Microsoft Word - 36-Sau_23591 925 Original Article Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 PARTICIPAÇÃO PATERNA NO PERÍODO DA AMAMENTAÇÃO: IMPORTÂNCIA E CONTRIBUIÇÃO FATHER PARTICIPATION IN THE PERIOD OF BREASTFEEDING: IMPORTANTE AND CONTRIBUTION Tatiana Carneiro de RESENDE1; Emerson Piantino DIAS1; Camila Medeiros Cruvinel CUNHA2; Guilherme Silva de MENDONÇA3; Alberto Lopes Ribeiro JÚNIOR4; Lauro Ricardo de Lima SANTOS4; Eder Pereira SILVA4 1. Professor(a), Mestre, Escola Técnica de Saúde, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia, MG, Brasil, tatibrazao@hotmail.com; 2. Enfermeira, Hospital Santa Genoveva, Uberlândia, MG, Brasil; 3. Enfermeiro e Pedagogo, Hospital de Clínicas –UFU, Uberlândia, MG, Brasil; 4. Acadêmicos do Curso de Enfermagem, Faculdade de Medicina – UFU, Uberlândia, MG, Brasil. RESUMO: O aleitamento materno é fundamental para a promoção e proteção da saúde das crianças, fato amplamente divulgado em campanhas nacionais e mundiais. Nesse contexto é importante destacar a atuação e os sentimentos paternos em relação a este aspecto, ainda pouco discutidos na literatura. O objetivo geral do estudo foi apresentar os sentimentos referidos por pais e sua contribuição no processo do aleitamento materno; apresentar o perfil sociográfico dos sujeitos, uma vez que geralmente vivenciam novidades e desafios durante o período do aleitamento materno. Pesquisa descritiva, qualitativa, desenvolvida por meio de entrevistas semiestruturadas. Foram sujeitos pais com idade a partir de dezoito anos, cujos filhos se encontravam no período de amamentação e que concordaram em participar do estudo. Foi desenvolvida em um ambulatório de pediatria, ginecologia e obstetrícia da cidade de Uberlândia, MG. A amostra foi composta por 40 sujeitos e o instrumento de coleta de dados composto por uma parte introdutória para caracterização dos mesmos e outra para explorar sentimentos e percepções dos pais quanto a esse processo. Os resultados apontaram a prevalência de pais na faixa etária dos 25 anos, casados, com 2º grau completo, com filhos em aleitamento materno em idade entre um e dois dias. Quanto à forma de conhecimentos e informações sobre o período e a amamentação a TV foi citada como o principal meio de informações sobre aleitamento. Cuidados à criança e afazeres domésticos foram citados como contribuições fundamentais efetuadas pelo pai nesse período. A informação julgada como sendo a mais importante foi a necessidade de acompanhamento à mulher em todos os momentos do aleitamento. Entende-se ser, imperativo maior treinamento dos profissionais de saúde e envolvimento de outros profissionais, além da mãe e do bebê no período da amamentação. Os pais devem ser entendidos como sujeitos essenciais no cuidado da criança e das companheiras e, portanto, devem ser auxiliados quanto a esse aspecto. Os resultados do estudo podem ser utilizados como fontes no hospital onde se desenvolveu o estudo, bem como noutros nosocômios. Reitera-se ser o homem nessa fase tão importante da vida, um importante aliado para o binômio mãe-bebe. PALAVRAS-CHAVES: Aleitamento Materno. Comportamento Paterno. Relações Pai-Filho. INTRODUÇÃO O aleitamento materno é considerado um pilar fundamental para a promoção e proteção da saúde das crianças em todo o mundo (KUMMER et al., 2000). Apesar de todos os riscos que o desmame precoce pode trazer as taxas de abandono do aleitamento exclusivo ainda são altas, seja por conseqüências fisiológicas naturais da mulher, seja pela necessidade desta de voltar a assumir sua jornada multifuncional. A amamentação na primeira hora de vida é uma das estratégias prioritárias para a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno no país (REA, 2003 apud BOCCOLINI et al., 2011). Assim como abordado pelo autor supracitado, esse contato precoce do recém-nascido com a mãe nos primeiros minutos de vida é importante para o estabelecimento do vínculo mãe-bebê e para aumentar a duração do aleitamento materno, reduzindo a mortalidade neonatal. Nesse universo, todos os contatos além dos relacionados à mãe-filho parecem se tornar secundários, inclusive o que se refere ao