Microsoft Word - 23-Agra_19553_vertabela 678 Original Article Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 GERMINAÇÃO IN VITRO E ACLIMATAÇÃO DE PLÂNTULAS DE SUCUPIRA-PRETA (Bowdichiavirgilioides Kunth.) IN VITRO GERMINATION AND ACCLIMATION OF SUCUPIRA-PRETA SEEDLINGS (Bowdichia virgilioides Kunth.) Luciana Coelho de MOURA1; Miranda TITON2; José Sebastião Cunha FERNANDES2; Reynaldo Campos SANTANA2 1. Mestre em Ciência Florestal, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, Diamantina, MG, Brasil. lucianacm2005@yahoo.com.br; 2. Professor (a) Adjunto (a) da Universidade Federal dos vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, Diamantina, MG, Brasil. RESUMO: Este trabalho teve como objetivos avaliar a germinação in vitro e a aclimatação de plantas de sucupira-preta (Bowdichia virgilioides). Sementes escarificadas e não escarificadas foram inoculadas em tubos de ensaio contendo meio de cultura MS ou WPM, com 100 ou 50% dos sais e vitaminas; suplementados com dois tipos de aditivos, carvão ativado e PVP, e mantidas em sala de cultura. Utilizou-se um delineamento inteiramente casualisado em esquema fatorial 2x4 (dois aditivos e quatro formulações de meio de cultura) com quatro repetições e seis sementes por repetição. Aos 30 dias obteve-se o percentual de germinação e o índice de velocidade de germinação (IVG). As plantas foram transferidas para tubetes, contendo substrato e aclimatadas em casa de vegetação, onde permaneceram durante 60 dias, sendo transferidas para casa de sombra, onde permaneceram por mais 60 dias. Aos 30, 60, 90 e 120 dias avaliaram-se o percentual de sobrevivência e a altura das mudas aclimatadas. A germinação in vitro de sementes escarificadas apresenta os maiores percentuais utilizando-se os meios de cultura MS e WPM reduzidos à metade da concentração dos sais e vitaminas. A germinação ocorre independentemente do aditivo utilizado tanto para sementes escarificadas como para as não escarificadas. A aclimatação das plantas germinadas in vitro ocorre independentemente do histórico de aditivos ou meios de cultura utilizados. PALAVRAS-CHAVE: Bowdichiavirgilioides Kunth. Cultura de tecidos. Meio de cultura. Propagação de plantas. INTRODUÇÃO A espécie Bowdichia virgilioides, conhecida vulgarmente como sucupira-preta, é uma planta arbórea pertencente à família Fabaceae com ampla dispersão pelo Brasil. Pode ser utilizada em programas de recuperação de áreas degradadas de preservação permanente, e, sua madeira, por ser de alta densidade e longa durabilidade natural, é empregada na construção civil e na fabricação de móveis (LORENZI, 2002). A produção de mudas de sucupira-preta é realizada geralmente via seminal e a germinação só ocorre em sementes viáveis, não dormentes e sob condições ambientais favoráveis. Suas sementes possuem impermeabilidade tegumentar à água e a escarificação química com H2SO4 por 5 minutos é indicada para a superação da dormência (SMIRDELE; SOUZA, 2003). A micropropagação é uma técnica de propagação vegetativa que pode ser utilizada para certas espécies que tem a semente como insumo limitante, com dificuldade de germinação e armazenamento, permitindo também a maximização da qualidade e uniformidade dos plantios quando utilizados genótipos selecionados, além da propagação de espécies de interesse econômico de maneira a preservar as florestas naturais (XAVIER et al., 2003). A micropropação é dividida em cinco etapas, sendo: 0) preparo de plantas matrizes; 1) estabelecimento de culturas assépticas; 2) multiplicação; 3) indução, alongamento e enraizamento e 4) aclimatação em condições de casa de vegetação (DEBERGH; MAENE, 1981). Umas das formas de estabelecimento de cultura assépticas é a germinação in vitro. As atividades de cultivo in vitro são realizadas em ambiente