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O Cientista Warwick Estevam Kerr e eu. 
 

Jamais havia pensado em ser professora 
universitária e o que sabia das abelhas restringia-se 
ao conhecimento de que eram insetos sociais e 
faziam mel. No entanto, quando a Faculdade de 
Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro ia iniciar 
seus cursos, fui convidada, em dezembro de 1958,  
pelo Dr. Kerr, então catedrático da Cadeira de 
Biologia Geral para ministrar as aulas de 
Histologia. 

Para todos os efeitos foi nessa  ocasião que, 
por indicação do meu professor de histologia, Dr. 
António Brito da Cunha, aparentemente começou 
com minha aceitação do convite o relacionamento 
com o Dr. Kerr e a minha carreira universitária e 
científica, como sua primeira doutoranda estudando 
as glândulas salivares das abelhas. Digo 
aparentemente, porque se eu acreditasse em destino 
(e não acredito mesmo sendo portuguesa), diria que 
estava escrito (maktub) desde o início que eu viria a 
trabalhar com ele. Vou contar por que. 

No Ginásio em Presidente Venceslau onde 
me criei, tive um professor de Geografia que 
adorava e que também gostava de mim. Chamava-
se Norman Kerr Jorge (era primo do Dr. Kerr). 
Quando terminei o Ginásio não iria continuar os 
estudos, mas  o professor Norman disse ao meu pai 
que eu deveria continuar e como não havia Colegial 
lá, aconselhou-o a me mandar fazer o Científico  
como  interna no colégio Piracicabano, em 
Piracicaba. Para lá fui. 

Naquele tempo o Dr. Kerr era professor da 
Cadeira de Genética da Escola Superior de 
Agricultura Luiz de Queiros em Piracicaba. O 
Colégio era Metodista e o Dr. Kerr, assim como 
nós alunos do Piracicabano frequetavamos a Igreja 
Metodista local. Além disso, sempre atuante, ele 
costumava convidar os alunos do científico para 
visitas ao seu laboratório e aulas de citogenética. 
Foi com ele que pela primeira vez vi cromossomos, 
mitose e meiose. Mas eu era apenas uma aluna 
entre outros e nessas aulas não estabelecemos 
nenhum contato. Porém, houve sim um contato 
mais direto, nesse tempo.  

O Dr. Kerr costumava nos domingos à 
tarde visitar comunidades carentes da região e 
convidava alunos do internato para acompanhá-lo. 
Sem ter o que fazer no internato, nos domingos à 
tarde, embora não pertencesse à Igreja, o 
acompanhei algumas vezes a Rio das Pedras. 

Terminado o colégio fui para São Paulo, 
para a USP, cursar História Natural e nunca mais 
ouvi falar dele, até o encontro em que me convidou 
para ir para Rio Claro. Tenho quase certeza que não 

me reconheceu, pois nosso contato havia sido 
mínimo e quatro anos tinham decorrido. Eu 
também não me dei a conhecer e portanto, 
aparentemente o evento que determinou o rumo 
seguinte da minha vida, deu-se em dezembro de 
1958. Foi simplesmente a indicação do meu 
professor que de nada sabia, que nos reaproximou. 
Teria porém sido por acaso,ou o destino? Acredito 
que foi o acaso, afinal em biologia  o acaso foi o 
princípio. 
 

Obrigada Dr, Kerr por ter me orientado 
no caminho da pesquisa, pelas abelhas com as 
quais trabalho há mais de 40anos e sobretudo 
pelo exemplo de dedicação e honestidade. 
 
Botucatu, 24 de julho de 2007 
 
Carminda da Cruz Landim  
UNESP/Rio Claro 

 
 

Warwick E. Kerr, o homem que distribui 
conhecimentos e esperanças. 
 

Como o Prof. Kerr é reconhecidamente 
uma pessoa de importância internacional, vou 
relatar a sua importância para a trajetória de minha 
vida. Quando cheguei em Rio Claro para fazer o 
vestibular encontrei algumas meninas bastante 
eufóricas e felizes porque tinham ido a Biologia e 
conhecido o Dr. Kerr . Obviamente para uma 
menina de 17 anos, conhecer uma celebridade 
como o Dr. Kerr seria o máximo, queria muito 
conhecê-lo, demorou alguns dias até o dia em que 
fui prestar o vestibular e também fiquei encantada 
com a sua simplicidade e charme todo 
especial.Nunca imaginei que a partir daquela data o 
teria como o meu professor para toda a vida. 
Conseguiu uma bolsa para trabalhar com o Dr.Karl 
Arens e Dr. Heitor Gurgulino de Souza e depois 
com a Dra. Carminda. Não tive Genética com ele, 
pois estava como Diretor Cientifico da FAPESP, 
mas todo fim de semana ele estava na Faculdade 
trabalhando com os estagiários. O Prof. Paterniani 
foi o meu professor de Genética. Nem havia colado 
grau em Biologia e para minha grande felicidade, 
ele me convidou para vir para Ribeirão Preto. 
Conviver o dia a dia com o Prof.Kerr é um grande 
privilégio, pois ele está ensinando o tempo todo. 
Nas várias excursões de coleta que fizemos, o 
conhecimento geral dele é motivo de grande 
admiração, conhece os insetos, plantas, solos, aves, 
etc. Admirável ainda o seu espírito de luta pelo 
bem da comunidade e dos brasileiros, sempre 



   

batalhando, escrevendo, dando entrevistas. Fiz o 
doutorado sob sua orientação, na área de 
radiogenética, mas antes ele me enviou para 
Brookhaven National Laboratory, Upton, NY para 
um estagio de um ano, que foi extremamente 
proveitoso. Ele sempre estimula as pessoas a 
saírem várias vezes do seu local de trabalho para 
ampliar o leque de conhecimento. Para ele todos os 
seus orientados são excelentes e maiores 
especialistas na área e todos nos temos que 
trabalhar e estudar muitíssimo para, pelo menos em 
parte, fazer jus aos elogios dele. Mesmo estando 
longe, Manaus, São Luis, Uberlândia, (fundou e 
colonizou vários centros de pesquisa), ele jamais 
deixou de manter contato conosco, sempre 
enviando artigos para ler  e sempre lembrando os 
nossos nomes para sociedades cientificas. Jamais 
seremos o passado para ele. É de  fato um homem 
iluminado, que veio a este mundo para ajudar as 
pessoas em todos os níveis sociais e intelectuais. 
Muito obrigada Dr. Kerr pela sorte que tive em 
conhecê-lo e de ter feito a minha vida tão feliz. 
 
Catarina S.Takahashi 
 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de 
Ribeirão Preto - USP 

 
O cientista Warwick Estevam Kerr e eu 

 
Meu primeiro encontro com o Wick está 

meio perdido na bruma do passado, mas deve ter 
ocorrido durante a III Semana de Genética, em 
Piracicaba, em março de 1956. Antes disso, no 
entanto, já tinha farta informação sobre ele, em boa 
parte fornecida pelo fundador do grupo de Genética 
de Porto Alegre, Antonio Rodrigues Cordeiro. Kerr 
e Cordeiro haviam estado juntos na Universidade 
de Columbia, nos EUA, em 1951 e portanto ouvi 
muitas histórias sobre ele. Deste estágio do Wick 
resultou uma série de três artigos sobre o efeito da 
deriva genética em Drosophila melanogaster com 
ninguém menos do que Sewall Wright, um dos 
construtores da Teoria Sintética da Evolução, a 
qual uniu a genética com a evolução entre a terceira 
e a quinta década do século 20. 

Desde então, não me canso de admirar este 
trabalhador infatigável, criador de equipes 
(Piracicaba, Rio Claro, Ribeirão Preto, Manaus, 
São Luis, Uberlândia) e batalhador por causas 
consideradas utópicas, como a preservação do meio 
ambiente, a utilização econômica da nossa flora e 
fauna, a educação universal, os direitos individuais 
e a cidadania brasileira. Possivelmente não existe 
brasileiro tão homenageado no Brasil ou exterior 

como o Wick [exemplos selecionados: membro das 
Academias de Ciências do Brasil e dos EUA; Grã-
Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico; 
Professor Emérito ou Honoris Causa de três 
universidades; Presidente de Honra da Sociedade 
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); e 
muitas coisas a mais]. 

Pouco antes de assumir pela primeira vez a 
Direção Geral do Instituto Nacional de Pesquisas 
da Amazônia, em 1975, ele apresentou um 
seminário em nosso Departamento sobre os seus 
planos e Crodowaldo Pavan, que o estava 
assistindo, exclamou: “Estamos diante do futuro 
Imperador da Amazônia!” Wick não se perturbou 
com a brincadeira, e sua administração, de 1975 a 
1979, marcou época na história da região e da 
ciência brasileira em geral. 

Sua dedicação à causa da preservação do 
meio ambiente é exemplar. Nos anos de chumbo da 
ditadura militar a SBPC era uma válvula de escape 
à repressão, e ele também reagiu vigorosamente 
contra a mesma, tendo sido mesmo preso por 
protestar contra a tortura da freira Madre Maurina 
Borges. Pois bem, em várias Assembléias Gerais da 
SBPC da época o Wick apresentou moções para 
diminuir ou isentar de impostos a indústria de 
bibicletas, por ser um meio de transporte não-
poluente. Isto enfurecia os ativistas mais radicais, 
dedicados à aprovação de moções de caráter 
político. 

Então é isso. Wick, se não existisses terias 
de ser inventado! 

 
Francisco M. Salzano 
Departamento de Genética, Instituto de 
Biociências, Universidade Federal do Rio Grande 
do Sul