relacionamento pai e filho. Na literatura científica há muito pouco conteúdo acerca dessa relação, mas na prática podemos perceber que ela tem peso imensurável para a estruturação do caráter individual da criança. Tal afirmativa evidencia a imperatividade deste pai de estar presente em todo o desenvolvimento fisio-pscio-social do filho, especialmente nas fases iniciais da vida. A ajuda paterna nos cuidados com a criança proporciona uma interação precoce mais intensa entre pai e bebê, o que favorece o crescimento saudável da criança e transmite segurança à mulher (OLIVEIRA; BRITO, 2009). Essa segurança pode contribuir para o aleitamento materno, pois pode Received: 10/09/13 Accepted: 28/01/14 926 Participação paterna... RESENDE, T. C. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 transmitir uma serenidade maior à mulher que está amamentando. A participação do homem durante o ato de cuidar, segundo Oliveira e Brito (2009), por meio do envolvimento afetivo para com a esposa e o filho, representa um alicerce à vivência do casal, contribuindo na consolidação da estrutura familiar. Da mesma forma, essa participação paterna está ligada diretamente ao estabelecimento de vínculo entre todos os atores envolvidos, aproximando-os de maneira mais significativa. Conforme Fernandes (2003), a vivência dos pais no processo da amamentação ocorre com conhecimentos e desconhecimentos em aspectos que dizem respeito ao leite materno e, sobretudo aos sentimentos de bem estar, frustração e exclusão na estrutura familiar e da sociedade. Mesmo com todas as dificuldades, os primeiros meses de convivência pai-lactente são decisivos para a formação de laços e consignação da consciência de paternidade. Avançar na superação do modelo de paternidade hegemônico requer políticas públicas direcionadas pela inserção dos pais no contexto dos cuidados e das experiências afetivas (FAUSTINO; FREITAS et al., 2009). Promover condições para que os pais se tornem parte ativa do processo, como por meio de sua participação nas consultas de pré- natal e puericultura, e/ou em dinâmicas nos sítios de saúde na fase puerperal da mulher, são fundamentais para o exercício efetivo do papel de pai. Dúvidas, anseios e sentimentos de abandono são uma constante à figura paterna nesse momento. A indecisão é outro fator preponderante. O estudo de Oliveira e Brito (2009), refere que grande parte dos pais afirma que a prática do cuidado requer conhecimento acerca do ser cuidado. Entretanto, isso nos remete a questionamentos essenciais: Os pais obtêm esse tipo de informações atualmente? Através de que meio? Existe abertura para que eles se expressem e espaços para que esclareçam suas dúvidas, sanando a carência de informações? A súmula de todos esses problemas leva ao epicentro da pesquisa: Quem é o ser pai no período de aleitamento materno? Busca-se identificar como esses pais se sentem, o que consideram ser de sua responsabilidade e quais são suas contribuições, e traçar um perfil geral de sua identidade e percepções nesse período. A realização deste trabalho se justifica pelos sentimentos paternos no período de aleitamento materno serem tema pouco abordado na literatura; pela ausência de grupos direcionados para casais, ou especificamente para os pais no setores hospitalares e centro da pesquisa que trabalhem diretamente com os anseios e dúvidas de pais período da amamentação do bebê. Entende-se que as diferentes maneiras de representar a experiência adquirida pelos homens na etapa de aleitamento materno junto às companheiras, devem ser conhecidas e consideradas pelos membros da equipe de saúde que prestam assistência nessa fase de assistência à mulher, sobretudo para melhorar a assistência educativa dirigida ao pai da criança. O objetivo geral do presente estudo foi compreender os sentimentos vivenciados pelos pais e sua contribuição no processo do aleitamento materno. MATERIAL E MÉTODOS A presente pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, do tipo fenomenológica, uma vez identificou as perspectivas de pais cujas companheiras estivessem em período de aleitamento materno. Esse tipo de pesquisa objetiva, em geral, provocar o