Microsoft Word - 2-497OK.doc Original Article Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 7 COMPARAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE TOMATE CONVENCIONAL E ORGÂNICO EM CULTIVO PROTEGIDO COMPARISON OF CONVENTIONAL AND ORGANIC TOMATO GROWING UNDER PROTECTED CULTIVATION José Magno Queiroz LUZ1; André Vinícius SHINZATO2; Monalisa Alves Diniz da SILVA3 1. Professor, Doutor em Fitotecnia, Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Uberlândia. jmagno@umuarama.ufu.br; 2. Engenheiro Agrônomo. 3. Doutora em Produção e Tecnologia de Sementes, Pesquisadora Bolsista Recém-Doutor CNPq. RESUMO: O objetivo deste trabalho foi comparar os aspectos agronômicos e econômicos da produção convencional e orgânica do tomateiro. Realizou-se um levantamento geral dos sistemas de produção convencional e orgânico do tomateiro, abordando os aspectos agronômicos (manejo, preparo do solo, métodos de controle de pragas, doenças e plantas nativas, produtividade, entre outros) e econômicos (custo de produção e lucratividade). O sistema orgânico apresentou-se agronomicamente viável, com um custo de produção 17,1% mais baixo que o convencional e lucratividade até 113,6% maior. PALAVRAS-CHAVE: Lycopersicon esculentum. Sistemas de cultivo. Tratos culturais. Economia. INTRODUÇÃO É inegável a preocupação crescente com o meio ambiente. Observa-se a retomada do crescimento da agricultura orgânica, que visa diminuir os efeitos adversos do uso de produtos químicos no ecossistema, por meio de métodos alternativos de controle de pragas e doenças, preservação das propriedades do solo, manejo de plantas daninhas, cobertura morta, adubação verde e rotação de cultura, entre outros. A perspectiva da produção orgânica de hortaliças é trabalhar com níveis de produtividade e apresentação do produto compatíveis com as necessidades da população atual e o nível de exigência do consumidor (SOUZA; SAMPAIO; COUTINHO, 1995). No Brasil, a participação da área com certificação é de 49% da área total com agricultura orgânica, sendo por ordem de importância: pastagens, frutas, cana-de-açúcar, palmito, café, soja e hortaliças (CAMARGO FILHO et al., 2004). O fato de ser o tomate uma hortaliça muito consumida “in natura”, principalmente em saladas, e a preocupação com a saúde dos consumidores devido à possibilidade de resíduos de defensivos, vem causando um aumento na procura pelo tomate orgânico, produzido sem agrotóxicos e geralmente certificado pelos órgãos como o IBD (Instituto Biodinâmico). Os consumidores de tomates orgânicos aceitam frutos com formatos e cores, não reconhecidos no mercado convencional, e estão dispostos a pagar mais por eles. A criação da legislação nacional sobre a produção orgânica de alimentos (BRASIL, 1999; PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2003) possibilitou a oficialização deste sistema de produção no país. O tomate é a segunda hortaliça mais importante do Brasil, perdendo apenas para a batata. Contudo sua condução é difícil, por ser muito susceptível a pragas e doenças e exigir vários tratos culturais, causando assim um risco econômico elevado. O uso de produtos químicos torna-se massivo. Na agricultura orgânica a redução do ataque de organismos prejudiciais ao desenvolvimento da planta é realizada através do uso de receitas caseiras, preparadas a base de extratos naturais pouco ou nada agressivos ao meio ambiente (SOUZA, 1998). Souza (1998), comparando o custo de produção de um hectare de tomate nos dois sistemas de produção, concluiu que o sistema convencional teve um custo relativo 19% mais alto que o orgânico, o correspondente a 1.268 dólares por hectare, enquanto as demais