asséptico e com temperatura e iluminação controladas, visando a otimização das respostas aos estímulos termo e fotoperiódico, aplicados ao material in vitro, entre outros fatores (TEIXEIRA; TORRES, 1999). As soluções de sais e açúcares que compõem o meio de cultura possuem como principal função fornecer substâncias essenciais para o crescimento e controlar, em grande parte, o padrão de desenvolvimento in vitro (XAVIER et al., 2013). Diversas formulações de meios de cultura têm sido utilizadas no cultivo in vitro. Não há uma formulação-padrão, mas o meio MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962), com suas modificações e diluições, tem sido utilizado com sucesso para diversas espécies. Para espécies Received: 10/10/12 Accepted: 20/02/14 679 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 lenhosas, entretanto, o meio MS não se mostra satisfatório, e em algumas situações e composições mais diluídas em macronutrientes podem proporcionar melhor desempenho (NOGUEIRA et al., 2004). O meio nutritivo WPM (LLOYD; McCOWN, 1981), por exemplo, apresenta 25% das concentrações de íons nitrato e amônia do meio MS, além de maior quantidade de potássio e um alto nível de íons sulfato, tendo sido amplamente utilizado para a micropropagação de espécies lenhosas (PASQUAL, 2001). Aditivos podem ser adicionados ao meio de cultura para diminuir a intoxicação de culturas pelos fenóis oxidados produzidos pelos próprios tecidos vegetais, como é o caso do PVP (polivinilpirrolidona) e do carvão ativado, que além de função antioxidante, pode estimular o enraizamento, restaurar a capacidade embriogênica em culturas (CALDAS et al., 1999) e, em algumas condições, regular o crescimento da planta in vitro (XAVIER et al., 2013). A aclimatação é o processo que envolve o transplantio da planta cultivada in vitro para a casa de vegetação (GRATTAPAGLIA; MACHADO, 1999),objetivando reduzir o estresse causado pela diferença entre os ambientes in-vitro e ex-vitro e constitui-se numa etapa onde ocorrem grandes perdas de explantes (DUTRA et al., 2009). O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito dos meios de cultura MS e WPM, combinados com dois aditivos, PVP e carvão ativado, na germinação in vitro de sementes escarificadas e não escarificadas de sucupira-preta (Bowdichia virgilioides), bem como a aclimatação das plantas germinadas. MATERIAL E MÉTODOS Material Vegetal Frutos de sucupira-preta foram coletados em seis matrizes procedentes do Parque Estadual do Rio Preto, localizado no município de São Gonçalo do Rio Preto/MG. Após beneficiadas, as sementes foram armazenadas em sacos de polietileno e mantidas em câmara fria com temperatura média de 7oC, e umidade relativa média de 30%. Para realização dos experimentos1 e 2, foram utilizadas sementes 10 e com 12 meses de armazenamento. Todos os experimentos foram conduzidos no laboratório de Melhoramento Florestal e no viveiro de mudas do Centro Integrado de Propagação de Espécies Florestais - CIPEF da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, localizada em Diamantina – MG, durante o período de outubro de 2010 a junho de 2011. Experimento 1 (sementes não escarificadas) Sementes de sucupira-preta, armazenadas durante 10 meses, foram lavadas previamente com água destilada e, em câmera de fluxo laminar, enxaguadas com água deionizada e autoclavada, imersas em álcool 70% por 1 minuto e, em seguida, em solução de hipoclorito de sódio 5% por 5 minutos, sendo adicionado 4 a 5 gotas de Tween 20, para cada 100mL de solução. As sementes foram novamente enxaguadas com água deionizada e autoclavada e inoculadas em tubos de ensaio contendo 10 mL do meio de cultura previamente preparado. Os tratamentos foram o resultado da combinação dos aditivos CA (carvão ativado – 800 mgL-1) e