ISOLAMENTO DE UMA FRAO ENRIQUECIDA EM SINAPTOSOMAS DE CREBRO DA ABELHA APIS MELLIFERA UTILIZANDO GRADIENTE DESCONTNUO DE PERCOLL E IDENTIFICAO DE MIOSINAS V E VI Original Article 65 QUANTIFICAÇÃO DE PERDA DE SOLO CULTIVADO COM MILHO E SOB VEGETAÇÃO EM UM MACIÇO RESIDUAL ÚMIDO NO SEMI-ÁRIDO CEARENSE QUANTIFICATION OF LOSS OF SOIL CULTIVED WITH MAIZE AND UNDER VEGETATION ON THE HUMID RESIDUAL BULK IN SEMI-ARID CEARENSE Luís Alfredo Pinheiro Leal NUNES1; José Falcão SOBRINHO2; Cleire Lima da Costa FALCÃO2 1. Professor, Doutor, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Centro de Ciências Agrárias, Campus da Socopo, Teresina, PI, Brasil. lanunes@ufpi.br; 2. Professor, Doutor, Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, Centro de Ciências Sociais, Campus do Junco, Sobral, CE, Brasil. RESUMO: Este estudo teve como objetivo avaliar o processo erosivo em um maciço residual em solos com diferentes coberturas: uma área plantada continuamente com milho em fileiras verticais na direção do declive, área em pousio há três anos e área de mata secundária. Foram colocadas nessas áreas placas de alumínio com 50 cm de largura com uma calha conectada na parte inferior para receber o material erodido. Foram coletadas amostras de solos próximos a cada calha, nas profundidades de 0–5; 5-10; 10-15; 15-20; 20-25 e 25-30cm. Foram realizadas análises químicas e físicas tanto nas amostras coletadas quanto no material erodido. Os solos apresentaram boas características químicas, sendo que houve um menor teor de matéria orgânica e fósforo no sistema com milho na camada de 0-5cm. O solo cultivado com milho mostrou uma maior densidade aparente e uma menor porosidade na mesma profundidade. Verificou-se uma diminuição da fração argila na camada superficial, e um maior teor de nutrientes nos sedimentos erodidos no sistema de plantio com milho. Os solos em pousio e de mata apresentaram uma menor perda de sedimentos por erosão. A maior distribuição de chuvas favoreceu o processo erosivo. PALAVRAS-CHAVES: Argissolo. Declividade. Erosão. Plantio em fileiras. INTRODUÇÃO A área dos maciços residuais úmidos no semi-árido nordestino tem se comportado tradicionalmente como um dos setores de agricultura de mais significativa importância em função da ocorrência de precipitações pluviométricas mais regulares e abundantes, temperaturas mais amenas e solos mais férteis, se caracterizando como verdadeiras ilhas de umidade em meio à superfície sertaneja submetida à semi– aridez (BRASIL, 1973). A elevada altitude deste maciço determina alteração nas condições climáticas, visto que forma uma barreira ao deslocamento das correntes aéreas, em relação a correntes do alísio, exibindo uma face úmida (barlavento) onde a precipitação é significativa, favorecendo o desenvolvimento de solos mais profundos e de uma vegetação mais densa e de maior porte, e outra face seca a sotavento da barreira orográfica na qual se cria uma zona de sombra de chuva onde a semi-aridez é acentuada (RADAMBRASIL 1981), sendo o intemperismo físico o principal agente modelador da paisagem (BRANDÃO et al., 2003). Um dos meios de exploração do meio físico natural desses maciços recai sobre as práticas agrícolas, voltadas, principalmente para as culturas de subsistência, como o milho, feijão e mandioca. No entanto, sua ocupação e exploração vem se dando de forma intensa e desproporcional ao restabelecimento de suas riquezas naturais, não sendo observadas nenhuma prática conservacionista, principalmente em relação ao relevo dessa área que, por apresentar-se muito inclinado, merece atenção especial (FALCÃO SOBRINHO, 1998). O emprego de queimadas e plantios em fileiras acompanhando a declividade da vertente, são exemplos de manejo que contribuem para o processo erosivo nessas áreas (FALCÃO, 2002). Nessas condições de encostas íngremes e