TOXICIDADE DE INSETICIDAS PIRETRIDES E ORGANOFOSFORADOS PARA POPULAES BRASILEIRAS DE Sitophilus zeamais (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) Original Article 75 TOXICIDADE DE INSETICIDAS PIRETRÓIDES E ORGANOFOSFORADOS PARA POPULAÇÕES BRASILEIRAS DE Sitophilus zeamais (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) TOXICITY OF PYRETHROIDS AND ORGANOPHOSPHORUS INSECTICIDES TO BRAZILIAN POPULATIONS OF Sitophilus zeamais (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) Juliana Cristina dos SANTOS1; Lêda Rita D'Antonino FARONI2; Rodrigo de Oliveira SIMÕES3; Marco Aurélio Guerra PIMENTEL4; Adalberto Hipólito SOUSA4 1. Bióloga, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, Universidade Federal de Viçosa – UFV; Viçosa, MG, Brasil. ciências_biologicas@hotmail.com; 2. Professora, Doutora, Departamento de Engenharia Agrícola – UFV; Viçosa, MG, Brasil; 3. Engenheiro de Alimentos, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola – UFV; Viçosa, MG, Brasil; 4. Engenheiro Agrônomo, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Entomologia - UFV; Viçosa, MG, Brasil RESUMO: Objetivou-se avaliar a toxicidade de inseticidas piretróides e organofosforados comerciais para adultos de 17 populações de Sitophilus zeamais Mots. de sete estados brasileiros e sua influência nos padrões respiratórios e de massa corpórea das populações. Foram utilizados piretróides (deltametrina e bifentrina) e organofosforados (pirimifós-metílico e fenitrotiona) nas dosagens comerciais recomendadas. As pulverizações em grãos de milho foram realizadas utilizando-se uma correia transportadora e bico hidráulico. Posteriormente, amostras de 50 g foram colocadas em placas de Petri, sendo utilizadas quatro repetições com 15 adultos de S. zeamais para cada tratamento. As placas foram mantidas sob condições constantes de temperatura (25±2 ºC), umidade relativa (70±5% U.R.) e escotofase de 24 horas. Após 24 horas, contabilizou-se o número de insetos vivos e mortos. A taxa respiratória (CO2) e a massa corpórea foram mensuradas para cada população. Ocorreram variações de respostas das populações para os inseticidas piretróides, com mortalidade de 0 a 100%, e uniformidade de resposta para os inseticidas organofosforados, com mortalidade acima de 98%. Esses resultados podem ser indicadores de resistência aos inseticidas piretróides e de ausência de resistência aos organofosforados. As populações não apresentaram diferença significativa para a taxa respiratória, mas apresentaram variação na massa corpórea. Não houve correlação significativa entre a mortalidade e a taxa respiratória, entre a mortalidade e a massa corpórea e entre a taxa respiratória e a massa corpórea, indicando que a toxicidade dos inseticidas não foi influenciada pelo estado fisiológico das populações. PALAVRAS-CHAVE: Armazenamento. Gorgulho-do-milho. Inseticidas protetores. Padrão de susceptibilidade. INTRODUÇÃO O gorgulho-do-milho, Sitophilus zeamais Mots. (Coleoptera: Curculionidae), é uma das principais pragas de grãos armazenados (LORINI, 2002; FARONI; SOUSA, 2006). Este inseto ataca vários tipos de grãos armazenados, mais notadamente o milho, reduzindo o poder germinativo das sementes, teor de massa seca dos grãos, valor nutricional e comercial dos produtos finais (CANEPPELE et al., 2003; LORINI, 2003). Atualmente, a prática mais adotada no controle deste inseto