PVP (polivinilpirrolidona – 1000 mgL-1) com os meios de cultura MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962) e WPM (LLOYD; McCOWN, 1981) (Tabela 1), contendo 100% ou 50% dos sais e vitaminas, com as denominações: T1 (CAMS); T2 (CAMS/2); T3 (CAWPM); T4 (CAWPM/2); T5 (PVPMS); T6 (PVPMS/2); T7 (PVPWPM) e T8 (PVPWPM/2). Nos tratamentos T1, T3, T5 e T7 os meios MS e WPM continham 100% dos sais e vitaminas e nos demais tratamentos 50% (MS/2 e WPM/2). Adotou-se um delineamento inteiramente casualisado em esquema fatorial 2x4 (dois tipos de aditivos e quatro formulações de meios de cultura) com quatro repetições e seis sementes por repetição. Todos os tratamentos receberam 100 mg L-1 de mio-inositol, 30 g L-1 de sacarose e 7g L-1 de ágar MERCK®, tiveram pH ajustado para 5,7 ± 0,1 e foram autoclavados por 15 minutos à temperatura de 121ºC e pressão de 1atm. Após a inoculação, as sementes foram mantidas em sala de cultura sob fotoperíodo de 16 horas, intensidade luminosa de aproximadamente 2000 lux e temperatura de 25 ± 2oC. As avaliações foram realizadas diariamente, por 30 dias, registrando-se o número de sementes germinadas. Foram consideradas sementes germinadas as que apresentavam protrusão da raiz primária ≥ 2mm. Aos 30 dias após a inoculação foram avaliados o percentual de germinação e o índice de velocidade de germinação (IVG), calculado de acordo com Maguirre (1962). Em que: N1 = nº de sementes germinadas na 1º contagem 680 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 D1 = nº de dias para a 1º contagem Nn = nº de sementes germinadas na última contagem Dn = nº de dias para a última contagem Os dados foram analisados por meio de análise de variância e pela análise estatística descritiva utilizando-se o software Statistica 10.0 (Statsoft, 2010). Tabela 1: Composição dos meios de cultura MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962) e WPM (LLOYD; McCOWN, 1981) usados na germinação in vitro de sucupira-preta Composto FórmulaQuímica Concentração (mg L-1) MS WPM Macronutrientes Nitrato de Amônio NH4NO3 1.650,0 400,0 Nitrato de Potássio KNO3 1.900,0 - Cloreto de Cálcio CaCl2.2H2O 440,0 96,0 Sulfato de Potássio K2SO4 - 990,0 Nitrato de Cálcio Ca(NO3)2.4H2O - 556,0 Fosfato de Potássio KH2PO4 170,0 170,0 Sulfato de Magnésio MgSO4.7H2O 370,0 370,0 Micronutrientes Ácido Bórico H3BO3 6,2 6,2 Molibidato de Sódio NaMoO4.2H2O 0,25 0,25 Cloreto de Cobalto CoCl2.6H2O 0,025 - Sulfato de Manganês MnSO4.H2O 16,9 22,3 Sulfato de Zinco ZnSO4.7H2O 8,6 8,6 Sulfato de Cobre CuSO4.5H2O 0,025 0,25 Iodeto de Potássio KI 0,83 - FeEDTA Sódio EDTA Na2E.D.T.A. 37,2 37,2 Sulfato de Ferro Fe2(SO4)3 27,8 27,8 Vitaminas Ácido Nicotínico - 0,5 0,5 Piridoxina. HCL - 0,1 0,5 Tiamina. HCL - 0,1 1,0 Glicina - 2,0 2,0 Experimento 2 (sementes escarificadas) Sementes de sucupira-preta armazenadas durante 12 meses foram desinfestadas, escarificadas e colocadas para germinar in vitro.Todos os procedimentos do item 2.2. foram seguidos, porém, após adesinfestação (descrita no item2.2.), as sementes foram submetidas ao tratamento de escarificação química com ácido sulfúrico concentrado por 5 minutos, antes de serem inoculadas em tubos de ensaio contendo meio de cultura. Os tratamentos (tipos de aditivos x formulações de meio de cultura) foram semelhantes aos descritos no item 2.2. A avaliação foi realizada diariamente, como descrito no item 2.2., e os dados foram analisados por meio de análise de variância, pelo teste Tukey em nível de5% de probabilidade e pela análise descritiva utilizando o software Statistica 10.0 (STATSOFT, 2010). Transplantio e Aclimatação Plantas dos experimentos descritos anteriormente foram transplantadas para tubetes de 55 cm3, contendo substrato composto por 60% de vermiculita e 40% de casca de arroz