4,1 ab 53,7 ab 6,3 abc 56,5 abc 14,1 ab Procimidona 3,3 bc 25,2 bc 5,5 bcd 36,7 bcd 94,3 cd Tiofanato metílico 3,3 bc 19,3 c 5,3 cd 33,9 cd 55,2 c Condicionador de solo 3,0 c 9,1 c 4,8 de 21,2 d 123,5 d Sclerotium rolfsii 2,8 c - 4,1 e - 49,3 c 1620 Uso de Trichoderma harzianum ... SOUSA, T. G.; BLUM, L. E. B. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 CV(%) 15,4 13,3 26,2 IV(%) 7,0 5,9 11,7 DMS 0,8 1,2 2,7 1Isolado de S. rolfsii. ²Letras representando valores significativamente diferentes na coluna [Teste de Fisher (P≤0,05)]. Teste I (UB 193) colhido no 176º dia. Teste II (UB 686) colhido no 182º dia. ns Diferença não significativa. ³Número de esclerócios capturados / kg de solo. 4Letras representando valores significativamente diferentes na coluna, dados originais transformados para raiz quadrada número de esclerócios / kg de solo [Teste de Fisher (P≤0,05)]. Pelos dados obtidos neste verificou-se uma redução da podridão por Sclerotium rolfsii em alho com o uso de T. harzianum com condicionador de solo adicionado de T. harzianum. O controle experimental sem tratamentos e com S. rolfsii apresentou 90% e 60% de plantas com podridão pelos isolados 193 e 686 do patógeno, respectivamente, enquanto que os tratamentos com T. harzianum com condicionador de solo apresentaram 40% e 20% de doença, respectivamente (Tabela 2). Uma das possíveis razões para a redução da doença seria um aumento do parasitismo nos esclerócios (HENIS et al., 1983; MADI et al., 1997). O número de esclerócios teve forte correlação positiva, para os dois isolados de S. rolfsii (r = 0,817; P=0,001 e r = 0,823; P=0,001) com o número de plantas infectadas (Tabela 4) ao final do ciclo da cultura de alho, ou seja, quanto maior o número de esclerócios, maior o número de plantas infectas no final do ciclo da cultura de alho. Já a massa de raízes e o peso da parte aérea tiveram uma correlação negativa tanto com o número de esclerócios e com o número de plantas infectadas. Tabela 4. Correlação de Pearson entre o número de esclerócios capturados (NE), massa seca de raiz (MSR), massa seca da parte aérea (MSPA) e % plantas infectadas (PI). Brasília/ DF, 2010. UB193 NE MSR (g) MSPA (g) PI NEa - -0,276ns -0,260ns 0,817*** MSR (g) 0,690*** -0,308ns MSPA (g) -0,233ns UB686 NE -0,484** -0,400* 0,823*** MSR (g) 0,633*** -0,458** MSPA (g) -0,288ns aRaiz quadrada do número de esclerócios capturados.*significativo a 5%, **significativo a 1%; ***significativo a 0,1%; ns = não significativo. No presente estudo o condicionador de solo adicionado de T. harzianum apresentou uma redução do número de planta infectada e no número de esclerócios capturas por quilo de solo, demonstrando que a inoculação do Trichoderma em um subtrato que favoreça seu crescimento e desenvolvimento auxilia no aumento da eficiência do controle. Semelhantemente, todavia usando farelo de trigo com veículo para Trichoderma, Elad et al. (1980) obtiveram uma redução 20% do número de plantas tomate infectadas por S. rolfsii, além de uma maior eficiência de controle aplicando o T. harzianum inoculado em farelo ao invés da aplicação suspensão de conídios. Segundo Kleifeld e Chet (1992) a turfa é um reservatório alimentar para o Trichoderma, justificando assim a vantagem da turfa inoculada com Trichoderma sobre a suspensão de conídios. Em outros trabalhos como o de Maplestone et al. (1991) os tratamentos com turfa inoculada Trichodema harzianum apresentaram uma menor percentagem de plantas de alface tombadas e folhas apodrecidas em relação a testemunha somente com Rhizoctonia solani. Contrariamente, Paula Júnior et al. (2009) obtiveram um melhor resultado no tratamento da Sclerotinia sclerotiorum com procimidona do que com Trichoderma harzianum, onde as aplicações em campo do fungicida aumentou a produção em 32% e o Trichoderma não aumentou a produção e nem reduziu a quantidade de doença. Em nossos dados, o tratamento com procimidona não se diferenciou significativamente da testemunha com o patógeno em todas as variáveis analisadas, demonstrando que o fungicida na concentração utilizada não é capaz de promover o controle da podridão causada por S. rolfsii. 