desprovidas de vegetação onde predomina rochas pouco porosas, como o granito, e ocorre alta pluviosidade concentrada, gera um desequilíbrio entre a morfogênese e a pedogênese favorecendo a mobilização de materiais (GUERRA, 2002). Em boa parte desses maciços já se observam evidências do processo erosivo através de rochas sobrepostas à superfície em forma de matacões (FALCÃO, 2002). Por conta disso, atualmente, esses maciços apresentam, de uma forma geral, uma vegetação secundária proveniente da derrubada florestal nativa, por processos que vão desde a devastação para o estabelecimento da agricultura até a retirada das árvores de valor econômico para a produção de lenhas, e em algumas áreas já se verifica uma Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 3, p. 65-73, May/June 2009 Received: 06/12/07 Accepted: 01/04/08 mailto:lanunes@ufpi.br Quantificação de perda… NUNES, L. A. P. L.; SOBRINHO, J. F.; FALCÃO, C. L. C. 66 vegetação da caatinga em suas vertentes (FALCÃO SOBRINHO; FALCÃO, 2002). Considerando o papel relevante desses ambientes como também a importância para um adequado manejo do solo, essa pesquisa objetivou quantificar as taxas de erosão em área sob plantio de milho e com cobertura vegetal em um maciço residual localizado no semi-árido cearense. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado na serra das Matas localizado no município de Monsenhor Tabosa a 04º47’22’’ (S) e 40º03’48’’ (W) (Figura 1). Esse maciço situa-se no Complexo Tamboril- Santa Quitéria, prevalecendo uma associação de granito-migmatitica (CPRM, 2003). Para tal pesquisa delimitaram-se três áreas de estudo situadas na mesma vertente de relevo ondulado com uma declividade de 14%, a saber: a) uma área cultivada continuamente com milho em fileiras no sentido da declividade; b) uma área com três anos em pousio e c) uma área de mata secundária estabelecida há dez anos. Figura 1. Localização do município de Monsenhor Tabosa no Estado do Ceará, destacando três nascentes do percurso do rio Acaraú. Para quantificação do processo erosivo foi utilizada a metodologia preconizada por Guerra (2002) que consistiu na instalação, em cada área de estudo, de uma parcela experimental (2m x 10m). A parcela consistiu de placas de alumínio com 50 cm de altura, sendo enterrado 10 cm, permanecendo 40 cm acima do solo. Na parte inferior dessas placas conectou-se uma calha para receber o material erodido. O monitoramento do processo erosivo foi realizado diariamente durante o período chuvoso, de janeiro a julho, nos anos de 2004 e 2005. Os sedimentos, em cada calha foram coletados, secos e pesados. Foram coletadas ainda amostras de solos ao lado de cada calha montada, nas camadas de 0–5; 5- 10; 10-15; 15-20; 20-25 e 25-30 cm. A amostragem foi feita de forma aleatória coletando-se vinte amostras simples em cada sistema de manejo que foram homogeneizadas retirando-se, em seguida, cerca de 500g constituindo-se uma amostra composta. Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 3, p. 65-73, May/June 2009 Quantificação de perda… NUNES, L. A. P. L.; SOBRINHO, J. F.; FALCÃO, C. L. C. 67 Foram realizadas nas amostras de solo coletadas e nos sedimentos erodidos as seguintes análises químicas: : pH em água; teores de fósforo (P) e potássio (K) por meio de solução extratora de Mehlich 1 ( HCl 0,05M + H2SO4 0,0125M); alumínio (Al), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) extraídos com KCl 1M, conforme métodos descrito pela Embrapa, (1999). O carbono orgânico total (COT) foi determinado pelo método de Walkley- Black (Jackson, 1958) e a transformação dos valores de COT para matéria orgânica (MO) foi feita pela relação M.O. = 1,724 x COT. As determinações físicas realizadas nas amostras de solo foram as seguintes: densidade do solo (Ds) pelo método da proveta; densidade de partículas (Dp) pelo método do balão volumétrico, a argila pelo método da pipeta, sendo que as frações de areia fina e grossa pelo peneiramento e o silte por diferença (Embrapa, 1999). A porosidade total (PT) foi calculada pela expressão: PT = (1 – Ds / Dp) x 100. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises químicas encontram-se na Tabela 1. Os solos apresentaram ao longo do perfil boas características químicas com saturação de bases superiores a 60%, o que lhes confere um caráter eutrófico, pH próximo à neutralidade e teores elevados de matéria orgânica, conforme Alvarez V. et al. (1999). Verifica-se uma tendência de redução de matéria orgânica e de P na camada superficial no sistema plantado com milho que pode ser indicativo de perdas por erosão. Tabela 1. Características químicas de um Argissolo sob diferentes usos, no município de Monsenhor Tabosa- CE Profundidade pH C MO P K Ca Mg Na SB V ----dag dm-3--- -- mg dm-3 ------------------mmolc dm-3-------------------------- ----%--- -- Solo cultivado com milho 0 – 5 cm 6,5 6,4 10,9 26 4,15 57,0 16,0 0,51 77,6 74 5 – 10 cm 6,3 4,9 8,5 8 3,17 67,0 11,0 0,79 82,0 74 10 – 15 cm 6,3 4,3 7,5 6 2,58 58,0 19,0 0,67 80,2 77 15 – 20 cm 6,5 4,1 7,1 5 2,0 65,0 15,0 0,79 82,8 79 20 – 25 cm 6,5 3,2 5,5 7 1,53 65,0 14,0 0,75 81,3 81 25 – 30 cm 6,5 3,2 5,5 7 1,26 61,0 22,0 0,86 85,1 80 Solo em pousio 0 – 5 cm 6,8 9,12 15,72 116 3,13 62,0 6,0 0,63 71,8 78 5 – 10 cm 6,1 8,88 15,31 80 1,76 54,0 18,0 0,75 74,5 69 10 – 15 cm 6,1 7,07 12,19 6,2 1,26 61,0 22,0 0,86 85,1 68 15 – 20 cm 6,2 5,94 10,24 25 1,18 62,0 17,0 0,98 81,2 73 20 – 25 cm 6,2 4,98 8,59 24 1,18 73,0 11,0 1,18 86,4 71 25 – 30 cm 6,3 5,10 8,79 16 0,87 84,0 5,0 1,02 90,9 79 Solo sob mata secundária 0 – 5 cm 7,0 11,0 18,9 181 7,14 65,0 12,0 0,34 84,5 80 5 – 10 cm 6,7 8,9 15,3 111 5,52 55,0 18,0 0,30 78,8 78 10 – 15 cm 6,4 7,8 13,5 69 4,18 66,0 8,0 0,30 78,5 78 15 – 20 cm 6,2 6,8 11,7 34 2,69 62,0 12,0 0,30 77,0 78 20 – 25 cm 6,3 6,1 10,6 30 2,33 68,0 7,0 0,27 77,6 74 25 – 30 cm 6,4 6,2 10,7 24 1,65 61,0 16,0 0,25 78,9 75 Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 3, p. 65-73, May/June 2009 Quantificação de perda… NUNES, L. A. P. L.; SOBRINHO, J. F.; FALCÃO, C. L. C. 68 Com relação às propriedades físicas observou-se que os solos de todos os sistemas de manejo apresentaram a mesma classe textural franco arenoso em todo o perfil, com exceção do solo de mata que mostrou, a partir dos 15 cm, uma maior quantidade de argila se enquadrando na classe de textura franco argilo-arenoso, caracterizando um horizonte B textural (tabela 2). No tratamento de plantio com milho observou-se uma diminuição da fração argila de mais de 30% para a camada de 0 - 5cm em relação as demais coberturas, o que pode evidenciar que houve um processo de erosão mais intenso nesse sistema de manejo, visto que a fração argila por ser de menor tamanho e peso é mais facilmente carreada pelas enxurradas (Tabela 2). Tabela 2. Características físicas de um Argissolo sob diferentes usos, no município de Monsenhor Tabosa-CE Profundidade Areia grossa Areia fina Silte Argila Classificação textural Ds Dp PT ----------------------------g / kg-------------------- --------Mg m-3------ m3 m-3 Solo cultivado com milho 0 – 5 cm 412 280 220 88 Franco arenoso 1,49 2,56 0,418 5 – 10 cm 400 245 229 116 Franco arenoso 1,36 2,55 0,466 10 – 15 cm 347 347 229 143 Franco arenoso 1,32 2,53 0,478 15 – 20 cm 360 360 254 137 Franco arenoso 1,30 2,56 0,492 20 – 25 cm 360 248 240 152 Franco arenoso 1,25 2,62 0,523 25 – 30 cm 330 250 265 155 Franco arenoso 1,26 2,70 0,533 Solo em pousio 0 – 5 cm 362 265 230 143 Franco arenoso 1,34 2,56 0,476 5 – 10 cm 366 222 253 159 Franco arenoso 1,26 2,53 0,502 10 – 15 cm 334 225 273 168 Franco arenoso 1,25 2,50 0,500 15 – 20 cm 354 195 299 152 Franco arenoso 1,21 2,53 0,522 20 – 25 cm 359 205 274 162 Franco arenoso 1,21 2,60 0,534 25 – 30 cm 357 186 304 153 Franco arenoso 1,19 2,70 0,560 Solo sob mata secundária 0 – 5 cm 372 277 237 114 Franco arenoso 1,41 2,69 0,475 5 – 10 cm 367 256 218 159 Franco arenoso 1,35 2,60 0,480 10 – 15 cm 351 237 229 183 Franco arenoso 1,30 2,67 0,513 15 – 20 cm 290 250 251 209 Franco argilo- arenoso 1,28 2,63 0,513 20 – 25 cm 291 228 254 227 Franco argilo- arenoso 1,25 2,67 0,532 25 – 30 cm 328 221 232 219 Franco argilo- arenoso 1,25 2,60 0,520 Esses maciços por apresentarem normalmente um horizonte superficial de textura mais arenosa e de fácil percolação da água sobreposto a um horizonte de iluviação (B textural) rico em argila, ficam predispostos a uma saturação do horizonte A, resultando na ocorrência de enxurradas com o carreamento de sedimentos intensificados quando o solo fica desprovido de cobertura vegetal (FALCÃO, 2002). Para Falcão Sobrinho e Falcão (2005), neste tipo de solo, associado às condições de relevos similares, é indispensável à adoção de técnicas conservacionistas como o plantio em curvas de nível e em terraços. Ainda segundo estes autores, nas vertentes mais acentuadas desses maciços, torna-se necessário a preservação da vegetação nas encostas e no topo das cristas para evitar a ocorrência de processos erosivos. Na área de plantio com milho a densidade do solo (Ds) atingiu um valor de 1,49 Mg m-3 na profundidade de 0 – 5 cm superior aos demais sistemas de manejo, o que poderia caracterizar uma compactação. Segundo Silva (2000) em uma densidade acima de 1,4 g cm-3, cada milimetro de solo removido por erosão equivale a 14 t ha-1 e isto pode ocorrer numa simples chuva de maior Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 3, p. 65-73, May/June 2009 Quantificação de perda… NUNES, L. A. P. L.; SOBRINHO, J. F.; FALCÃO, C. L. C. 69 intensidade comum no semi-árido. Além disso, esse sistema de manejo mostrou uma porosidade total (PT) em torno de 0,418 m3 m-3 na profundidade supracitada, enquanto as demais áreas apresentaram valores em torno de 0,480 m3 m-3. É possível que o aumento de Ds e redução da PT no sistema de plantio convencional estejam relacionados com o processo constante de umedecimento e secagem e ao impacto de gotas de chuvas sobre a superfície do solo em função da ausência de cobertura vegetal nessa área, favorecendo a desagregação e remoção de partículas. Deste modo, com a ação das chuvas a argila entra em suspensão com o fluxo de água superficial podendo ser carreada no sentido da declividade, o que contribui para o empobrecimento do solo (Nunes, 2003). Esse processo contribui também para a translocação de partículas mais finas para os horizontes inferiores causando obstrução dos poros fenômeno denominado de erosão vertical por Hudson (1984) citado por Jucksch (1987), dificultando, em conseqüência, a taxa de infiltração e movimento de água no solo. Verificou-se que o solo erodido, em todas as áreas estudadas, apresentou um teor de nutrientes similar e até superior ao o solo original (Tabela 3), provavelmente pelo fato de uma maior perda de argila, pois essa partícula possui a propriedade de reter cátions tais como cálcio, magnésio e potássio, elementos essenciais para o desenvolvimento das plantas. Tabela 3. Características químicas dos sedimentos erodidos de um Argissolo sob diferentes usos no município de Monsenhor Tabosa-CE Manejo pH C MO P K Ca Mg Na SB V g dm-3 mg dm-3 -----------------------mmolc dm-3------------------------ % 2004 Plantio 7,3 11,70 20,17 76 4,54 50,0 21,0 0,61 76,1 86 Pousio 7,0 10,02 17,27 21 4,0 58,0 24,0 0,94 86,9 79 Mata 7,1 9,12 15,72 56 3,20 42,0 17,0 0,45 62,6 72 2005 Plantio 6,3 10,38 17,90 84 2,43 39,0 19,0 0,49 60,9 74 Pousio 7,6 15,90 27,41 73 5,74 94,0 37,0 1,07 137,8 91 Mata 7,0 6,48 11,17 64 3,35 45,0 15,0 0,36 63,7 71 A matéria orgânica foi perdida em grandes quantidades em todos os tratamentos (Tabela 3) sendo superiores ao conteúdo disponível originalmente presente na camada superficial nos solos cultivado e em pousio, uma vez que a matéria orgânica é o primeiro constituinte a ser removido pela erosão, tendo em vista sua baixa densidade, concordando com o trabalho Schinck et al., (2000). Normalmente, a perda de matéria orgânica por erosão tem grande importância para os processos de eutrofização de mananciais, na medida em que a biodegradação de compostos orgânicos em rios e lagos eleva as demandas bioquímicas de oxigênio, colocando em risco a vida aquática. Entre as bases trocáveis o magnésio apresentou uma taxa de enriquecimento maior no sedimento erodido em todas as coberturas estudadas, sendo, por isso, o nutriente mais problemático em termos de contaminação ambiental, pelo efeito de eutrofização da água. Este maciço mostra uma baixa vocação hídrica, visto que, geologicamente, é formado predominantemente por rochas do embasamento cristalino, acarretando limitações na disponibilidade de água, uma vez que o armazenamento de água no cristalino é restrito (LEITE et al., 1993). Nessa situação ocorre um forte escoamento superficial por meio de enxurradas que se deslocam nos riachos existentes indo abastecer os açudes localizados na superfície sertaneja que mostra uma condição de semi-aridez. Portanto, todo o material erodido (nutrientes e matéria orgânica) provenientes das práticas agrícolas não conservacionistas realizadas nesse maciço normalmente é carreado junto com as águas de drenagem o que leva à eutrofização desses reservatórios comprometendo a qualidade da água para consumo da população das cidades localizadas no semi-árido. Quanto ao processo erosivo, à quantidade de solo carreado nas parcelas com milho, pousio e Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 3, p. 65-73, May/June 2009 Quantificação de perda… NUNES, L. A. P. L.; SOBRINHO, J. F.; FALCÃO, C. L. C. 70 mata foi de, respectivamente, 30, 22 e 14 T ha-1 no ano de 2004 e de 31, 23 e 17 T ha-1 no ano de 2005, (Tabela 4). Esses resultados indicam que o plantio de milho em fileiras seguindo a declividade contribui enormemente para o processo erosivo, visto que a água encontra o percurso livre entre as linhas de milho aumentando a capacidade de arraste. Falcão Sobrinho et al. (1999), encontraram perdas de cerca de 50 T ha-1 de solo em plantio de milho com fileiras verticais em maciço residual úmido encravado na depressão sertaneja cearense. Tabela 4. Precipitação total e solo erodido nas áreas estudadas em Monsenhor Tabosa (CE) Solo erodido (T ha-1) Ano Precipitação (mm) Plantio milho Pousio Mata 2004 998,0 30 22 14 2005 575,9 31 23 17 Apesar de serem observadas perdas consideráveis de solo nas áreas com cobertura vegetal em função da forte declividade, houve uma redução dessas perdas na ordem de 25% e 50% no ano de 2004 e de 25 e 45%, no ano de 2005, nos solos em pousio e mata, respectivamente, em relação à área com milho (Tabela 4). Essa diferença pode ser atribuída à vegetação e aos resíduos orgânicos presentes nesses sistemas que funcionam como barreira ao escoamento superficial diminuindo a intensidade de erosão. Os dados mostram que apesar de uma redução em cerca de 40% da precipitação no ano de 2005, houve um ligeiro aumento na perda de solos nos sistemas de manejo estudados (Tabela 4). Isto ocorreu pelo fato das chuvas do ano de 2004 terem se concentrado no mês de janeiro (Figura 2) onde a precipitação alcançou cerca de 60% do total e a quantidade de material erodido foi máxima neste período, enquanto que nos demais meses a pequena intensidade de chuvas não foi suficiente para manter o solo saturado ou mesmo formar enxurradas e as perdas de sedimentos foram menores (Figura 3). Por outro lado, no ano de 2005 houve uma melhor distribuição das chuvas (Figura 4) que contribuiu para uma maior saturação contínua do solo, principalmente pela presença de um horizonte B textural, ocasionando um maior escoamento superficial e, consequentemente, maiores perdas de solos por erosão (Figura 5). De acordo com Bertoni e Lombardi Neto (1990) chuvas freqüentes com intervalos curtos, mesmo de menor intensidade, contribui para a erosão, pois o solo adquire um alto teor de umidade, o que favorece o escoamento superficial. 