carbonizada, adicionado de 7 g L-1 de formulado de liberação controlada (três a quatro meses) Osmocote® (19-6- 10). As plantas foram mantidas por 60 dias em casa de vegetação coberta com filme plástico (150 microns de espessura) e com tela de sombreamento 681 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 de 50% e com irrigações diárias de 30 segundos a cada 30 minutos por nebulização (nebulizador FOGGER com vazão de 7 Lh-1). Após esse período, as mudas foram transferidas para casa de sombra coberta com tela de sombreamento de 50% e com cinco irrigações diárias de cinco minutos (micro aspersor bailarina com vazão de 85 Lh-1), por 60 dias. Os valores de temperatura e umidade relativa foram computados diariamente nos dois ambientes. Aos 30, 60, 90 e 120 dias após o transplantio foram avaliados o percentual de sobrevivência e a altura das mudas aclimatadas, que foram analisados por meio de análise de variância e análise descritiva. As plantas provenientes de sementes que não foram escarificadas (experimento 1) foram aclimatadas respeitando-se o histórico dos tratamentos da germinação in vitro, mantendo-se de uma a seis plantas por tratamento. As plantas provenientes de sementes que receberam tratamento de escarificação (experimento 2) foram aclimatadas respeitando-se o histórico dos tratamentos da germinação in vitro em delineamento inteiramente casualisado em esquema fatorial (2x4) com três repetições e uma a seis plantas por repetição. RESULTADOS Experimento 1 (sementes não escarificadas) A germinação iniciou 10 dias após a inoculação para T1 (CAMS), T2 (CAMS/2), T4 (CAWPM/2) e T7 (PVPWPM); 11 dias para T6 (PVPMS/2); 12 dias para T3 (CAWPM) e T5 (PVPMS); e 17 dias para T8 (PVPWPM/2) (Figura 1). Observou-se, pela ANOVA, que não houve efeito significativo (p > 0,05) da interação entre os aditivos e meios de cultura e de cada fator isoladamente sobre o percentual de germinação e o índice de velocidade de germinação (IVG). Figura 1: Curva do percentual de germinação de sementes não escarificadas de sucupira-preta em função dos tratamentos durante 30 dias. No geral, o percentual de germinação e o IVG foram baixos, não ultrapassando 25% e 1,12 respectivamente (Figuras 2A e 2B). Os maiores percentuais de germinação ocorreram com o uso do carvão ativado combinado com os meios MS 100% (T1) ou 50% (T2) da concentração de sais e vitaminas. Para o IVG, os maiores valores foram obtidos com o uso do carvão ativado combinado com o meio MS/2, com valor de 1,12 (T2) e com o meio MS, com valor de 0,89 (T1), e ainda com o uso do PVP combinado com o meio WPM, com valor de 0,88 (T7). Durante a permanência das plantas na casa de vegetação, a temperatura média foi de 23,3oC e a umidade relativa média de 70%, ena casa de sombra, a temperatura média foi de 19,7oC e a umidade relativa média de 86,6%. Os tratamentos com maior percentual de sobrevivência, aos 30, 60 e 90 dias após o transplantio foram T4 (carvão ativado + meio WPM/2), T5 (PVP + meio MS) e T6 (PVP + meio MS/2) todos com 100% de sobrevivência (Figura 3A). Aos 120 dias, os tratamentos T5 e T6 foram também os que apresentaram maiores percentuais de sobrevivência, ambos com 75%, e o tratamento T3 e T4 apresentaram percentual de sobrevivência de 66,7% (Figura 3A). Em relação à altura das mudas aos 120 dias, os melhores tratamentos foram T3 (carvão 682 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 ativado + meio WPM) com altura de 13,5 cm, T4 (carvão ativado + meio WPM/2) com altura de 11,6 cm e T6 (PVP + meio MS) com altura de 10,3 cm (Figura 3B). Figura 2: Percentual de germinação (A) e índice de velocidade de germinação (IVG) (B) de sementes não escarificadas de sucupira-preta em função dos tratamentos. As barras indicam o desvio padrão. Figura 3: Percentual de sobrevivência (A) e crescimento em altura (B) de plantas de sucupira-preta, germinadas in vitro a partir de sementes não escarificadas, em função dos tratamentos, aos 30, 60, 90 e 120 dias de aclimatação. Experimento 2 (sementes escarificadas) A germinação iniciou após cinco dias da inoculação para T1 (CAMS), T2 (CAMS/2) e T6 (PVPMS/2); sete dias para T7 (PVPWPM); oito dias para T4 (CAWPM/2), T5 (PVPMS) e T8 (PVPWPM/2); e 26 dias para T3 (CAWPM) (Figura 4). Observou-se, pela ANOVA, que não houve efeito significativo (p > 0,05) da interação entre os aditivos e meios de cultura e do aditivo sobre o percentual de germinação e o índice de velocidade de germinação (IVG) (Tabela 2). Observou-se diferença significativa (p < 0,05) entre os diferentes meios de cultura tanto para o percentual de germinação como para o IVG (Tabela 2). Observou- se superioridade no percentual de germinação dos meios MS/2 e WPM/2 em relação ao WPM (Tabela 3). Para o IVG o meio MS/2 foi estatisticamente superior ao WPM (Tabela 3). Numericamente, o tratamento T6 (PVP + meio MS) foi o que apresentou maiores médias no percentual de germinação e no IVG (Figura 5A e 5B). Durante a permanência das plantas na casa de vegetação, a temperatura média foi de 21,1oC e a umidade média de 81,6%, e na casa de sombra, a temperatura média foi de 17,0oC e a umidade média de 82,2%. Na fase de aclimatação, aproximadamente 60 dias após o transplantio, as plantas foram atacadas por insetos, comprometendo o crescimento e sobrevivência das mudas. Entretanto, até os 60 dias, os tratamentos que se destacaram em relação à sobrevivência foram T1 (carvão ativado + meio MS) e T3 (PVP + meio WPM) com 100% de sobrevivência após 30 e 60 dias (Figura 6A). No geral, as mudas não ultrapassaram 4,46 cm de altura após 60 dias, valor (B) (A) (A) (B) 683 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 inferior ao encontrado no experimento de germinação da sucupira-preta não escarificada (Item 3.1.). Os melhores tratamentos foram T3 (carvão ativado + meio WPM) com altura de 4,46 cm e T2 (carvão ativado + meio MS/2) com altura de 3,95 cm após 60 dias (Figura 6B). Figura 4: Curva do percentual de germinação de sementes escarificadas de sucupira-preta em função dos tratamentos durante 30 dias. Figura 5: Percentual de germinação (A) e índice de velocidade de germinação (IVG) (B) de sementes escarificadas de sucupira-preta em função dos tratamentos. As barras indicam o desvio-padrão. Tabela 2: Resumo da análise de variância para os dados de percentual de germinação (G%) e índice de velocidade de germinação (IVG) de sementes escarificadas de sucupira-preta “ns” valor não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade; “*” e “**” valores significativos pelo teste F a 5% e a 1% de probabilidade respectivamente; FV = fonte de variação; GL = graus de liberdade; CVexp = coeficiente de variação experimental. FV GL Quadrados Médios G(%) IVG Aditivo 1 703,12ns 3,72ns Meio de cultura 3 2045,72** 7,11* Aditivo x Meio de cultura 3 587,38ns 0,27ns Resíduo 24 379,05 1,55 MédiaGeral 40,10 1,70 CVexp. (%) 48,55 73,24 (B) (A) 684 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 Tabela 3: Percentual de germinação (G%) e índice de velocidade de germinação (IVG) de sementes escarificadas de sucupira-preta em função dos diferentes meios de cultura Meio de Cultura G (%) IVG MS 43,75ab 1,48ab MS/2 52,08 a 2,73 a WPM 18,75 b 0,51 b WPM/2 47,92 a 2,09ab Valores em uma mesma coluna, seguidos por uma mesma letra, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Figura 6: Percentual de sobrevivência (A) e crescimento em altura (B) de plantas de sucupira-preta, germinadas in vitro a partir de sementes escarificadas, em função dos tratamentos, aos 30, 60, 90 e 120 dias de aclimatação. DISCUSSÃO O baixo percentual