1621 Uso de Trichoderma harzianum ... SOUSA, T. G.; BLUM, L. E. B. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 Todavia, Pérez-Moreno et al. (2009) relataram que os fungicidas procimidona, iprodione e thiabendazole não inibiram o crescimento de Sclerotium rolfsii e não reduziram a produção de esclerócios de alguns isolados, possivelmente devido a utilização indiscriminada destes fungicidas pelos produtores das regiões onde foram coletados os isolados. CONCLUSÕES Os tratamentos a base de T. harzianum foram mais eficientes no controle da podridão do alho causada S. rolfsii. O condicionador de solo na forma isolado favoreceu a germinação e produção de novos esclerócios do patógeno; porém, desfavoreceu quando combinado a T. harzianum. Os fungicidas, tiofanato metílico e procimidona não controlaram o patógeno. AGRADECIMENTOS A Fundação Universidade de Brasília, CNPq e CAPES pelas bolsas de estudo, à ANAPA pelo fornecimento de bulbilhos de alho, à ITAFORTE e à TECHNES pela doação dos produtos biológicos testados. ABSTRACT: Sclerotium rolfsii is an aggressive pathogen of various cultures, including garlic (Allium sativum). Biological control is one of the alternatives to this disease. This study evaluated effectiveness of commercial Trichoderma harzianum product in relation to fungicides (procimidone and thiophanate methyl) with sclerotia germination tests (soil in plastic boxes) and in vivo tests. Experiments were conducted in laboratory and greenhouse in a completely randomized and randomized block design, respectively. To evaluate the effect of products on germination of sclerotia were applied the following treatments: Trichoderma harzianum, peat based product + T. harzianum, peat based product, procimidone and control (sterile water). For the in vivo tests were applied: T. harzianum, peat + T. harzianum, peat, procimidone, tiophanate methyl and control (sterile water). For the in vivo tests were evaluated: % infected plants, roots dry weight, shoots dry weight, number of sclerotia captured per kg soil. Peat + T. harzianum and T. harzianum significantly reduced the sclerotial germination percentage. In vivo tests treatments with T. harzianum induce the following results: (a) less % of infected plants, (b) increase in dry roots weight and dry shoot weight compared to control with the pathogen, and; (c) fewer number of captured sclerotia. The treatments with fungicides and peat did not reduce the % of infected plants and sclerotia captured. KEYWORDS: Allium sativum. Athelia rolfsii. Biological control. REFERÊNCIAS BETTIOL, W.; MIGHELI, Q.; GARIBALDI, A. Controle, com material orgânico, do tombamento do pepino causado por Pythium ultimum trow. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v. 32, n.1, p. 57-61, 1997. BLUM, L. E. B.; AMARANTE, C. V. T.; ARIOLI, C. J.; GUIMARÃES, L. S.; DEZANET, A.; HACK NETO, P.; SCHEIDT, F. R. Reação de genótipos de Phaseolus vulgaris à podridão do colo e ao oídio. Fitopatologia Brasileira, v. 28, n. 1, p. 96-100. jan./fev. 2003. CLARKSON, J. P.; MEAD, P. A.; WHIPPS, J. M. Selection of fungal biological control agents of Sclerotium cepivorum for control of white rot by sclerotial degradation in a UK soil. Plant Pathology, v. 51, p. 735-745, 2002. ELAD, Y.; CHET, I.; KATAN, J. Trichoderma harzianum: a biocontrol agent effective against Sclerotium rolfsii and Rhizoctonia solani. Phytopathology, v. 70, p. 119-121, 1980. FERREIRA, A. S.; BOLEY, R. A. Sclerotium rolfsii. Crop Knowledge Master, 2006. Disponível em: < http://hbs.bishopmuseum.org/botany/taro/key/HawaiianKalo/Media/Html/adobe/dryrot.