esclarecimento de uma situação para a tomada de consciência pelos próprios pesquisados dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e estratégias de resolvê-los (CHIZZOTTI, 1991). O interesse das pesquisadoras foi, em um primeiro momento, traçar um perfil desses pais, identificando as percepções, valores e expectativas de cada um dentro de sua casa, sua família e em um ambiente mais amplo, dentro da sociedade. A análise dos pontos obtidos nesses perfis foi feita em conjunto à listagem das contribuições relatadas pelos pais para com sua companheira, seu filho e à sociedade. Nesse momento, os medos e anseios dos pais também são colocados em discussão, para por fim, elaborar através dos sentimentos supracitados, sugestões para, ainda escassas nessa área. A pesquisa foi desenvolvida nos setores de Maternidade, Ambulatório de pediatria e Ambulatório de ginecologia e obstetrícia do Hospital de Clínicas de Uberlândia (HC-UFU), realizada através de entrevistas individuais e semi- estruturadas. Para isso, cada um dos pais entrevistados deveria ser maior de 18 anos, ter sua companheira no período de aleitamento materno e aceitar as condições dispostas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) através de aceite verbal e escrito. O caráter fenomenológico da pesquisa nos permite parar a coleta de dados assim que percebermos saturação das respostas. Entendendo que grande parte das respostas já estava sendo repetitiva, e que um número muito superior de 927 Participação paterna... RESENDE, T. C. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 sujeitos não contribuiria para o aprofundamento da pesquisa, a amostra do estudo totalizou 40 sujeitos. Esse fechamento ocorreu mediante duas situações. Primeiramente, já estávamos trilhando um caminho de encerramento da pesquisa em meio à saturação das respostas, e que culminou no segundo fator, quando nos deparamos com um episódio que provavelmente seria o mais discrepante a ser encontrado. A coleta de dados estendeu-se durante todo o mês de Julho e início do mês de Agosto de 2011. Cada entrevista teve duração de 30 a 60 minutos, com média de 45 minutos. Para segurança do entrevistado e garantia de maior detalhamento de suas falas, as entrevistas semi-estruturadas foram realizadas em locais privativos. Alguns desses locais foram a sala de espera da maternidade (que grande parte das vezes se encontrava vazia) e o consultório nº 14 do ambulatório da pediatria, localizado estrategicamente em frente ao posto de enfermagem onde eram realizadas a pesagem e medição das crianças anteriormente às consultas médicas. A estruturação prévia da entrevista contou com questões norteadoras que seguiram a seguinte linha de raciocínio: Coleta de dados pessoais, delineamento do perfil do pai (identificando seu papel dentro e fora de casa) e discussão desse perfil destacando as percepções, valores, dificuldades e expectativas em meio à família e à sociedade no que dizia respeito ao período do aleitamento materno. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia, em 01/07/2011 conforme Parecer CEP nº 418/11. Todos os pais assinaram o TCLE. Como forma de garantir o anonimato dos participantes, os mesmos foram representados por códigos numéricos para a apresentação dos resultados. RESULTADOS E DISCUSSÃO As entrevistas realizadas em duas fases: uma introdutória, basicamente de caracterização do sujeito e outra exploratória, referente à descrição de sentimentos e percepções, traçar o perfil dos pais e as necessidades ainda existentes sobre o tema. Na Tabela 1, descrevemos os dados sociográficos dos sujeitos da pesquisa, sob a perspectiva da Idade e Estado Civil. Tabela 1. Dados sociográficos dos sujeitos da pesquisa - Idade e estado civil IDADE ESTADO CIVIL Dados Percentual Dados Percentual 19 a 25 22,50 Casados 60,00 26 a 32 35,00 Amasiados 30,00 33 a 39 30,00 Solteiros 10,00 40 a 46 10,00 47 a 53 - 54 a 60 2,50 Dados Sociográficos – Idade e Estado Civil As idades dos pais participantes da pesquisa variaram entre 19 e 58 anos. A maioria compreendida entre 26 e 39 anos (26, 65%). A hipótese de que pais mais velhos poderiam ter maior conhecimento a respeito do aleitamento materno foi confirmada, mas em grande parte nas entrevistas de pais que já tinham tido outros filhos. Em muitas falas surgiu a afirmação de nunca terem parado para pensar acerca da amamentação e suas conseqüências, até terem tido problemas diretos com relação a isso como por exemplo a rejeição do seio materno pela criança; ausência de bico para sucção; ocorrência de fatores desencadeantes da estiagem do leite materno como susto e estresse em situações adversas; e necessidade de complementação do leite materno. Quanto ao estado civil, a maioria dos homens se declarou casado (24; 60%), e outra grande parte em um relacionamento estável (12; 30%) e poucos solteiros (4; 10%). Apesar do número de casais unidos legalmente estar sendo cada vez menor, a presença do pai na criação e desenvolvimento de seus filhos tem sido altamente exigida pela família, pela mãe das crianças e pela própria sociedade. Nesse sentido, a maior participação dos pais no espaço. Com vistas à escolaridade, apresentadas na Tabela 2, grande parte dos pais entrevistados (37,5%) disse ter concluído o segundo 2º grau, e apenas 2 pais (5%) tinham terceiro grau completo. Quanto maior o grau de instrução dos pais, maiores suas chances de entender e modificar a realidade de que faz parte. Entretanto, isso não se mostrou uma constante nas entrevistas realizadas. Apesar disso houve evidências de que quanto maior a escolaridade, maior o interesse demonstrado pelos pais em buscar informações concernentes a hábitos 928 Participação paterna... RESENDE, T. C. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 que ajudassem suas companheiras e seus filhos, a exemplo do auxílio de médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais de saúde citados durante as entrevistas. Apesar de 15 dos 40 pais terem concluído o 2º grau, o conhecimento sobre aleitamento materno não esteve ligado diretamente ao maior grau de instrução, assim como não esteve ligado à área de trabalho desse pai. As profissões citadas nas entrevistas foram as mais variadas possíveis, com ênfase para vigilantes (10%), motoristas (7,5%), pedreiros (7,5%), microempresários (7,5%), vendedores (5%), mecânicos (5%), frentistas (5%), e operadores de produção (5%), que foram citadas mais de uma vez. Profissões citadas apenas uma vez: Administrador, armador, auxiliar de serralheiro, cabeleireiro, carregador, chapeiro, eletricista, estudante, garimpeiro, instalador de antenas, montador de móveis, paginador, policial civil, porteiro, prateiro, segurança, serviços gerais, técnico automotivo, técnico de enfermagem e técnico de informática. Tabela 2. Dados Sociográficos - Escolaridade e profissão ESCOLARIDADE PROFISSÕES Dados Percentual Dados Percentual 1º Grau Incompleto 17,50 Vigilante 10% 1º Grau Completo 22,50 Microempresário 7,5% 2º Grau Incompleto 12,50 Motorista 7,5 % 2º Grau Completo 37,50 Frentista 5 % 3º Grau Incompleto 5,00 Mecânico 5 % 3º Grau Completo 5,00 Operador de produção 5 % Pedreiro 5 % Vendedor 5 % Outros * Dados Sociográficos – Escolaridade e Profissões Idade dos filhos em período de aleitamento materno Com relação à idade dos filhos que estavam em período de aleitamento materno, essa variou entre 1 dia e 3 anos. Destaque para os recém- nascidos de 1 e 2 dias (cuja soma foi de 16 indivíduos) e crianças de 3 dias, 5 dias, 1 mês, 2 meses e 8 meses. Demais idades encontradas foram 6 dias, 14 dias, 17 dias, 20 dias, 24 dias, 5 meses, 1 ano, 2 anos e 3 anos, as quais apareceram de maneira esparsa no somatório. É relevante destacar a quantidade de recém-nascidos de dias na pesquisa, fato decorrente da escolha de um dos campos de coleta de dados: a maternidade. Das 40 crianças referentes aos 40 pais sujeitos da pesquisa, notamos que 7 (17,50 %)estavam acima da idade preconizada como de aleitamento materno exclusivo pela OMS – Organização Mundial de Saúde, que vai até os 6 meses de vida, podendo ser estendido até os 2 anos de idade como a melhor maneira de nutrir a criança. Para descrição de dados mais fidedignos, as 7 crianças que ainda o aleitamento materno em idade superior aos 6 meses só poderiam ser específicas do ambulatório de pediatria, onde foram entrevistados 15 pais. Locais de realização da pesquisa A pesquisa foi desenvolvida nos setores de Maternidade, Ambulatório de pediatria e Ambulatório de ginecologia e obstetrícia do Hospital de Clínicas de Uberlândia (HC-UFU), realizada através de entrevistas individuais e semi- estruturadas. Foram escolhidos esses locais pelo fato dos mesmos serem passiveis de contar com a presença dos pais junto as puérperas. Fontes de informação sobre aleitamento materno Com relação às fontes de informação dos pais sobre aleitamento materno, a TV teve 25 citações, com uma porcentagem de 62,5%, seguida pelas informações aprendidas com as companheiras e pela família. A porcentagem relativa a cada fonte de informação foi descrita com base em toda a amostra, os 40 indivíduos. Por isso não será possível efetuar a somatória total de 100%. Mediante os dados apresentados percebemos que a intensa produção de propagandas, reportagens e programas divulgados pelos mais diversos meios de comunicação, têm mostrado resultados. Sendo a televisão o meio de comunicação mais abrangente de nosso país, não poderia lhe caber outra classificação senão a primeira, como base de informações acerca do tema 929 Participação paterna... RESENDE, T. C. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 e a família foi citada como segunda maior fonte de informação. Conhecimento sobre aleitamento “Importante para a saúde do bebê e capaz de evitar vários tipos de doença (19), A criança deve ter o aleitamento materno exclusivo por no mínimo 6 meses (16), Período crucial para a boa formação e auxílio no desenvolvimento da criança (9), A criança deve ser amamentada até os 2 anos (4), Posições da amamentação (3), Momento importante para a formação de laços (1), Nenhum (5)”. Quando indagados acerca do conhecimento que tinham sobre aleitamento materno, a maioria dos pais dizia ser uma questão fácil, mas se atrapalhava no momento de explicar. De maneira geral, começavam falando que era algo ‘importante para a saúde e capaz de evitar várias doenças’ no bebê. Mesmo sem saber exatamente o que eram anticorpos e como o leite era capaz de desenvolver tal imunidade na criança, 19 pais citaram o leite como promotor de um bom estado de saúde na criança. Complementos a tais falas eram realizados somente a partir de questionamentos e indagações das pesquisadoras. Seguido a isso, 16 pais referiram que o aleitamento materno deveria ser realizado por no mínimo 6 meses, sendo que desses, 5 afirmaram a necessidade de se evitar a ingestão de outras substâncias e alimentos, tais como água e papinha. Em seguida 9 pais citaram o aleitamento como essencial à boa formação e desenvolvimento da criança; 4 pais referiram ser necessário amamentar até os dois anos; 3 pais comentaram sobre as posições que podem ser utilizadas durante o aleitamento e 1 pai citou ser um momento importante para a formação de laços. Em análise às categorias apresentadas anteriormente, pode-se dizer que: 1) Alguns pais possam ter confundido informações recebidas, sendo que é indicado que o aleitamento ocorra até os dois anos, mas não o aleitamento materno exclusivo, como todos o referiram ser; 2) Não é comum que pais saibam acerca das opções de posição para o aleitamento; tal fato pode ser explicado como decorrente de uma palestra ministrada na maternidade, que abordou o tema na semana da coleta de dados; 3) Sobre ser um momento importante para a formação de laços, foi um dado citado por apenas um pai, mas entendemos ser condescendente ao tópico da pesquisa. Conhecimento sobre fatores que interferem no aleitamento natural “Estado emocional alterado (22), Situações relacionadas à pega do seio e forma de amamentar (14), Alimentação inadequada (12), Não sei (12)”. Dentre 40 pais, 12 não se dispuseram nem a tentar responder, dizendo somente que não sabiam o que poderia fazer a mãe parar de amamentar. Em meio aos demais, 22 pais responderam ‘estado emocional alterado’, caracterizado, sobretudo por nervosismo, estresse, falta de companheirismo e baixa auto-estima. Foi evidente que alguns desses pais já tinham passado por situações características em gestações anteriores de suas companheiras. Em seguida, 14 pais relataram situações relacionadas à pega errônea do seio e forma de amamentar, tais como: bebê rejeitar o seio, não sugar de forma adequada, ausência de bico para sucção, secagem ou ingurgitamento da mama, falta de segurança para o procedimento e desconhecimento sobre posições alternativas. Alocuções relacionadas à alimentação inadequada surgiram 12 vezes. O alto índice de pais que referiu não saber descrever fatores que influenciassem no aleitamento materno natural e o número de pais que só sabia por ter enfrentado situações do tipo em gestações anteriores, pode ser um reflexo da ausência de práticas de educação em saúde nos serviços de base. Locais responsáveis pelo desenvolvimento e acompanhamento do pré-natal, devem ser mais próximos dos pais ao longo do desenvolvimento da criança. Contribuições que o pai pode efetuar no período de aleitamento materno “Cuidados à criança (17), Ajuda nos afazeres domésticos (16), Acompanhando e apoiando a mulher (15), Oferecendo amor, carinho e atenção (10), Evitando situações de estresse e hábitos inadequados (5), Incentivando a mãe para não parar o aleitamento materno (4), É um momento dela e dele (4)” A fala do entrevistado 6 resume bem a maioria dos aspectos abordados pelos demais pais em resposta a essa pergunta. Entretanto, o discurso mais proferido nesse momento esteve ligado ao cuidado que poderia ser desempenhado com a criança, no intuito de ajudar a mãe, que se encontrava em um momento difícil e notoriamente sensível. 930 Participação paterna... RESENDE, T. C. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 Os principais cuidados referidos foram: trocar, dar banho, ninar e pegar para arrotar. Ajudar nos afazeres domésticos foi a segunda contribuição mais lembrada, citada 16 vezes. Acompanhar e apoiar a mãe foram citados 15 vezes, enquanto que oferecer amor, carinho e atenção, 10 vezes. Optamos por dividir as falas referentes aos dois últimos tópicos por entender um sentido diferente no discurso dos pais. Quando falavam em acompanhar e apoiar era uma ação concernente a ir junto com a mãe em instituições, consultas de puerpério, entre outros. Quando referiam amor e carinho, enfocavam no sentimento específico para com a mulher e o momento de fragilidade que estava passando. Evitar situações de estresse e hábitos inadequados foi citado 5 vezes, enquanto que incentivo para não parar o aleitamento materno, 4 vezes. Ainda nessa categoria, 4 pais afirmaram ser esse, um momento da companheira e do filho, não podendo contribuir em nada. Mesmo com todo o esforço que tem sido feito em prol do reconhecimento da importância do aleitamento materno, existe um déficit que deve ser sanado o quanto antes. Informação mais importante ao PAI nesse momento “O pai deve: Acompanhar a mulher em todos os momentos (17), Saber a importância que o aleitamento materno traz para a mãe e o bebê (9), Buscar se inteirar da situação do filho e ser bem instruído acerca dos principais cuidados com ele (6), Organizar um ambiente tranqüilo em casa (5), Descobrir as melhores formas de ajudar a mãe (3), Saber sobre amamentação no geral (2), Não sei (4)”. A pesquisa teve seu encerramento na pergunta que consideramos ser a mais importante do roteiro e também a que demonstrava o real envolvimento do pai com sua companheira e seu filho (a) no pós-parto. Ao fazermos a pergunta, criávamos todo um contexto, pedindo que o pai imaginasse que seriam produzidos para ele um folder, uma propaganda ou um cartaz. Muitos transpareciam surpresa e satisfação, citando que as orientações sempre eram focadas na mulher, enquanto que para outros foi indiferente. Da amostra total, a fala ‘Acompanhar a mulher em todos os momentos’ foi a que mais apareceu. Nesse tópico consideramos as citações de companheirismo, colaboração, apoio, participação, compreensão e paciência, a exemplo de falas dos entrevistados 7, 18 e 20. Em segundo lugar obtivemos o tópico ‘Importância que o aleitamento materno traz para a mãe e o bebê, com 9 citações. Grande parte dos pais demonstrou preocupação em favorecer o aleitamento materno do filho pelo maior tempo possível, mesmo sem