hortaliças, no mesmo estudo, obtiveram um diferencial de 14% em média. Como os preços dos produtos orgânicos são bons e costumam ter pouca variação, além do custo de produção ser menor, muitas propriedades de cultivo convencional estão se convertendo em orgânicas, apesar de se tornarem menos produtivas. De acordo com Penteado (2001) a venda direta para consumidores, feirantes, supermercados, etc., evita os intermediários, permitindo uma maior margem de lucro para o produtor. O objetivo deste estudo foi comparar os aspectos agronômicos e econômicos da produção convencional e orgânica do tomateiro. Received: 10/03/06 Accepted: 11/07/06 Comparação dos sistemas… LUZ, J. M. Q. Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 8 MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um levantamento geral dos aspectos da produção convencional e orgânica do tomateiro. Os dados do sistema orgânico foram coletados na Chácara Oyafuso, de propriedade de Marcelo Oyafuso, localizada em Araraquara-SP, que produz hortaliças orgânicas a cerca de dez anos. Já os dados do sistema convencional foram elaborados com a colaboração do Engenheiro Agrônomo Carlos Eduardo Tucci, ex-produtor e proprietário da Hortiflora, localizada em Uberlândia- MG, que é uma revenda de insumos para hortaliças e que presta assistência na cultura do tomate. Foram levantados os seguintes aspectos agronômicos: rotação de culturas, manejo e preparação do solo, tempo de preparação de um plantio para outro, cultivares utilizadas, sementes utilizadas, obtenção das mudas, época de plantio, tempo para transplantio, tratamento na muda, substrato utilizado, métodos de controle de pragas, doenças e plantas daninhas, tratos culturais, épocas de maiores problemas, mão-de-obra utilizada, sistema de condução, adubação, início da colheita, freqüência da colheita, produtividade, preço alcançado, mercado, pós-colheita. Quanto aos aspectos econômicos verificou- se: custo de produção, ou seja, insumos, sementes, mudas, calcário, composto orgânico, adubação plantio, adubação cobertura, defensivos, serviços (aração, gradagem, canteiros, plantio, adubação plantio, adubação de cobertura, tutoramento, desbrota, amontoa, capinas, pulverizações, aplicação de caldos, colheita, classificação e embalagem); custo do selo em caso de orgânico. Ressalva-se que no custo de produção não foram considerados os gastos com a instalação das estufas, energia elétrica, água e sistema de irrigação, já que foram aplicados em ambos os sistemas. A lucratividade, está de acordo com Antunes e Reis (1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO Aspectos agronômicos Para sanar ou amenizar as dificuldades tecnológicas no cultivo orgânico, são necessários ajustes no manejo, adaptado a esse sistema de produção, visando aumentar a produtividade de frutos (SOUZA, 1999). Os dados referentes aos aspectos agronômicos estão na Tabela 1 e as principais diferenças encontradas entre os sistemas orgânico e convencional foram: Rotação de culturas A rotação não é feita constantemente no sistema orgânico devido ao solo do local se encontrar em equilíbrio, com uma boa ciclagem de nutrientes e baixa incidência de pragas e doenças. Manejo e preparo do solo No sistema convencional, o manejo e preparo do solo consistem na calagem, aração, gradagem, sulcagem, aplicação de composto orgânico comercial e adubação mineral. No orgânico é feita uma subsolagem a cada dois ciclos, incorporação superficial de restos culturais e plantas daninhas com enxada rotativa, uso de cobertura morta (capim do próprio local), irrigação por aproximadamente duas horas e transplantio da muda no dia seguinte. Cultivares utilizadas