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2010. FILGUEIRA, F. A. R. Manual de Olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 3. ed. Viçosa: UFV, 2008. Cap. 15. 1622 Uso de Trichoderma harzianum ... SOUSA, T. G.; BLUM, L. E. B. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 HENIS, Y.; ADAMS, P. B.; LEWIS, J. A.; PAPAVIZAS, G. C. Penetration of sclerotia of Sclerotium rolfsii by Trichoderma spp. Phytopathology, v. 73, n. 7, p. 1043-1046, 1983. KLEIFELD, O; CHET I. Trichoderma harzianum - interation with plants and effest on growth response. Plant and Soil, v. 144, n. 2, p. 267-272, 1992. KWON, J.H. Stem rot of garlic (Allium sativum) caused by Sclerotium rolfsii. Mycobiology, v. 38, n. 2, p. 156- 158, 2010. LUCINI, M. A. Importações do alho no Brasil em 2008. 2008. Disponível em: . Acesso em: 2 dez. 2010. LUCINI, M. A. Importações do alho nobre no Brasil em 2009. 2009. Disponível em: . Acesso em: 2 dez. 2010. MADI, L.; KATAN, T.; KATAN, J.; HENIS Y. Biological control of Sclerotium rolfsii and Verticillium dahliae by Talaromyces flavus is mediated by different mechanisms. Phytopathology, v. 87, p. 1054-1060, 1997. MAPLESTONE, P. A.; WHIPPS, J. M.; LYNCH J. M. Effect of peat-bran inoculum of Trichoderma species on biological control of Rhizoctonia solani in lettuce. Plant and Soil, v. 136, p. 257-263, 1991. MENEZES, M.; MACHADO, A. L. M.; SILVEIRA, M. C. V.; SILVA, R. L. X. Biocontrole de Macrophomina phaseolina com espécies de Trichoderma aplicadas no tratamento de sementes de feijão e no solo. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, v. 1, p. 133-140, 2004. MONTES-BELMONT, R.; NAVA-JUÁREZ, R. A.; FLORES-MOCTEZUMA, H. E. Hongos y nematodos em raíces y bulbos de cebolla (Allium cepa L.) en El Estado de Morelos, México. Revista Mexicana de Fitopatologia, v. 21, n. 3, p. 300-304, 2003. MULLEN, J. Southern blight, southern stem blight, white mold. 2001. Disponível em: . Acesso em: 31 ago. 2010. PAULA JÚNIOR, T. J.; VIEIRA, R. F.; ROCHA, P. R. R.; BERNARDES, A.; COSTA, E. L.; CARNEIRO, J. E. S.; VALE, F. X. R; ZAMBOLIM, L. Intensidade do mofo branco em feijão em função de densidade de plantas, freqüência de irrigação, cobertura vegetal do solo, Trichoderma spp. E fungicidas. Summa Phytopathologica, v. 35, n. 1, p. 44-48, 2009. PÉREZ-MORENO, L.; VILLALPANDO-MENDIOLA, J. J.; CASTAÑEDA-CABRERA, C.; RAMIREZ- MALAGÓN, R. Sensibilidad in vitro de Sclerotium rolfsii Saccardo, a los fungicidas comúnmente usados parasu combate. Revista Mexicana de Fitopatologia, v. 27, n. 1, p. 11-17, 2009. PUNJA, Z. K.; RAHE, J. E. Sclerotium. In: SINGLETON, L. L.; MIHAIL, J. D.; RUSH, C. M. Methods for research on soilborne phytopathogenic fungi. St. Paul: Minnesota, APS Press, p. 166-170, 1992. RODRIGUEZ-KABANA, R.; BACKMAN, P. A.; ELIZABETH, A. W. Determination of sclerotial populations of Sclerotium rolfsii in soil by a rapid floation-sieving technique. Phytopathology, v. 64, p. 610- 615, 1974. SAHNI, S.; SARMA, B. K.; SINGH, K. P. Management of Sclerotium rolfsii with integration of non- conventional chemicals, vermicompost and Pseudomonas syringae. World J. Microbiol. Biotechnol., v. 24, p. 517-522, 2008. 1623 Uso de Trichoderma harzianum ... SOUSA, T. G.; BLUM, L. E. B. Biosci. J., Uberlândia, v. 29, Supplement 1, p. 1616-1623, Nov. 2013 SOBRINHO, J. A. M.; LOPES, C. A.; REIFSCHNEIDER, F. J. B.; CHARCHAR, J. M.; CRISÓSTOMO, L. A.; CARRIJO, O. A.; BARBOSA, S.. A cultura do alho. 1. ed. Brasília: EMBRAPA, 1993. TOSI, P.; MATTOS, W. R. S.; TOSI, H., JOBIM, C. C.; LAVEZZO,W. Avaliação do capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) cultivar Taiwan A-148, ensilado com diferentes técnicas de redução de umidade. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 28, n. 5, p. 947-954, 1999. WELLS, H.; BELL, D. K.; JAWORSKI, C. A. Efficacy of Trichoderma harzianum as a biocontrole for Sclerotium rolfsii. Phytopathology, v. 62, p. 442-447, 1972