entender de fato os benefícios que a ação poderia trazer. Em terceiro lugar foi estabelecido o tópico ‘Se inteirar da situação do filho e dos principais cuidados com ele’. Seis pais frisaram a importância de se buscar informações gerais, mas acima disso, buscar soluções para resolverem problemas específicos de seus filhos. Cada uma das 6 falas trouxe consigo o relato de problemas de saúde ou de situações do cotidiano vivenciadas no período. Em quarto lugar, ‘Organizar um ambiente tranqüilo em casa’, sendo tópico citado por 5 pais. Entendemos que essa foi uma preocupação distinta e relevante no universo da pesquisa, demonstrando a apreensão de muitos para que houvesse a rápida recuperação da companheira. Em quinto lugar, ‘Melhores formas de ajudar a mãe’, sendo tópico citado por 3 pais. Junto ao sentido de responsabilidade trazido anteriormente, Falceto et al. (2008) e Oliveira e Brito (2009), abordam que quando os homens participam ativamente da experiência do parto e do puerpério, interagem desenvolvendo ações de natureza diversa e passando a ter mais respeito e proximidade com suas mulheres. Um dos pais fez uma observação interessante, destacando as que informações do folheto ou do cartaz poderiam vir em tópicos. No que concerne à orientação direcionada aos pais, muitos deram a entender que poderia ser algo mais específico, dinâmico e prático. Que não tinham paciência pra ficar lendo folders do assunto nem assistindo palestras da área, a não ser que o filho ou a companheira estivessem passando por problemas que necessitassem seu empenho. Quando o pai propõe que o material a ser elaborado seja na forma de tópicos, nos responde o que perguntamos, nos dando uma verdadeira solução e não apenas criticando o processo. Em sexto lugar, o tópico foi ‘Amamentação no geral’, citado por 2 pais. Sem relevância explícita na análise dos dados, esse só foi citado por poder ser resultado do tema da pesquisa e de todas as perguntas realizadas anteriormente. O fechamento da categoria temática será feito por duas falas específicas, únicas, e consideradas de grande valor para a pesquisa. 931 Participação paterna... RESENDE, T. C. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 A primeira diz respeito à consideração de um pai que participou de todo o pré-natal da companheira, durante as consultas médicas, de enfermagem, nos grupos de gestante e também nas reuniões promovidas na própria maternidade, com a mulher já em período puerperal. Esse demonstrou segurança ao longo de parte das respostas da entrevista. O outro pai se concentrou na análise da imagem da mãe e do bebê durante o aleitamento materno como capa dos folhetos existentes atualmente. Destacou que a figura paterna é naturalmente excluído do processo, seja na família, nos serviços de saúde, e até mesmo nos folders distribuídos. Cabe dizer que mesmo em número reduzido, esses pais têm ganhado espaço. A nova figura de pai tem-se feito presente e dominante em nosso cotidiano. Suas ações têm sido entendidas como repletas de significados num contexto social e cultural capazes de abarcar todas as modificações sofridas nos papéis familiares recentemente. Transformações que tendem a tornar o cuidado do pai uma constante e não algo incipiente como foi durante muito tempo. Uma figura essencial para a formação e desenvolvimento físico-psico-social do filho. CONCLUSÃO A realização da pesquisa nos levou a compreender sentimentos vivenciados pelo pai e algumas de suas contribuições no processo do aleitamento materno. Pode-se entender como os mais variados fatores podem ser comuns entre indivíduos que estejam passando pela mesma situação, bem como perceber os tipos de contribuição que o pai pode oferecer à companheira, ao recém-nascido e à família. A visualização da sua figura de pai no período do aleitamento materno pode acontecer de uma maneira tranquila e natural, comum àqueles casais em um relacionamento bem estruturado e cujo diálogo funciona como uma das principais ferramentas de respeito e manutenção da relação; ou de forma negligente e alheia, caracterizada por pais ainda pertencentes à época em que a figura paterna não era observada de forma qualitativa, mas sim preocupada apenas com o suprimento material do filho, esquecendo-se que sua participação na formação psico-social é fundamental. Almeja-se a promoção de maior investimento para proporcionar condições de participação desde o início do pré-natal acompanhando a gestação de suas companheiras desde os atendimentos na Rede Básica de Atenção até a maternidade. A partir da análise realizada, entendemos que estes dados servem de fonte para equipes do HC-UFU e de outras Instituições de saúde na criação de planos e políticas públicas que insiram o homem nessa fase tão importante da vida da mulher e da criança. Ficam como sugestões: a produção de folders com a imagem da família no momento da amamentação e conteúdo relacionado às principais formas do pai ajudar a mulher nesse momento disposto em tópicos; promoção de espaços e momentos voltados especificamente ao pai e suas dúvidas; capacitação de equipes de saúde que trabalhem diretamente com esses pais, no sentido de repassarem informações de maneira clara, dinâmica, prestativa e eficiente, além de compreenderem as principais ações que esses pais podem exercer; e despertar junto à Prefeitura campanhas fora de época, e não apenas no período de datas comemorativas, como na Semana Mundial da Amamentação, para melhor entendimento e aceite do tema no universo paterno. ABSTRACT: Breastfeeding is essential for the promotion and protection of children's health, a fact widely reported in national and global campaigns. In this context it is important to point out the role and paternal feelings in this regard, yet little discussed in the literature. The overall objective of the study was to present the feelings reported by parents and their contribution in the breastfeeding process; present the sociographic profile of the subjects, since usually experience news and challenges during the period of breastfeeding. Descriptive, qualitative research conducted through semi-structured interviews. Were subjects parents aged from eighteen, whose children were in the breastfeeding period and who agreed to participate in the study. Was developed in a pediatric, gynecology and obstetrics ambulatory in Uberlândia, MG. The sample consisted of 40 subjects and data collection instrument consists of an introductory part for the characterization of them and another to explore feelings and perceptions of parents regarding this process. The results showed the prevalence of parents aged 25 years, married, with 2 high school degree, with children of breastfeeding age between one and two days. As to the form of knowledge and information about the breastfeeding and the period, the TV was cited as the primary mean of information about breastfeeding . Childcare and household chores were cited as key contributions made by the father in this period. Information deemed to be the most important was the need to monitor the woman at all times of breastfeeding. It is understood to be imperative and increased training of health professionals and the 932 Participação paterna... RESENDE, T. C. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 30, n. 3, p. 925-932, May/June, 2014 involvement of other professionals, in addition to mother and baby during breastfeeding. Fathers should be understood as essential subjects in child care and companions and therefore should be helped in this regard. The results of the study can be used as sources in the hospital where the study was conducted, as well as other institutions. Is reiterated the man is in such important stage of life , an important ally for both mother and baby. KEYWORDS: Breastfeeding. Fatherly behavior. Father-Child relationship. REFERÊNCIAS BOCCOLINI, C. S.; CARVALHO, M. L.; OLIVEIRA, M. I. C.; VASCONCELLOS, A. G. G. Fatores associados à amamentação na primeira hora de vida. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 45, n. 1, p. 69- 78, fev. 2011. BRITO, R. S.; OLIVEIRA, E. M. F. Aleitamento materno: mudanças ocorridas na vida conjugal do pai. Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre, v. 27, n. 2, p. 193-202, jun. 2006. CHIZZOTTI, A. 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