é a utilização de fumigantes (fosfeto de alumínio e de magnésio) e inseticidas protetores (piretróides e organofosforados) (BENHALIMA et al., 2004). O organoclorado DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) foi o inseticida mais utilizado no Brasil para controlar insetos-praga de produtos armazenados até meados da década de 80. A malationa em pó substituiu o DDT. Porém, falhas no controle de S. zeamais causaram rápido declínio no uso desse organofosforado (GUEDES et al., 1995). Assim, outros produtos foram introduzidos no setor de armazenamento, como os organofosforados fenitrotiona e pirimifós-metílico e os piretróides deltametrina, bifentrina e permetrina. O uso indiscriminado dos inseticidas protetores e fumigantes para controlar os insetos- praga de produtos armazenados, aliado às técnicas inadequadas de uso, têm favorecido a seleção de populações resistentes (GUEDES, 1991; SUBRAMANYAM; HAGSTRUM, 1996; PIMENTEL et al., 2007). Estudos têm revelado que populações resistentes podem sofrer modificações nas células do corpo gorduroso, favorecendo o armazenamento de reservas energéticas (GUEDES et al., 2006) e a mobilização de enzimas envolvidas na degradação de moléculas tóxicas (NATH et al., 2000). Elevada atividade de destoxificação enzimática pode requerer elevadas taxas Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 75-81, Nov./Dec. 2009 Received: 07/07/08 Accepted: 22/10/08 Toxidade de inseticidas… SANTOS, J. C. et al. 76 respiratórias para fenótipos resistentes, e isso pode causar um desequilíbrio na troca dos gases e resultar em custos fisiológicos devido à realocação de energia para outros processos fisiológicos básicos (HOSTETLER et al., 1994; GUEDES et al., 2006). Assim, objetivou-se avaliar a toxicidade de inseticidas piretróides e organofosforados em populações de S. zeamais provenientes de diferentes estados brasileiros, e verificar a relação da toxicidade dos inseticidas com a taxa respiratória e massa corpórea das populações. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no Setor de Pré- Processamento e Armazenamento de Produtos Agrícolas, do Departamento de Engenharia Agrícola, da Universidade Federal de Viçosa. Os insetos foram identificados em nível de espécie (S. zeamais) através de estudo da genitália, conforme Rees (1996); Faroni e Souza (2002). Foram utilizadas 17 populações brasileiras de S. zeamais provenientes dos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Piauí, Santa Catarina e São Paulo (Tabela 1). As populações foram multiplicadas e mantidas em laboratório sob condições constantes de temperatura (25±2 ºC), umidade relativa (70±5% U.R.) e escotofase de 24 horas. Grãos de milho foram utilizados como substrato alimentar com 13% b.u. (base úmida). Tabela 1. Códigos, origem, local e data de coleta das populações de Sitophilus zeamais Bioensaio de toxicidade Foram utilizados dois inseticidas piretróides e dois organofosforados registrados pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle de S. zemais em milho armazenado (AGROFIT, 2008). Foi avaliada a toxicidade de deltametrina e bifentrina (piretróides); pirimifós- metílico e fenitrotiona (organofosforados) para as populações de S. zeamais, utilizando-se as dosagens recomendadas pelos fabricantes (Tabela 2). Para o tratamento testemunha utilizou-se água destilada. A pulverização dos tratamentos foi realizada em temperatura e umidade relativa ambiente de 26 ºC e 75% U.R.. Foi utilizada uma correia transportadora de 1,00 m de comprimento e 0,20 m de largura, com sistema de pulverização acoplado a 15 cm em relação à massa de grãos e bico hidráulico TP650067, do tipo leque, marca Teejet®. A pressão de trabalho foi de 2 bar, que fornece uma vazão de 0,219 L min-1 (SILVEIRA et al., 2006). Após a pulverização, 50 g de grãos de milho foram colocados em placas de Petri de 140 × 10 mm (diâmetro × altura). Foram utilizadas quatro repetições com 15 insetos adultos de S. zeamais, não-sexados, para cada tratamento. As placas foram mantidas durante 24 h sob condições controladas de temperatura (25 ºC), umidade relativa (75 ± 5% U.R.) e escotofase de 24 h. Posteriormente, contabilizou-se o número de insetos mortos. Nº Cidade Estado Local de coleta Produto Mês/Ano 1 Abre Campo I MG Silo Metálico Milho Dez/2005 2 Abre Campo II MG Silo Metálico Milho Dez/2005 3 Canarana MT Armazém convencional Milho Jan/2005 4 Coimbra MG Lavoura de milho Milho Abr/2007 5 Cristalina GO Armazém graneleiro Milho Dez/2006 6 Guarapuava PR Silo Metálico Milho Ago/2006 7 Guaxupé MG Silo Metálico Milho Ago/2005 8 Iporá GO Armazém graneleiro Milho Dez/2006 9 Jataí GO Armazém graneleiro Milho Mar/2006 10 Nova Era MG Armazém convencional Milho Mai/2005 11 Paracatu MG Silo Metálico Milho Dez/2006 12 Picos PI Armazém convencional Milho Dez/2006 13 Piracicaba SP Laboratório Milho/Trigo Ago/2004 14 Sacramento MG Armazém graneleiro Milho/Sorgo Mai/2005 15 Tunápolis SC Paiol/Sacaria Milho Mai/2005 16 Unaí MG Silo Metálico Milho Ago/2004 17 Viçosa MG Laboratório Milho/Trigo Mar/2004 Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 75-81, Nov./Dec. 2009 Toxidade de inseticidas… SANTOS, J. C. et al. 77 Tabela 2. Ingrediente ativo, nome comercial, dosagem e concentração dos inseticidas e volume de calda utilizado no experimento Ingrediente Ativo Nome comercial Dose comercial (mL ton-1) Concentração (mg kg-1) Vol. Aplicado (mL:kg) Bifentrina ProStore 25 CE 16 8,0 10:10 Deltametrina K-Obiol 25 CE 20 5,0 10:10 Fenitrotriona Sumigran 500 CE 16 4,0 10:10 Pirimifós-metílico Actellic 500 CE 20 100,0 10:10 Ensaios respirométricos e determinação da massa corpórea Os ensaios de respirometria foram feitos em condições de laboratório utilizando-se um respirômetro do tipo CO2 Analiser TR 2 (Sable System International, Las Vegas, EUA) e metodologia adaptada de Guedes et al. (2006) e Pimentel et al. (2007). Para a mensuração da taxa respiratória média (produção de CO2), foram utilizados três repetições de 20 insetos adultos (não-sexados) de cada população, acondicionados em câmaras respirométricas com capacidade volumétrica de 25 mL conectadas a um sistema completamente fechado. Os insetos foram colocados nas câmaras 15 horas antes da mensuração da quantidade de CO2 produzida por eles. Para fazer a varredura de todo o CO2 produzido no interior de cada câmara, procedeu-se à passagem de ar isento de CO2 em fluxo de 600 ml min-1 por um período de dois minutos. Essa corrente de ar faz com que todas as moléculas de CO2 produzidas passem por um leitor de infravermelho acoplado ao sistema, que continuamente faz a mensuração do CO2 produzido pelos insetos e contido no interior de cada câmara. Como controle, utilizou-se uma câmara respirométrica sem insetos. Para a mensuração da massa corpórea, foram utilizados três repetições de 20 insetos adultos (não-sexados) de cada população. Realizou- se a pesagem de cada grupo de 20 insetos utilizando balança analítica, com precisão de 0,0001 g. Análise dos dados Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado para os bioensaios de toxicidade, respirometria e massa corpórea. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste Tukey (p < 0,05), utilizando o procedimento PROC GLM do programa SAS (SAS Intitute, 1989). Realizou-se análise de correlação (p < 0,05) entre a mortalidade e a taxa respiratória, mortalidade e massa corpórea e taxa respirométrica e massa corpórea, utilizando o procedimento PROC CORR do programa SAS (SAS Intitute, 1989). RESULTADOS E DISCUSSÃO As populações apresentaram variação de resposta aos inseticidas piretróides deltametrina (F51, 67 = 9,61; p = 0,0001) e bifentrina (F51, 67 = 14,33; p = 0,0001), com mortalidade média de 0 a 100%. As populações de Guaxupé, Abre Campo I e Sacramento apresentaram mortalidade acima de 98% para deltametrina, enquanto que as populações de Guarapuava e Paracatu não apresentaram mortalidade (Tabela 3). Para bifentrina, as populações de Picos e Piracicaba foram mais sensíveis ao inseticida com mortalidade de 74 e 100%, respectivamente, e a população de Cristalina não apresentou mortalidade (Tabela 3). Com relação aos organofosforados, as populações apresentaram alta mortalidade, havendo uniformidade de resposta para fenitritiona (F51, 67 = 1,00; p = 0,47) e pirimifós metílico (F51, 67 = 1,00; p = 0,47) (Tabela 3). Esses resultados são indicativos de resistência aos inseticidas piretróides e ausência de resistência aos inseticidas organofosforados. Guedes et al. (1995) em trabalhos anteriores já haviam detectado resistência do gorgulho-do- milho a deltametrina em populações de Minas Gerais (Sete Lagoas, Patos de Minas), Paraná (Jacarezinho) e Goiás (Santa Helena e Inhumas), baseado nas doses discriminantes (CL99). Resistência a piretróides também foi observada por Ribeiro et al. (2003) em populações de S. zeamais expostas a concentrações discriminantes de piretróides, baseada na CL95. Estes constataram resistência a deltametrina, permetrina e cipermetrina apenas na população do Paraná (Jacarezinho). No entanto, outras populações de Goiás (Cristalina), Mato Grosso do Sul (Nova Andradina) e São Paulo (Penápolis e São José do Rio Preto), demonstraram menor suscetibilidade a este último inseticida. Para os inseticidas organofosforados tem-se observado menores níveis de resistência em relação aos piretróides. Pacheco et al. (1990) constataram 100% de mortalidade nas populações de S. zeamais de Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul tratados com malationa, pirimifós-metílico e fenitrotiona. Guedes et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 75-81, Nov./Dec. 2009 Toxidade de inseticidas… SANTOS, J. C. et al. 78 (1995) também verificaram que as populações de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Espírito Santo e Rio Grande do Sul foram susceptíveis ao pirimifós-metílico. Os maiores níveis de resistência aos piretróides provavelmente se devem ao uso intensivo do DDT empregado anteriormente no controle de insetos-praga de produtos armazenados, uma vez que populações resistentes a DDT apresentaram resistência cruzada com piretróides (Guedes et al., 1995). Adicionalmente, ao uso de técnicas inadequadas de aplicação e dosagens incorretas deste inseticida. Tabela 3. Porcentagem de mortalidade de populações de Sitophilus zeamais coletadas em diferentes regiões do Brasil submetidas às concentrações comerciais recomendadas dos inseticidas piretróides e organofosforados, após 24 horas da pulverização Mortalidade (%) ± E.P.M.1População Deltametrina Bifentrina Fenitritiona Pirimifós metílico Guaxupé II 100,00 ± 0,00a 55,00 ± 3,19bc 100,00 ± 0,00a 100,00 ± 0,00a Abre Campo I 98,33 ± 1,67ab 41,67 ± 5,69bcd 100,00 ± 0,00a 100,00 ± 0,00a Sacramento 98,33 ± 1,67ab 28,33 ± 12,87cde 100,00± 0,00a 100,00± 0,00a Jataí 73,33 ± 12,17abc 10,00 ± 7,93de 98,33 ± 1,67a 98,33 ± 1,67a Nova Era 75,00 ± 15,00abc 11,67 ± 4,19de 100,00 ± 0,00a 100,00± 0,00a Abre Campo II 60,00 ± 9,81abcd 11,67 ± 7,88de 100,00 ± 0,00a 100,00± 0,00a Coimbra 61,67 ± 12,87abcd 26,67 ± 7,20cde 100,00± 0,00a 100,00± 0,00a Canarama 60,00 ± 9,81abcd 21,67 ± 3,19cde 100,00 ± 0,00a 100,00± 0,00a Picos 66,90 ± 9,30abcd 74,05 ± 2,03ab 100,00 ± 0,00a 100,00 ± 0,00a Piracicaba 71,67 ± 5,69abcd 100,00 ± 0,00a 100,00± 0,00a 100,00 ± 0,00a Viçosa 49,64 ± 13,76bcde 26,90 ± 8,04cde 100,00± 0,00a 100,00± 0,00a Tunápolis 43,33 ± 15,52cde 26,67 ± 14,40cde 100,00± 0,00a 100,00± 0,00a Cristalina 46,67 ± 8,61cde 0,00 ± 0,00e 100,00± 0,00a 100,00 ± 0,00a Unaí 45,83 ± 9,66cde 15,24 ± 1,60de 100,00± 0,00a 100,00± 0,00a Iporá 23,33 ± 11,38de 13,33 ± 4,71de 100,00± 0,00a 100,00± 0,00a Guarapuava II 0,00 ± 0,00e 52,86 ± 6,76bc 100,00 ± 0,00a 100,00 ± 0,00a Paracatu 0,00 ± 0,00e 24,10 ± 5,66cd 100,00± 0,00a 100,00± 0,00a F 9,61 14,33 1,00 1,00 CV (%) 33,68 42,99 0,81 0,81 DMS 27,49 19,38 1,15 1,15 Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05). 1E.P.M.=Erro padrão da média, F=Fonte de variação, CV (%)=Coeficiente de variação, DMS=Diferença mínima significativa A taxa respiratória (produção de CO2) não diferiu significativamente entre as populações de S. zeamais (F16, 42 = 2,99; p = 0,064) (Tabela 4). Por outro lado, a massa corpórea diferiu significativamente entre as populações (F16, 50 = 9,31; p = 0,0001). A maior e a menor massa corpórea foram das populações de Viçosa e Iporá, respectivamente, com variação de 24,10% (Tabela 4). Tabela 4. Médias da massa corpórea e taxas respiratórias (produção de dióxido de carbono) das 17 populações de Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae) Populações Respirometria (μmol h-1) ±E.P.M.1 Massa Corpórea (mg) ±E.P.M.1 Viçosa 9,51 ± 0,47a 73,93 ± 10,87a Guarapuava II 8,37 ± 0,21a 62,50 ± 1,35b Jataí 6,02 ± 0,74a 62,90 ± 2,42b Abre Campo I 5,87 ± 0,45a 60,83 ± 0,83bc Cristalina 8,86 ± 1,82a 61,30 ± 2,33bc Tunápolis 8,49 ± 2,03a 61,40 ± 0,65bc Coimbra 7,77 ± 1,12a 60,60 ± 0,80bcd Picos 8,96 ± 0,68a 60,06 ± 2,10bcd Piracicaba 9,38 ± 0,51a 60,10 ± 2,26bcd Abre Campo II 6,68 ± 0,92a 54,80 ± 2,55bcde Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 75-81, Nov./Dec. 2009 Toxidade de inseticidas… SANTOS, J. C. et al. 79 Canarana 6,14 ± 0,89a 59,50 ± 1,45bcde Nova Era 7,13 ± 0,92a 58,06 ± 2,13bcde Paracatu 6,50 ± 2,53a 53,30 ± 1,22bcde Sacramento 6,68 ± 0,92a 55,83 ± 2,15bcde Guaxupé II 7,25 ± 1,44a 52,10 ± 1,68cde Unaí 6,87 ± 0,75a 50,83 ± 2,20de Iporá 7,30 ± 0,92a 49,83 ± 3,32e F 2,99 9,31 DMS 3,73 9,93 CV (%) 14,51 5,55 Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05). 1E.P.M.=Erro padrão da média, F=Fonte de variação, CV (%)=Coeficiente de variação, DMS=Diferença mínima significativa Para nenhum dos inseticidas estudados foi constatada correlação significativa entre a mortalidade e a taxa respiratória e entre a mortalidade e a massa corpórea (Tabela 5). A taxa respiratória e a massa corpórea são importantes indicadores do estado fisiológico dos insetos e da sua capacidade para mobilizar energia a ser usada na produção de mecanismo de defesa contra os inseticidas, como observado por Guedes et al. (2006). Não foi observada variação na taxa respiratória das populações estudadas no presente trabalho, sugerindo que a toxicidade dos inseticidas não foi influenciada pelo estado fisiológico das populações. Tabela 5. Resumo das análises de correlação para a mortalidade aos inseticidas, produção de CO2 e massa corpórea para as populações de S. zeamais. (%) Mortalidade Correlações Pirimifós-metílico Fenitrotiona Bifentrina Deltametrina r p r p r p r p Respirometria 0,369 0,144 0,369 0,144 0,419 0,090 0,262 0,309 Massa corpórea -0,190 0,460 -0,190 0,460 0,106 0,684 0,262 0,309 r =coeficiente de correlação; p = probabilidade (p>0,05 não significativo). A toxicidade dos inseticidas tem sido associada a mecanismos de defesa em algumas populações de insetos, onde a manutenção dos aparatos de defesa pode estar relacionada com a alta atividade metabólica dos insetos (HOSTETLER et al., 1994; CHOWN e GASTON, 1999; HARAK et al., 1999). Maior massa corpórea e taxa respiratória são indicadores de grandes áreas de reservas de energia e de rápida mobilização de energia suficiente para produzir mecanismos de resistência (OLIVEIRA et al., 2005; GUEDES et al., 2006). Apesar de essas duas variáveis serem indicadoras do estado fisiológico dos indivíduos, nem sempre há correlação significativa entre as mesmas (VOORHIES et al., 2004), como foi observado no presente estudo (r = 0,472; p = 0,055). Com estes resultados verificou-se que as populações com maior massa corpórea não apresentaram maior mobilização de reservas de energia capaz de produzir mecanismos de defesa contra os inseticidas. O processo de destoxificação metabólica talvez não tenha sido o principal mecanismo de resistência envolvido na defesa contra os inseticidas. Porém não deve ser descartada a possibilidade de outros mecanismos, como o seqüestro do produto em algum tecido específico do inseto, aumento na excreção dos compostos tóxicos e dificuldade de penetração do inseticida no organismo (OPPENOORTH; WELLING, 1976; BRATTSTEN et al. 1986). CONCLUSÕES A constante utilização de um único inseticida aumenta a pressão de seleção e a freqüência de genótipos resistentes. No caso de grãos armazenados, o problema torna-se agravado devido aos poucos ingredientes ativos disponíveis e registrados para uso. Do ponto de vista prático a estratégia de manejo de resistência deve ser baseada no uso alternado entre organofosforados e piretróides. Ressalva-se que os intervalos entre as aplicações de piretróides devem ser maiores do que as de organofosforados, de forma a diminuir a pressão de seleção deste inseticida. Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 75-81, Nov./Dec. 2009 Toxidade de inseticidas… SANTOS, J. C. et al. 80 ABSTRACT: This study was done to determine the toxicity of commercial organophosphorus (pirimiphos- methyl and fenitrothion) and pyrethroid (deltametrin and bifetrin) insecticides to 17 adult populations of S. zeamais collected from different Brazilian states and also to determine the respiratory pattern and body mass of these populations. The insecticides were used at the commercially recommended dose. Corn grains moving over a transport belt were sprayed with use of a hydraulic nozzle, and samples of 50 g were transferred to Petri plates, in four replications, and infested with 15 adults of S. zeamais. The grains were stored at 25±2 ºC and 70 ± 5% relative humidity with 24 h escotophase. The mortality ratios of insects were counted after 24 h. The respiratory rate (CO2) and body mass of each population was measured too. The toxicity of pyrethroids had high different significantly among populations with mortality ratio from 0 to 100%, while the response to organophosphorus insecticides was uniform, with mortality ratio over than 98%. These results suggest presence and absence of resistance to pyrethroid and organophosphorus insecticides respectively. The respiratory rate doesn’t have different significantly among insect populations, but in other way the body mass had significant variation. The correlations between mortality and respiratory rate, mortality and body mass and respiratory rate and body mass were not different significant, indicating that the toxicity of insecticides were not influenced by the physiological stage of the population. KEYWORDS: Stored. Corn beetle. Protection of insecticides. Pattern of susceptibility. REFERÊNCIAS AGROFIT. Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 22 agos. 2008. BENHALIMA, H.; CHAUDHRY, M. Q.; MILLS, K. A.; PRICE, N. R. Phosphine resistance in stored-product insects collected from various grain storage facilities in Marocco. Journal Stored Products Research, Oxford, v. 40, n. 3, p. 241-249, 2004. BRATTSTEN, L. B.; HOLYOKE, J. R.; LEEPER, L. W.; RAFFIA, K. F. Insecticide resistance: challenge to pest management and basic research. Science, Washington, v. 231, p. 1255-1260, 1986. CANEPPELE, M.; CANEPPELE, C.; LÁZZARI, F. A.; LÁZZARI, A. M. Correlation between the infestation level of Sitophilus zeamais Motschulsky, 1855 (Coleoptera: Curculionidae) an the quality factors of stored corn, Zea mays L. (Poaceae). Revista Brasileira de Entomologia, Curitiba, v. 47, n. 4, p. 625-630, 2003. CHOWN, S. L.; GASTON, K. Exploring links between physiology and ecology at macro-scales: the role of respiratory metabolism in insects. Biological Research, New York, v. 74, n. 1, p. 87–120, Fev. 1999. FARONI, L. R. A.; SOUZA, A. H. Aspectos biológicos e taxonômicos dos principais insetos-praga de produtos armazenados. In: Almeida, F. A. C.; Duarte, M. E. M.; Mata, M. E. R. M. C. (Ed). Tecnologia de Armazenagem em sementes. Campina Grande: UFCG, 2006. cap. 7, p. 371-402. GUEDES, R. N. C. Manejo integrado para a proteção de grãos armazenados contra insetos. Revista Brasileira de Armazenamento, Viçosa, v. 15-16, n. 1-2, p. 3-48, 1991. GUEDES, R. N. C.; LIMA, J. O.; SANTOS, J.; CRUZ, C. D. Resistance to DDT and pyrethroids in Brazilian populations of Sitophilus zeamais Motsch. (Coleoptera: Curculionidae). Journal of Stored Products Research, Oxford, v. 31, n. 2, p. 145-150, 1995. GUEDES, R. N. C.; OLIVEIRA, E. E.; GUEDES, N. M. P.; RIBEIRO, B.; SERRÃO, J. E. Cost and mitigation of insecticide resistance in the maize weevil, Sitophilus zeamais. Physiological Entomology, Oxford, v. 31, n. 1, p. 30-38, mar. 2006. HARAK, M.; LAMPRECHT, I.; KUUSIK, A.; HIIESAAR, K.; METSPALU, L.; TARTES, U. Calorimetric investigations of insect metabolism and development under the influence of a toxic plant extract. Thermochimica Acta, Amsterdam, v. 333, p. 39-48, Jul.1999. Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 75-81, Nov./Dec. 2009 http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons Toxidade de inseticidas… SANTOS, J. C. et al. 81 HOSTETLER, M. E.; ANDERSON, J. F.; LANCIANI, C. Pesticide resistance and metabolic rate in German cockroach (Dictyoptera: Blattellidae). Florida Entomologist, Gainesville, v. 77, n. 2, p. 288-290, Jun. 1994. LORINI, I. Descrição, biologia e danos das principais pragas de grãos armazenados. In: Irineu, L.; Miike, L.H.; Scussel, V. M. (Ed). Armazenagem de Grãos. Campinas: Instituto Biogeneziz, 2002. cap. 7.1, p. 379-397. LORINI, I. Manual técnico para o manejo integrado de pragas de grãos de cereais armazenados. 2 ed. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2003. 80 p. NATH, B. S. Changes in carbohydrate metabolism in hemolymph and fat body of the silkworm, Bombyx mori L. exposed to organophosphorus insecticides. Pesticide Biochemistry and Physiology, San Diego, v. 68, n. 3, p. 127-137, Nov. 2000. OLIVEIRA, E. E.; GUEDES, R. N. C.; CORRÊA, A. S.; DAMASCENO, B. L.; SANTOS, C. T. Resistência vs Susceptibilidade a Piretróides em Sitophilus zeamais Motschulsky (Coleoptera: Curculionidae): Há vencedor?. Neotropical Entomology, Londrina, v. 34, n. 6, p. 981-990, Nov-Dez. 2005. OPPENOORTH, F. J.; WELLING, W. Biochemistry and physiology of resistance. In: Wilkinson, C. F. (Ed.). Insecticide Biochemistry and Physiology. New York, Plenum, 1976. p. 507-551. PACHECO, I. A.; SARTORI, M. R.; BOLONHEZI, S. Resistance to malathion, pirimiphos-methyl and fenitrothion in Coleoptera from stored grains. In: Proceedings of the Fifth International Working Conference on Stored-Product Protection, 5., 1990. France, Anais… France: Associação Brasileira de Pós-Colheita, 1990, p. 1029-1036. PIMENTEL, M. A.G.; FARONI, L.R.A.; TÓTOLA, M.R.; GUEDES, R.N.C. Phosphine resistente, respiration rate and fitness consequences in stored-product insects. Pest Management Science, West Sussex, v. 63, n. 9, p. 876-881, Set. 2007. REES, D. P. Coleoptera. In: Subramanyam, B.; Hagstrum, D. W. Integrated Management of Insects in Stored Products, New York: Marcel Dekker, 1996. p. 1-39 RIBEIRO, B. M.; GUEDES, R. N. C.; OLIVEIRA, E. E.; SANTOS, J. P. Insect resistance and synergism in Brazilian populations of Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae). Journal of Stored Products Research, Oxford, v. 39, n. 1, p. 21-31, 2003. SAS INSTITUTE. Sas/Stat User`s Guide, version 6. 1989. SAS Institute, Cary, NC, USA. 1989. SILVEIRA, R. D.; FARONI, L. R. A.; PIMENTEL, M. A. G.; PETERNELLI, L. A.; ZOCOLO, G. J. Eficácia biológica e persistência de Bifentrina pulverizada em grãos de milho com diferentes temperaturas. Neotropical Entomology, Londrina, v. 35, n. 2, p. 264-268, mar-abr. 2006. SUBRAMANYAM, B.; HAGSTRUM, D. W. Resistance Measurement and Management In: Subramanyam, B.; Hagstrum, D. W. (Ed). Integrated Management of Insects in Stored Products. New York: Marcel Dekker, 1996. cap. 8, p. 331-397. VOORHIES, W. A. V.; KHAZAELI, A. A.; CURTSINGER, J.W. Lack of correlation between body mass and metabolic rate in Drosophila melanogaster. