BIOSCIENCE V.22 N.2 2006 Original Article 23 E F E I TO D O U S O D E Ó L E O S V E G E TA I S , A S S O C I A D O S O U N Ã O A INSETICIDA, NA EFICÁCIA DE CONTROLE DE Bemisia tabaci (GENNADIUS, 1889) E Thrips tabaci (LIND., 1888), EM FEIJOEIRO COMUM NA ÉPOCA “DE INVERNO” EFFECTS OF THE USE OF PLANT OILS ASSOCIATED OR NOT TO PESTICIDE, ON THE CONTROL OF Bemisia tabaci (GENNADIUS) AND Thrips tabaci (LIND., 1888), IN BEAN PLANTS DURING THE “WINTER” SEASON Arlindo Leal BOIÇA JUNIOR1; Marina Robles ANGELINI2; Glauberto Moderno COSTA3 RESUMO: O presente trabalho teve por objetivo avaliar o controle de Bemisia tabaci (Genn.) (Hemiptera: Aleyrodidae) e Thrips tabaci (Lind.) (Thysanoptera: Thripidae), através do uso de óleos vegetais associados ou não a inseticida, em feijoeiro, além de verificar as conseqüências na produtividade. O experimento foi conduzido no período “de inverno”, utilizando-se o genótipo Carioca, delineamento estatístico de blocos casualizados e empregando- se um esquema fatorial 6x2 (óleos vegetais versus inseticida), num total de 12 tratamentos e quatro repetições. Para B. tabaci, os tratamentos associados com inseticida apresentaram menores números de ninfas, porém revelaram maiores índices de mosaico dourado, sugerindo que na safra de “inverno” o controle com óleos vegetais sem inseticida parece ser suficiente, uma vez que não ocorreu influência sobre a produtividade. O uso de óleos vegetais proporcionou um bom controle do tripes, não comprometendo a produtividade. Todavia, os maiores dados de produtividade foram alcançados ao usar-se óleos vegetais associados ao inseticida methamidophós. PALAVRAS-CHAVE: Mosca branca. Tripes. Controle. Óleos vegetais. INTRODUÇÃO O feijoeiro comum destaca-se como importante fonte de proteína na dieta alimentar do povo brasileiro e devido a boa adaptação às condições edafoclimáticas, a cultura faz parte da maioria dos sistemas produtivos dos pequenos e médios produtores (YOKOYAMA et al., 1996). Na safra agrícola de 2004/2005 a produção nacional desta leguminosa foi de 3,17 milhões de toneladas tendo o estado de São Paulo como o quinto maior produtor, suplantado por Paraná, Minas Gerais, Bahia e Goiás, respectivamente (AGRIANUAL, 2005). Apesar da produção e a área plantada terem aumentado nos últimos anos, a produtividade média no Brasil ainda é considerada baixa diante daquela alcançada pelos outros países produtores. Entre os fatores que podem ocasionar a baixa produtividade da cultura, deve- se dispensar especial atenção aos insetos-praga, que ocorrem desde a semeadura até ao armazenamento do produto (MAGALHÃES e CARVALHO, 1988), merecendo destaque a mosca branca, Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae) e o tripes, Thrips tabaci (Lindernam, 1888) (Thysanoptera, Thripidae). O principal prejuízo causado pela mosca branca à cultura do feijoeiro é a transmissão do vírus do mosaico dourado. Mesmo em baixas populações da mosca branca, o maior prejuízo à cultura é aquele relacionado com a transmissão de moléstias provocadas por vírus (COSTA e CARVALHO, 1960). Ao trabalhar com esta praga nesta cultura, Tomaso (1993) constatou que os maiores prejuízos ao feijoeiro ocorrem quando a infecção aparece até 30 dias após a emergência, podendo atingir prejuízos de até 100% sob altas populações da praga, conforme 1 Professor, Doutor, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista. 2 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista. 3 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista. Received: 11/01/06 Accept: 25/05/06 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 24 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 Efeito do uso de óleos vegetais, associados ou não a inseticida, na... BOIÇA JÚNIOR, A. L. et al. observações de Haji et. al., (1997). Já o Thrips tabaci, ao sugar a seiva, provoca o amarelecimento e até mesmo a queda das folhas (GALLO et al., 2002). O controle químico tem sido a forma mais utilizada pelos agricultores para o controle dessas pragas, devido a sua disponibilidade no comércio, facilidade de aplicação e efeito rápido, sendo muitas vezes realizadas aplicações indevidas. Esse procedimento resulta em problemas não só para os aplicadores dos produtos, mas também para os consumidores e contribui para a ressurgência de pragas, resistência dos insetos aos ingredientes ativos, além da contaminação ambiental. Sendo assim, torna-se necessário a implantação de técnicas de controle com potencial de uso no manejo integrado de pragas, podendo destacar a utilização de variedades resistentes, rotação de cultura, época de semeaduras, uso de fertilizantes, determinação do nível de dano econômico, a utilização do controle químico, biológico, físico etc. (MUÇOUÇAH, 1994). Assim, dentro das estratégias do controle integrado, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o controle de B. tabaci e T. tabaci, em feijoeiro comum, por meio do uso de óleos vegetais associados ou não a inseticida, além de verificar as conseqüências na produtividade dessa cultura. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em condições de campo, em solo classificado como Latossolo Vermelho Escuro a Moderado Distrófico (EMBRAPA, 1999) textura argilosa, na área experimental da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Campus de Jaboticabal/ Unesp. A cultivar utilizada foi a Carioca, que segundo BOIÇA JR. e VENDRAMIM (1986) mostra-se com certa suscetibilidade ao ataque da mosca branca. Utilizou-se o delineamento estatístico em blocos casualizados, empregando-se um esquema fatorial 6x2 (óleos vegetais versus inseticida). Cada experimento constituiu-se de quatro repetições e 12 tratamentos, correspondentes ao que segue: óleo vegetal de soja sem inseticida; óleo vegetal de soja com inseticida; óleo vegetal de girassol sem inseticida; óleo vegetal de girassol com inseticida, óleo vegetal de milho sem inseticida; óleo vegetal de milho com inseticida; óleo vegetal de canola sem inseticida; óleo vegetal de canola com inseticida; Agrex óleo vegetal (922 g i.a. /l) sem inseticida; Agrex óleo vegetal (922 i.a.l) com inseticida; testemunha sem inseticida e testemunha com inseticida. O inseticida utilizado foi o methamidophós BR na dosagem de 0,8 l/ha, enquanto que os óleos vegetais foram empregados na concentração de 1%. Como espalhante adesivo utilizou-se o Extravon na dose de 30ml/100 L de água, naqueles tratamentos em que aplicou-se os produtos. O espaçamento utilizado foi de 0,60m na entre linha, numa densidade ao redor de 15 sementes por metro linear. Cada parcela experimental foi constituída de 6 linhas de 5,00m de comprimento, perfazendo-se uma área de 15,00m2 por parcela, com área total de 720,00m2. Como parcela útil foram consideradas as 4 linhas centrais, despresando-se 0,50m nas suas extremidades, perfazendo assim uma área útil de 9,60m2/parcela. Na adubação de semeadura, empregou-se 200 kg/ ha do adubo correspondente a fórmula 0-30-10. Aos 25 dias após a emergência das plantas, efetuou-se uma adubação de cobertura empregando-se 200 kg/ha de sulfato de amônio. O controle de plantas daninhas foi realizado através de duas capinas mecânicas, realizadas aos 20 e 40 dias após a emergência das plantas. As aplicações dos óleos vegetais associados ou não ao inseticida methamidophós foram realizadas semanalmente, no período de 7 aos 42 dias após a emergência das plantas conforme Boiça Júnior e Pereira (2003), por meio de pulverizador manual costal, procurando atingir principalmente a página abaxial dos folíolos, pois segundo Nakano e Parra (1981), corresponde ao local preferido para oviposição e desenvolvimento das moscas brancas. As avaliações foram iniciadas 14 dias após a emergência das plantas, sendo realizadas semanalmente, até completarem 50 dias. Em cada avaliação coletou-se dez folíolos por área útil e, com auxílio de um estereoscópio, avaliou-se o número de ninfas de mosca branca. Os folíolos foram coletados na parte mediana das plantas que de acordo com Rossetto et al. (1974) e Tomaso (1993) constitui-se o local de maior preferência pelos insetos em efetuar as posturas. Após 50 dias da emergência das plantas foram avaliados o número de plantas com sintomas de mosaico dourado e o total delas na área útil da parcela, calculando- se assim a porcentagem de plantas com sintomas de mosaico dourado, além de ser observada a porcentagem visual dos sintomas do mosaico dourado. A colheita foi realizada após a maturação fisiológica, na área útil de cada parcela, realizando-se as seguintes avaliações: peso e número de vagens, peso e número de grãos e o número de plantas existentes. Os dados obtidos nas avaliações foram transformados em (x + 0,5)1/2, enquanto os dados da avaliação do mosaico dourado foram transformados em 25 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 Efeito do uso de óleos vegetais, associados ou não a inseticida, na... BOIÇA JÚNIOR, A. L. et al. arc sen (x + 1,0/100)1/2 e para os produção não efetuou- se qualquer transformação. Todos os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, e, quando estes foram significativos, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliação da infestação de B. tabaci e da incidência do Vírus do Mosaico Dourado. Para B. tabaci, nas seis avaliações realizadas, não constatou-se diferença estatística quanto às médias do número de ninfas entre os óleos vegetais, decorrentes da baixa infestação que ocorreu na safra “de inverno” (Tabela 1). Em relação à aplicação ou não do inseticida methamidophós, adicionado junto ao óleo vegetal, observou-se diferença significativa apenas nas avaliações de 21 e 42 dias após a emergência das plantas, em que os menores índices de ninfas foram obtidos nos tratamentos nos quais adicionou-se o referido inseticida aos óleos vegetais, o que favoreceu o controle da praga, conforme registrado na Tabela 1. O mesmo não ocorreu para a interação óleos vegetais versus inseticida, sugerindo proporcionarem o mesmo controle sobre B. tabaci. Tabela 1. Número médio de ninfas de mosca branca por folíolo, obtidos em plantas de feijoeiro pulverizadas com óleos vegetais associados ou não a inseticida, em seis amostragens, na época “de inverno”. Jaboticabal/SP. Dias após a emergência das plantas1 Óleos vegetais (OV) 07 dias 14 dias 21 dias 28 dias 35 dias 42 dias Óleo de soja 1,0122a 1,0183a 1,0424a 1,0534a 1,0000a 1,0342a Óleo de girassol 1,0180a 1,0061a 1,0236a 1,0342a 1,0122a 1,0302a Óleo de milho 1,0305a 1,0183a 1,0538a 1,0441a 1,0183a 1,0000a Óleo de canola 1,0119a 1,0061a 1,0424a 1,0061a 1,0000a 1,0183a Agrex Óleo vegetal 1,0239a 1,0000a 1,0061a 1,0061a 1,0122a 1,0236a Testemunha 1,0472a 1,0297a 1,0356a 1,0000a 1,0180a 1,0670a F (OV) 0,9224ns 1,4616ns 1,3817ns 0,7397ns 1,1457ns 1,5262ns D.M.S. 0,0598 0,0387 0,0614 0,1131 0,0331 0,0767 Inseticida (I) Io (sem) 1,0318a 1,0180a 1,0458a 1,0251a 1,0121a 1,0496a I (com) 1,0161a 1,0081a 1,0222b 1,0228a 1,0081a 1,0081b F (I) 1,8997ns 1,7932ns 4,0578* 0,0114ns 0,3961ns 8,0324** D.M.S. 0,0233 0,0151 0,0239 0,0440 0,0129 0,0298 Interação F (OV x I) 1,2444ns 2,1559ns 0,9625ns 1,1976ns 1,1310ns 2,2154ns 1- Médias seguidas de letras diferentes, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (dados transformados em (x + 0,5)1/2). Quanto à incidência do vírus do mosaico dourado observa-se pelos dados apresentados na Tabela 2 que, não ocorreu diferença estatística entre os óleos vegetais e a testemunha, embora as maiores porcentagens de sintoma ocorreram nos tratamentos pulverizados com Agrex óleo vegetal. A adição ou não do inseticida, considerando-se a média dos cinco óleos vegetais mais a testemunha em conjunto, mostra que não ocorreram diferenças estatísticas significativas na presença ou ausência do inseticida, em função da baixa infestação de B.tabaci e conseqüentemente da pouca incidência de mosaico dourado nesta época de plantio do feijoeiro (Tabela 2). No que se refere à interação entre óleos vegetais versus inseticida, verificam-se diferenças significativas (Tabela 2). Para o efeito dos diferentes óleos vegetais associado ao inseticida (Tabela 3), o tratamento Agrex óleo vegetal foi o que apresentou maior porcentagem de 26 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 Efeito do uso de óleos vegetais, associados ou não a inseticida, na... BOIÇA JÚNIOR, A. L. et al. sintoma de mosaico dourado, quando comparado a testemunha e os demais óleos, evidenciando nesses um melhor controle da praga. Quanto ao efeito da aplicação do inseticida associado aos diferentes óleos vegetais (Tabela 3), verifica-se diferenças significativas, uma vez que o uso do produto químico proporcionou um aumento na população do inseto quando associado ao Agrex óleo e reduziu na testemunha. Os óleos de milho e canola sem o emprego de inseticida reduziram a população de B. tabaci, concordando com os relatos de Nardo et al. (1986), que ao estudar o uso de óleos emulsionáveis, um de origem vegetal e outro de origem mineral, em feijoeiro de duas variedades (Moruna e Jalo), visando o controle de pragas, concluíram, para o vírus do mosaico dourado, que as plantas-testemunhas apresentaram infecção de 60%, enquanto as pulverizadas com óleo apresentaram uma infecção reduzida de 16% para a variedade Moruna e 17% para a variedade Jalo com o uso de óleo vegetal, e de 18% para a variedade Moruna e 27% para a variedade Jalo quando da aplicação de óleo mineral. Tabela 2. Porcentagem média de plantas e visual dos sintomas do mosaico dourado na área útil da parcela, em plantas de feijoeiro comum, pulverizadas com óleos vegetais associados ou não a inseticida, na época “de inverno”. Jaboticabal/SP. Óleos vegetais (OV) Porcentagem de plantas com Porcentagem visual dos sintomas do sintomas do Mosaico Dourado1 Mosaico Dourado1 Óleo de soja 15,9535a 16,1254a Óleo de girasol 16,3258a 16,7833a Óleo de milho 18,1295a 18,8299a Óleo de canola 16,4079a 17,6280a Agrex óleo vegetal 22,1618a 23,1602a Testemunha 17,8945a 18,2250a F (OV) 1,7758ns 2,2138ns D.M.S. 7,4072 7,1733 Inseticida (I) Io (sem) 17,7654a 18,1054a I (com) 17,8590a 18,7785a F (I) 0,0044ns 0,2414ns D.M.S. 2,8804 2,7895 Interação 5,1203** 2,8606* F (OV x I) 1- Médias seguidas de letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (dados transformados em arc sen (x + 1,0)/1001/2). 27 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 Efeito do uso de óleos vegetais, associados ou não a inseticida, na... BOIÇA JÚNIOR, A. L. et al. Tabela 3. Valores da análise do desdobramento da interação entre óleos vegetais versus inseticidas, obtidos em plantas de feijoeiro comum referentes a porcentagem média de plantas e visual dos sintomas de mosaico dourado na época “de inverno”. Jaboticabal/SP. Porcentagem de plantas com sintomas de mosaico dourado1 Óleos vegetais Io (sem) I (com) F (inseticida) Óleo de soja 18,7331aA 13,1739bA 2,5730ns Óleo de girassol 17,1536aA 15,4980bA 0,2282ns Óleo de milho 15,8575aA 20,4016bA 1,7191ns Óleo de canola 15,3439aA 17,4670bA 0,3735ns Agrex Óleo vegetal 16,3137aB 28,0098aA 11,3893** Testemunha 23,1855aA 12,6035bB 9,3228** F (Óleos Vegetais) 1,4078ns 5,4883** Porcentagem visual dos sintomas de mosaico dourado1 Óleos vegetais Io (sem) I (com) F (inseticida) Óleo de soja 16,7743aA 15,4766bA 0,1495ns Óleo de girassol 18,0901aA 15,4766bA 0,6064ns Óleo de milho 16,1138aA 21,3460bA 2,4302ns Óleo de canola 16,5055aA 18,7505bA 0,4474ns Agrex Óleo vegetal 19,1241aB 27,1963aA 5,7844* Testemunha 22,0245aA 14,4254bB 5,1264* F (Óleos Vegetais) 0,8769ns 4,1975** 1-Médias seguidas de letras diferentes, minúscula na linha e maiúscula na coluna, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (dados transformados em arc sen (x + 1,0)/1001/2). Avaliação da infestação de T. tabaci Pelos dados apresentados na Tabela 4, observa- se que houve diferenças estatísticas entre as médias dos tratamentos somente na avaliação realizada aos 28 dias após a emergências das plantas, em que o menor número de insetos ocorreu quando aplicou-se óleo de girassol, e em maior número de ninfas e adultos de tripes quando da aplicação do produto Agrex óleo vegetal. Em relação à adição ou não de inseticida methamidophós , ainda apresentado na Tabela 4, observa- se diferenças estatísticas significativas nas avaliações de 7, 21, 35 e 42 dias após a emergência das plantas. Nesse caso, as plantas pulverizadas com óleos vegetais associados ao inseticida apresentaram menor infestação de T. tabaci quando comparadas aos tratamentos sem esta associação. Ainda pelos dados apresentados na mesma tabela, observa-se que não ocorreu diferenças estatísticas entre os tratamentos (Tabela 4) quanto à interação óleos vegetais versus o inseticida usado. 28 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 Efeito do uso de óleos vegetais, associados ou não a inseticida, na... BOIÇA JÚNIOR, A. L. et al. Tabela 4. Número médio de ninfas e adultos de tripes por folíolo, obtidos em plantas de feijoeiro comum pulverizadas com óleos vegetais associados ou não ao inseticida methamidophós, em seis amostragens, na época “de inverno”. Jaboticabal/SP. Dias após a emergência das plantas1 Óleos vegetais (OV) 07 dias 14 dias 21 dias 28 dias 35 dias 42 dias Óleo de Soja 1,0361a 1,0526a 1,0363a 1,0236ab 1,0241a 1,0183a Óleo de Girassol 1,0711a 1,0361a 1,0772a 1,0244b 1,0119a 1,0585a Óleo de Milho 1,0241a 1,0411a 1,0553a 1,0183ab 1,0575a 1,0358a Óleo de Canola 1,0650a 1,0361a 1,0777a 1,0241ab 1,0241a 1,0836a Agrex Óleo Vegetal 1,0536a 1,0241a 1,0358a 1,0767a 1,0302a 1,1210a Testemunha 1,0994a 1,0417a 1,0708a 1,0180b 1,0926a 1,1172a F (OV) 2,2836ns 0,2426ns 1,1525ns 2,8103* 1,4715ns 1,6304ns D.M.S. 0,0757 0,0809 0,0678 0,0577 0,1053 0,1417 Inseticida (I) Io (sem) 1,0786a 1,0456a 1,0753a 1,0359a 1,0610a 1,1168a I (com) 1,0378b 1,0317a 1,0418b 1,0258a 1,0192b 1,0280b F (I) 7,9344** 0,8058ns 6,6675* 0,8353ns 4,3303* 10,7563** D.M.S. 0,0294 0,0315 0,0264 0,0224 0,0409 0,0551 Interação F (OV x I) 0,0112ns 0,6544ns 1,9573ns 0,6997ns 2,1888ns 0,0551ns 1- Médias seguidas de letras diferentes, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (dados transformados em (x + 0,5)1/2). Análise dos dados de produtividade Quanto aos dados de produtividade (peso e número de vagens, peso e número de grãos e o número de plantas), apresentados na Tabela 5, observa-se que não houve diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos. Assim, pode-se dizer que os óleos vegetais associados ou não ao inseticida methamidophós não influenciam na produtividade da cultura nessa época de semeadura. Esses resultados diferem dos encontrados por Nardo et al. (1991), ao comparar o efeito de inseticida, de interferentes de inoculação e a mistura deles no controle do vírus do mosaico dourado do feijoeiro. Esses autores concluíram que a testemunha com 50% de infecção e produção de 342 kg/ha diferiu dos demais tratamentos (aldicab + extrato aquoso de folhas e frutos de Melia azedarach 10%; extrato de Melia azedarach + óleo vegetal 1%; metamidophós 1,0 l/ha e metamidophos + óleo vegetal 1%). O mesmo ocorre quando considera-se a média dos cinco óleos vegetais utilizados mais a testemunha, porém, houve uma tendência de maiores valores de produtividade quando associou-se inseticida aos óleos vegetais, mesmo não observando diferença significativa em nenhum dos dados de produtividade, quando da interação entre óleos vegetais versus o inseticida utilizado. 