de germinação para as sementes não escarificadas obtido neste trabalho (máximo de 25%) pode ser explicado pela dormência tegumentar existente na sucupira-preta. A impermeabilidade do tegumento restringiu a entrada de água e oxigênio, retardando o processo de emergência em sementes de chichá (Stercullia foetida L.) (SANTOS etal., 2004). Em sucupira- preta, Albuquerque et al. (2007) e Gonçalves et al. (2008) observaram 11% e 20% de sementes germinadas, respectivamente, em condição de BOD, para sementes que não receberam nenhum tratamento de escarificação. Efeitos significativos dos meios de cultura sobre a germinação in vitro de sementes também foram observados por Nogueira et al. (2004) estudando as concentrações de 50 e 100% dos meios MS e WPM em sementes de murici-pequeno (Byrsonima intermedia), onde o meio MS 50% foi o que proporcionou maior germinação dessas sementes. Estudando os efeitos dos aditivos PVP e carvão ativado, Melo et al. (2001) encontraram resultados não-significativos na germinação in vitro de embriões de guarirobeira (Syagrus oleracea). Resultados diferentes foram encontrados por Disarz; Corder (2009), trabalhando com a micropropagação de acácia (Acacia mearnsii), que observaram menor formaçãode calos, maior formação de raízes e ausência de clorose em explantes subcultivados em meio MS com a adição de carvão ativado. Neste trabalho, a redução dos sais e vitaminas a 50% dos meios de cultura MS e WPM proporcionou um aumento no processo de germinação das sementes escarificadas e pode estar relacionado ao balanço osmótico, onde o meio nutritivo muito concentrado pode prejudicar o processo germinativo. Resultados semelhantes foram encontrados por Nogueira et al. (2004), trabalhando com murici-pequeno (Byrsonima intermedia).No presente trabalho o meio de cultura MS com 100% dos sais e vitaminas também proporcionou um alto percentual de germinação e IVG. O meio de cultura MS 100% foi satisfatório na multiplicação de gemas axilares de acácia (Acacia (A) (B) 685 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 mearnsii) (DISARZ; CORDER, 2009).No entanto, devido à semelhança dos resultados obtidos em relação à redução de 50% dos sais e vitaminas, recomenda-se o uso dessa concentração do meio de cultura para redução dos custos. A fase de transferência das plantas estabelecidas in vitro, visando à aclimatação e rustificação em condições ex vitro, constitui-se em uma importante etapa na formação de mudas de qualidade, principalmente porque esse material passa de uma condição heterotrófica para a autotrófica, sofrendo estresses fisiológicos (BANDEIRA et al., 2007). No presente caso, não foram encontradas diferenças significativas entre os tratamentos para o percentual de sobrevivência e para a altura das mudas aclimatadas de sucupira- preta. Isso pode estar relacionado ao fato de as plantas já estarem enraizadas no momento em que foram repicadas do tubo de ensaio para o tubete, o que facilitou sua adaptação ao novo ambiente, independentemente do histórico de aditivo ou meio de cultura em que foi germinada. Resultados diferentes foram encontrados por Santos et al. (2006), trabalhando com micropropagação de pequi, que observaram que as plantas provenientes do cultivo in vitro em meio WPM, acrescido com 4g L- 1 de carvão ativado apresentaram, no final da aclimatação, maiores proporções de plantas vivas em relação às plantas provenientes do meio de cultivo com ausência de carvão ativado, embora o aspecto das plantas sobreviventes, provenientes dos dois tratamentos, tenham sido semelhantes. No geral, a altura das mudas de sucupira- preta obtidas neste trabalho, provenientes de sementes escarificadas, foi menor do que a altura média das mudas provenientes de sementes não escarificadas e, ambas foram inferiores ao padrão de altura desejável de uma muda pronta para expedição. Após 120 dias, as mudas provenientes de sementes não escarificadas apresentavam uma altura média de 7,5cm, enquanto as mudas provenientes de sementes escarificadas, de 4,0cm. Tanto as mudas provenientes de sementes não escarificadas, como as de sementes escarificadas devem permanecer em rustificação por um período superiora 120 dias, até atingirem um padrão para o plantio em campo. CONCLUSÕES A escarificação de sementes e a utilização dos meios de cultura MS com 50 e a 100% e WPM com 50% dos sais e vitaminas proporcionaram os maiores percentuais de germinação in vitro de sucupira-preta. A germinação da sucupira-preta ocorreu, independentemente, do tipo de aditivo utilizado, carvão ativado ou PVP. A aclimatação de plantas de sucupira-preta germinadas in vitro ocorreu, independentemente, do histórico de aditivos ou meios de cultura utilizados. A germinação in vitro de sucupira-preta é um método viável para propagação da espécie e pode ser utilizada para introdução de material vegetal in vitro de forma asséptica. A germinação in vitro de sucupira-preta é um processo importante para a micropropagação por meio da proliferação de gemas axilares visando a propagação e a conservação genética da espécie. AGRADECIMENTOS Ao PROCAD/CAPES, FAPEMIG, IEF, SECTES pelo apoio financeiro. ABSTRACT: Thiss tudy objectived to evaluate the in vitro germination and acclimatization of plants sucupira- preta (Bowdichia virgilioides). Scarified and not scarified seeds were inoculated in test tubes containing culture medium MSorWPM, 100 or 50% of salts and vitamins, supplemented with two types of additives, activated charcoal and PVP, and kept in culture room. We used acompletely randomized in a 2x4 factorial design (2additives and 4culture medium formulations) with 4 replications and6 seeds per replicate. At 30 days gave the germination percentage and germination speed index(IVG). Plants were transferred to tubes containing substrate and acclimatized in a greenhouse, where they remained for 60days and transferred to a dusk house, where they remained for another 60days.At 30, 60, 90 and 120 days, we assessed the percentage of survival and seedling height acclimated. The in vitro germination of scarified seeds had the highest percentage using culture media MS and WPM halved the concentration of salts and vitamins. Germination occurred regardless of additive used both to scarified and note scarified seeds. The acclimation of plants germinated in vitro occurred regardless of additives history or culture media used. KEYWORDS: Bowdichia virgilioides Kunth.Tissue culture. Culturemedium. Plantpropagation. 686 Germinação in vitro... MOURA, L. C. et al Biosci. J., Uberlandia, v. 30, supplement 2, p. 678-687, Oct./14 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, K. S.; GUIMARÃES, R. M.; ALMEIDA, I. F.; CLEMENTE, A. C. S.Métodos para a superação da dormência em sementes de sucupira-preta (Bowdichia virgilioides Kunth.). Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 31, n. 6, p. 1716-1721, 2007. BANDEIRA, F. S.; XAVIER, A.; OTONI, W. C.; LANI, E. R. G. Aclimatação ex vitro de plantas propagadas pela enxertia in vitro de Eucalyptus urophylla x E. grandis. RevistaÁrvore, Viçosa, v. 3,n. 5, p. 773 - 781, 2007. CALDAS, L. S.; HARIDASAN, P.; FERREIRA, M. E. Meios nutritivos. In: TORRES, A. C., CALDAS, L. S., BUSO, J. A. (Eds.). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: EMBRAPASPI/ EMBRAPA-CNPH, 1999. v. 2, p. 87-132. DEBERGH, P. C.; MAENE, L. J.A scheme for comercial propagationof ornamental plants by tissue culture. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v. 14, p. 335-345, 1981. DISARZ, R.; CORDER, M. P. M. 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