0 100 200 300 400 500 600 m m janeiro fevereiro março abril maio junho Figura 2. Precipitação total nas áreas de estudo - Ano 2004 Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 3, p. 65-73, May/June 2009 Quantificação de perda… NUNES, L. A. P. L.; SOBRINHO, J. F.; FALCÃO, C. L. C. 71 0 5 10 15 20 25 30 35 Kg janeiro fevereiro março abril maio junho Plantio Pousio Mata Figura 3. Quantidade mensal de sedimentos erodidos nas áreas estudadas - Ano 2004 0 40 80 120 160 m m janeiro fevereiro março abril maio junho Figura 4. Precipitação total nas áreas de estudo - Ano 2004 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 K g janeiro fevereiro março abril maio junho Plantio Pousio Mata Figura 5. Quantidade mensal de sedimentos erodidos nas áreas estudadas - Ano 2005 Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 3, p. 65-73, May/June 2009 Quantificação de perda… NUNES, L. A. P. L.; SOBRINHO, J. F.; FALCÃO, C. L. C. 72 CONCLUSÕES O solo sob plantio com milho mostrou uma redução na fertilidade e uma condição física menos favorável na camada superficial. Entretanto, o material erodido mostrou-se rico em nutrientes e matéria orgânica em todas as áreas estudadas. O plantio com milho no sentido da declividade mostrou ser um sistema de manejo que contribui para as perdas de solo por erosão em relevos ondulados, sendo que a maior distribuição de chuvas favoreceu o processo erosivo. ABSTRACT: This study aimed to evaluate the erosive process in a residual bulk in soils with different cover crops: area planted continuously with corn, area in pousio (three years) and area of secondary forest. Aluminum plotes had been placed in each areas with 50 cm of width with a gutter hardwired in the inferior part to receive the material eroded. Soil samples located next to each aluminum plotes were collected, in the depths of 0-5; 5-10; 10-15; 15-20; 20-25 and 25- 30cm. Chemical and physical analyses in both samples collected how old eroded soil were conduced. The soils showed good chemical characteristics, however the soil under corn plantation, showed lower organic matter and P content in 0-5cm depth. The soil cultivated with maize showed a higher apparent bulk and a lower soil porosity in the same depth. Verified a reduction of the fraction clay in the superficial layer, and a higher fertility in the sediments in the system of plantation with corn. The soil in pousio and of soil forest had presented a lower loss of sediments by erosion. The highest rain distribution favored the process erosive. KEYWORDS: Argissol. Declivity. Erosion. Plantation in rows. REFERÊNCIAS ALVAREZ V. V., V. H., NOVAES, R. F.; BARROS, N. F. Interpretação dos resultados das análises de solos. In RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G. ; ALVAREZ V., V. H. (Ed.). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais – 5ª Aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (CFSEMG), 1999, p. 25-32. BERTONI, J; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990, 355p. BRANDÃO, R. L.; COLARES, J. Q. S.; GOMES, F. E. M.; SOUZA, M. J. N. Zoneamento geoambiental da região de Irauçuba-CE: texto explicativo, carta geoambiental. Fortaleza: CPRM, 2003, 67p. BRASIL Levantamento exploratório – reconhecimento de solos do Estado do Ceará. Recife: Ministério da Agricultura. Divisão de Pesquisa Pedológica. 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