29 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 Efeito do uso de óleos vegetais, associados ou não a inseticida, na... BOIÇA JÚNIOR, A. L. et al. Tabela 5. Número de vagens e grãos por planta, peso de vagens e grão por planta e número de plantas, obtidos em plantas de feijoeiro comum pulverizadas com óleos vegetais associados ou não a inseticida methamidophós, na época “de inverno”. Jaboticabal/SP. Òleos vegetais (OV) Número de Peso de vagens Número de Peso de grãos Número de vagens/planta (g/planta) grãos/planta (g/planta) plantas Óleo de Soja 14,8775a 15,1813a 67,5150a 10,6350a 51,8750a Óleo de Girassol 12,5950a 12,8588a 59,0675a 9,2150a 52,7500a Óleo de Milho 14,6275a 14,9300a 70,3850a 10,8213a 55,1250a Óleo de Canola 11,8063a 12,0463a 58,6013a 9,0688a 60,6250a Agrex Óleo Vegetal 11,8513a 12,2775a 54,8650a 8,4587a 50,6250a Testemunha 11,5488a 11,7913a 55,3600a 8,4988a 54,7500a F (OV) 0,7563ns 0,7304ns 0,4831ns 0,5850ns 1,3528ns D.M.S. 7,3264 7,4856 39,8045 5,7930 13,0118 Inseticida (I) Io (sem) 12,5204a 12,7779a 10,73a 3,31a 52,9583a I (com) 13,2483a 13,5838a 9,25a 2,91a 55,6250a F (I) 0,2706ns 0,3176ns 0,1931ns 0,2323ns 1,1511ns D.M.S. 2,8490 2,9109 15,4788 2,2527 5,0599 Interação F (OV x I) 0,9351ns 0,8545ns 1,3412ns 1,5490ns 0,9636ns Médias seguidas de letras diferentes, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade (dados sem transformação). CONCLUSÕES Pelos resultados apresentados, nota-se que não houve diferenças estatísticas significativas entre óleos vegetais e as testemunhas, sugerindo serem semelhantes quanto ao controle de mosca branca, porcentagens visual e de plantas com sintomas de mosaico dourado, número de tripes e produtividade, atribuídos à baixa população dos insetos nesta época de semeadura. Percebe-se também que os tratamentos associados com inseticida apresentaram menores números de ninfas de mosca branca, porém proporcionaram maiores índices de mosaico dourado, sugerindo que na safra de “inverno” o controle com óleos vegetais sem inseticida parece ser suficiente, uma vez que não ocorreu influência sobre a produtividade. Quanto ao número de ninfas e adultos de tripes observa-se que a população de tripes permaneceu baixa em todos os tratamentos durante as avaliações, não permitindo conclusões obvias da aplicação de óleos vegetais no controle desta praga, nesta cultura. A produtividade também não foi comprometida pelos tratamentos e pela população de tripes, porém os maiores dados de produtividade foram alcançados quando usou-se óleos vegetais associados ao inseticida methamidophós. ABSTRACT: The experiments aiming to evaluate the control of Bemisia Tabaci Genn. and Thrips tabaci Lind., through the use of plant oils associated or not to pesticide, in bean plants, besides verifying the consequences on yield. The experiment was conducted in the period of winter season, by utilizing Carioca genotype. The statistical design was the randomized blocks, by employing a 6x2 factorial scheme (plant oil versus pesticide), totalizing 12 treatments and 4 replications. For B. tabaci, the treatments associated with insecticide presented smaller numbers of nymphs, even so they presented larger indexes of gold mosaic, suggesting that in the “winter” crop the control with vegetable oils without insecticide seems to be enough, once it didn’t happen influence on the productivity. The use of 30 Biosci. J., Uberlândia, v. 22, n. 3, p. 23-31, Sept./Dec. 2006 Efeito do uso de óleos vegetais, associados ou não a inseticida, na... BOIÇA JÚNIOR, A. L. et al. vegetable oils provided a good control of the thrips, not committing the productivity, even so the largest productivity data were reached when it was used vegetable oils associated to insecticide. KEYWORDS: Whitefly. Thrips. Control. Plant oils. REFERÊNCIAS AGRIANUAL. Mercado e Perspectiva. Anuário da Agricultura Brasileira. v. 43, p. 337-339. 2005. BOIÇA JR., A. L.; VENDRAMIN, J. D. Desenvolvimento de Bemisia tabaci em genótipos de feijão. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 15, p. 231-238, 1986. 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