Os materiais genéticos variam nos dois sistemas de cultivo. Tabela 1. Aspectos agronômicos dos sistemas de produção convencional e orgânico do tomateiro, Maio de 2002. Sistemas de Cultivo Aspectos agronômicos Convencional Orgânico Rotação de culturas Sim Eventualmente Manejo e preparação do solo - Aração - Gradagem - Sulcagem - Subsolagem a cada 2 ciclos - Incorporação superficial - Cobertura morta Tempo de preparo de um plantio para outro Imediato Idem Cultivares utilizadas Colorado, Sta Clara, Carmen, Olimpus, Séculus, Débora, Letícia Jane, Letícia, Raíssa, Débora, Delta, Kada Grupo Sta Cruz, Cerejinha Grupo Cereja Sementes utilizadas Peliculada Idem Obtenção das mudas Própria Idem Continua... Comparação dos sistemas… LUZ, J. M. Q. Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 9 Época de plantio Ano todo Idem Tempo para transplantio 20 – 35 dias Idem Tratamento na muda - Inseticidas - Fungicidas Calda bordalesa Substrato utilizado Comercial - Comercial, próprio para orgânico - 20% húmus de minhoca Controle de plantas infestantes Herbicidas Capina manual Controle de doenças - Fungicida mancozeb - Fungicida estrubirulinas - Fungicida dimetomorfe - Bactericida kasugamicina - Bactericida terramicina - Equilíbrio do solo - Calda bordalesa Controle de pragas Inseticidas: - Piretróide permetrina - Piretróide fenpropatrin - Fosforado acefato -Fosforado paration metílico - Biológico - Fisiológico clorfluazurom - Equilíbrio do solo - Inimigos naturais - Inseticida biológico - Feromônios - Extrato de Nim - Enxofre Épocas de maiores problemas Dezembro à fevereiro Idem Tratos culturais - Desbrota - Raleamento de penca - Tutoramento - Amontoa Idem, mais capina e cobertura morta (capim do próprio local) Mão-de-obra utilizada 1 pessoa para 3000 plantas 1 pessoas para 1000 plantas Sistema de condução 1 planta e duas hastes Idem Adubação - N-P-K 4-14-8 - Super fosfato simples - Composto orgânico comercial Composto orgânico : - Torta de mamona - Farelo de trigo ou arroz - MB 4 ( sílica ) - Calcário de concha - Farinha de peixe - Micronutrientes Início da colheita 100-115 dias Idem Freqüência da colheita - Verão: 3 vezes por semana - Inverno: 2 vezes por semana Idem Produtividade - Verão : 3-4 kg por planta - Inverno : 5 kg por planta 4 kg por planta Preço alcançado - Verão : R$ 1,00 / kg - Inverno : R$ 0,30 / kg R$ 2,00 à 2,50 / kg Mercado - CEASA - Grandes supermercados - Distribuidores de produtos orgânicos - Quitanda própria Pós-colheita -Classificação manual e visual - embalada em caixas de 20 kg Idem Comparação dos sistemas… LUZ, J. M. Q. Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 10 No Rio de Janeiro, Vargas et al. (2004), ao realizarem a caracterização agronômica de genótipos de tomateiro “Heirloom” (genótipos de plantas cultivadas, principalmente hortaliças, que vem sendo passadas há séculos, de geração a geração, por famílias de agricultores no mundo inteiro), sob manejo orgânico, constataram que a sanidade das plantas foi notável, sobretudo em relação a doenças de folhagens. A produtividade variou de 0,7 a 2,7 kg/planta, nos genótipos de frutos grandes e de 0,5 a 1,9 kg/planta nos genótipos do tipo cereja. A qualidade dos frutos foi muito boa, com aproximadamente 80% de frutos de padrão comercial. Os resultados indicaram uma boa adaptabilidade dos genótipos para produção orgânica e boa aceitação pelos consumidores do Rio de Janeiro. Tratamento das mudas As mudas no cultivo convencional são pulverizadas com inseticidas e fungicidas com freqüência de até três a quatro vezes por semana no verão e uma a duas vezes no inverno. Já no sistema orgânico, são feitas pulverizações com calda bordalesa somente se necessário. Substrato utilizado No sistema convencional os substratos mais utilizados são os comerciais, principalmente PLANTMAX® e BIOPLANT®. No cultivo orgânico, é utilizado um substrato comercial certificado próprio para orgânicos mais 20% de húmus de minhoca. Métodos de controle de pragas No sistema convencional são utilizados vários inseticidas de princípios ativos diferentes (Tabela 1) e pulverizados com uma freqüência que pode chegar até a uma aplicação por semana no inverno e até três no verão. No sistema orgânico busca-se o controle de insetos pelo equilíbrio do solo: com um solo equilibrado, as plantas têm uma nutrição equilibrada e a sua resistência à pragas é maior. Mas, também são utilizados outros métodos como controle biológico com Trichogramma pretiosum, um microhimenóptero em que a fêmea adulta coloca seus ovos no interior dos ovos do hospedeiro; inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, uma bactéria que ataca os insetos; enxofre, para controle de ácaros; feromônios, atrativos sexuais que agem confundindo os insetos e impedindo que eles encontrem seus parceiros; e extrato de Nim, uma planta repelente de insetos. Os dois últimos são utilizados somente se a infestação for muito alta. Além disso, do lado de fora das estufas são cultivadas várias plantas atrativas, tanto de insetos praga como também de seus predadores. Métodos de controle de doenças Na produção convencional do tomateiro, o controle de doenças é feito através de fungicidas de princípios ativos variados e também com bactericidas (Tabela 1). Já no sistema orgânico busca-se o controle de doenças pelo equilíbrio no solo e com a utilização de calda bordalesa. Métodos de controle de plantas daninhas Existem vários herbicidas registrados para a cultura do tomate no sistema convencional. No orgânico, as plantas ditas daninhas são consideradas, em alguns casos, plantas companheiras e convivem juntamente com as plantas do tomate; além de protegerem o solo contra a erosão e o impacto das gotas de água, indicam as condições básicas do solo (pH, compactação, deficiências nutricionais, entre outras), ajudam na reciclagem de nutrientes, no fornecimento de matéria orgânica, entre outros benefícios. Diante disso, são feitas apenas capinas manuais para evitar a concorrência de luz. Tratos culturais Para os dois sistemas envolve desbrota, raleamento de penca, tutoramento com cerca cruzada, poda apical e amontoa. Para obtenção de uma alta produção de tomate, torna-se necessário um elevado número de frutos por área de crescimento (SANDRI et al., 2002). Visando o bom aproveitamento do adubo orgânico, Souza (2003) recomenda que a condução do tomateiro em sistema orgânico seja feita com uma haste por planta. Leal e Araújo (2004) verificaram que quando cultivadas no sistema orgânico, a cultivar Santa Clara (crescimento indeterminado, frutos bi ou triloculares), conduzida com duas hastes, produziu mais frutos, em relação à cultivar Pesagro Linha B (crescimento determinado, frutos multiloculares) e à condução com uma haste. De maneira geral, a condução com duas hastes resultou em maior produção total por planta e maior número de frutos de melhor classificação (Extras) por planta. Ao avaliarem sistemas de poda com dois e quatro cachos em comparação ao sistema padrão de oito cachos normalmente utilizado pelos horticultores, Machado; Alvarenga e Florentino (2003) constataram que a poda apical mais precoce foi eficiente para aumentar a produção de frutos graúdos. A poda apical com três cachos Comparação dos sistemas… LUZ, J. M. Q. Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 11 comprometeu a produção total e a produtividade comercial dos frutos, e com cinco e sete cachos os rendimentos foram estatisticamente semelhantes (CAMARGOS et al, 2000). Para Souza e Casali (2004) deve-se descartar a possibilidade de adotar a poda com três cachos, pela menor produção de frutos, torna-se desnecessário podar deixando sete cachos, pois pode obter rendimentos semelhantes àqueles alcançados com poda no quinto cacho. Souza e Casali (2004), trabalhando com a variedade “Roquesso”, ao contrastarem a produtividade de frutos e sanidade (frutos brocados) da cultura, afirmaram que, apesar da melhor sanidade das plantas, a adoção de sistemas de poda apical com quatro cachos compromete a produtividade, já sistemas com seis cachos ou mais, além de afetarem de forma deletéria a sanidade, não proporcionam ganhos de rendimentos de frutos. Portanto, a poda apical com cinco cachos poderia ser a melhor alternativa na produção de tomates orgânicos de qualidade. Mão de obra utilizada O cultivo convencional demanda menor quantidade de mão de obra do que o orgânico (uma pessoa para 3000 plantas contra uma pessoa para 1000 plantas), que se deve principalmente a serviços como preparo de caldas, composto orgânico, cobertura morta, capina manual entre outros, que de forma geral não são utilizados no convencional. Rezende; Cecílio Filho e Martins (2003) verificaram que no sistema convencional do tomateiro em cultivo protegido, o fator que mais onerou o custo de produção, representando 21,3%, foi o custo com mão-de-obra. Depois, há os custos das caixas K para a comercialização (19,7%), depreciação da casa de vegetação (19, 69%) e de defensivos (13,26); portanto o produtor deve se preocupar com estes fatores já que juntos representam 73,95% do custo operacional total. Adubação No sistema convencional, são utilizados adubos químicos de alta solubilidade, que são agentes degradantes da matéria orgânica. Na produção orgânica são utilizados adubos de baixa solubilidade e com altos teores de matéria orgânica, que visam estruturar a microbiologia do solo. Beckmann et al. (2004) verificaram que a adubação orgânica, a base de vermicomposto bovino sólido, em duas doses, resultou na produção de frutos de tomateiro de hábito de crescimento determinado em níveis de produtividade equivalentes aos obtidos com a utilização de adubo mineral. As plantas de tomate cultivadas organicamente apresentaram maior desenvolvimento em relação àquelas que receberam adubação convencional (VIANA et al., 2002). Produtividade No convencional, a produtividade varia de acordo com a estação do ano: no verão, em torno de três a quatro quilos por planta, enquanto no inverno a produtividade é de aproximadamente cinco quilos por planta. No orgânico, a produtividade é de quatro quilos por planta, sem muita variação. Preço alcançado O tomate produzido no sistema convencional tem uma variação de preço conforme sua oferta: no inverno, que a produção é maior, os preços são mais baixos que no verão (Tabela 1). Já o tomate orgânico possui um preço que não costuma ter muita variação, porém o seu mercado é mais restrito. O tipo de embalagem também interfere no custo de produção e preço do tomate. No sistema convencional, a substituição da embalagem caixa K pela embalagem caixa Embrapa significou uma redução de 12, 36% no custo de produção e uma redução de 8,48% no preço de atacado do tomate. Como consequência houve um aumento de lucro de 12, 36% para o produtor e aumento de lucro de 8,48% para o varejista. O repasse desta diferença para o consumidor final poderia estimular o consumo e/ou melhorar a qualidade do produto (LUENGO; CAMARO FILHO; JACOMINO, 2003). Perosa e Abreu (2003) verificaram que a maior diferença de preços entre produtos da agricultura convencional e orgânica ocorreu nas hortaliças de fruto, com 58%, alavancados pelo tomate, pimentão e vagem. De acordo com Perosa e Abreu (2003) os produtos comercializados na feira orgânica costumam ser, em média, de preços superiores àqueles observados na comercialização de produtos da agricultura convencional. Entretanto, essa diferença não se mostrou tão significativa como esperado no trabalho realizado sobre o comportamento dos preços de hortaliças convencionais e orgânicas no mercado varejista de Botucatu – SP. Mercado O tomate convencional tem muitas opções de mercado, como o CEASA, redes de Comparação dos sistemas… LUZ, J. M. Q. Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 12 supermercados, quitandas, entre outros. No orgânico a comercialização é mais difícil, pois o proprietário em questão possui uma quitanda, onde vende a menor parte da produção, além de distribuidores de produtos do gênero, que são seus principais clientes. Aspectos econômicos A identificação de aspectos fortes e deficientes em termos de resultados técnicos e econômicos pode ser feita por meio da análise econômico-financeira; desta forma pode-se tomar uma ação imediata e direta, na solução dos problemas apresentados pela atividade agrícola, contribuindo ainda para uma melhor administração da propriedade e no aproveitamento mais eficiente dos recursos disponíveis (SANTOS; JUNQUEIRA, 2004). No Brasil a variação do custo de produção depende do custo de insumos, mão-de-obra e terra, de maneira que a análise econômica deve ser ajustada de acordo com os custos em cada estado. Os resultados do levantamento dos custos de produção dos dois sistemas de produção de tomate, cultivar Letícia, em estufas com 420 metros quadrados e população de 800 plantas, apresentaram o cultivo orgânico com um custo de produção 17,2 % mais baixo que o convencional (que representa R$ 238,00 por estufa ), devido principalmente aos elevados custos com defensivos e adubos (Tabelas 2 e 3). A lucratividade foi 59,9 % maior no verão e 113,6 % no inverno. Estes resultados se assemelham aos obtidos por Souza (1998) que, comparando o custo de produção de 1 hectare de tomate a campo nos dois sistemas de produção, concluiu que o sistema convencional teve um custo relativo 19% mais alto que o orgânico, o correspondente a US$ 1,268 /hectare. Tabela 2. Custo de produção de uma estufa de tomate no sistema orgânico. Maio de 2002 INSUMOS UNIDADE QUANTIDADE VALOR UNITÁRIO TOTAL Sementes Un. 800 0,18 144,00 Substrato Kg 13 0,40 5,20 Húmus de minhoca Kg 3 0,10 0,30 Calcário Kg 42 0,03 1,26 Composto orgânico Kg 160 0,30 48,00 Inseticida biológico Kg 1 50,00 50,00 Enxofre Kg 0,5 3,00 1,50 Controle biológico Cartela 3 6,00 18,00 Calda bordalesa L 100 0,01 1,00 Ácido bórico Kg 0,15 4,50 0,68 Sulfato de zinco Kg 0,15 4,50 0,68 Molibdato de sódio Kg 0,03 60,00 1,80 Biofertilizante Kg 5 1,75 8,75 SERVIÇOS Incorporação H/M 2 30,00 60,00 Subsolagem H/M 1 30,00 30,00 Canteiros H/M 1 30,00 30,00 Distribuição cobertura H/H 8 1,88 15,04 Preparo composto H/H 8 1,88 15,04 Distribuição composto H/H 16 1,88 30,00 Plantio H/H 7,5 1,88 14,06 Adubação cobertura H/H 16 1,88 30,00 Tutoramento e desbrota D/P 30 15,00 450,00 Amontoa H/H 4 1,88 7,50 Capinas H/H 8 1,88 15,00 Pulverizações H/H 6 1,88 11,28 Preparo de caldas H/H 4 1,88 7,50 Aplicações de caldas H/H 1 1,88 1,88 Colheita H/H 36 1,88 67,68 Seleção e embalagem H/H 36 1,88 67,68 Custo do selo Un.* 1 25,00 25,00 Total 1158,83 Un.: Unidade; H/M: horas/máquina; H/H: horas/homem; D/P: dias/pessoa. * 0,5% do faturamento por ano Comparação dos sistemas… LUZ, J. M. Q. Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 13 Tabela 3. Custo de produção de uma estufa no sistema convencional. Maio de 2002 INSUMOS UNIDADE QUANTIDADE VALOR UNITÁRIO TOTAL Sementes Un. 800 0,18 144,00 Substrato Kg 16 0,32 5,12 Calcário Kg 120 0,03 3,60 Composto orgânico Kg 200 0,16 32,00 4-14-08 plantio Kg 120 0,04 48,00 Super simples plantio Kg 120 0,37 44,40 4-14-08 cobertura Kg 40 0,37 14,80 Super simples cobertura Kg 80 0,37 29,60 Herbicida metribuzin L 0,12 56,00 6,72 Ins.piretróide permetrina L 0,2 54,00 10,80 Ins.piretróide fenpropatrin L 0,2 110,00 22,00 Ins.fosforado acefato Kg 0,3 64,00 19,20 Ins.fosforado paration met. L 0,6 24,00 14,40 Ins.biológico Kg 0,25 50,00 12,50 Ins.fisiológico clorfluazuron L 0,2 102,00 20,40 Fungicida mancozeb Kg 1,2 18,50 22,20 Fungicida estrubirulina L 0,1 360,00 36,00 Fungicida dimetomorf g 75 0,22 16,50 Bactericida kasugamicina L 0,9 42,00 37,80 Bactericida terramicina Kg 0,75 65,00 48,75 SERVIÇOS Aração e gradagem H/M 1,5 30,00 45,00 Sulcagem H/M 1 30,00 30,00 Canteiros H/M 1 30,00 30,00 Plantio H/H 7,5 1,87 14,03 Adubação plantio H/H 16 1,87 29,92 Adubação cobertura H/H 16 1,87 29,92 Tutoramento e desbrota D/P 30 15,00 450,00 Amontoa H/M 4 1,87 7,50 Pulverizações H/H 18 1,87 33,66 Colheita H/H 36 1,87 67,32 Seleção e embalagem H/H 36 1,87 67,32 Total 1393,46 Un.: Unidade; H/M: horas/máquina; H/H: horas/homem; D/P: dias/pessoa. CONCLUSÃO A produção de tomate orgânico é viável agronomicamente e, no aspecto econômico, o custo de produção do orgânico foi 17,2% menor e sua lucratividade foi 59,9% maior no verão e 113,6% no inverno. ABSTRACT: Organic agriculture expansion is a consequence of an increasing global concern about the environment. There is an interest in reducing the adverse effects of chemical use on the ecosystem through the alternate methods, always searching for quality and economic viability of the activities developed. This study compared the agricultural and economical aspects of conventional and organic tomato production, which, besides being a vegetal commonly used "in natura", is a culture of complex management and, therefore, of high economic risk. An overall survey was done about the conventional and organic tomato production systems, analyzing the agricultural aspects (management, soil cultivation, pests, diseases and weed control methods, productivity, among others) and economical (production costs and profitability). The organic system was agriculturally viable, with a production cost 17.1% lower than the conventional and profitability up to 113.6% greater. KEYWORDS: Lycopersicon esculentum. Cultivation systems. Culture management. Economy Comparação dos sistemas… LUZ, J. M. Q. Biosci. J., Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 7-15, Apr./June 2007 14 REFERÊNCIAS ANTUNES, L. M.; REIS, L. R. Gerência agropecuária: análise de resultados. Guaíba: Agropecuária, 1998. 83p. BECKMANN, M. Z.; DUARTE, G. R. B.; PAULA, V. A.; SCHUCK, M. R.; MENDEZ, M. E. G. Produtividade de tomateiro de hábito de crescimento determinado cultivado ob adubação orgânica em ambiente protegido. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 22, n. 2, jul. 2004. Suplemento. CD–ROM. CAMARGO FILHO, W. P.; CAMARGO, F. P.; CAMARGO, A. M. M. P.; ALVES H. S. Produção em agricultura orgânica: considerações sobre o quadro atual. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 22, n. 2, jul. 2004. Suplemento. CD–ROM. CAMARGOS, M. I.; FONTES, P. C. R.; CARDOSO, A. A.; ARAÚJO CARNICELLI, J. H. Produção de tomate longa vida em estufa, influenciada por espaçamento e número de cachos por planta. 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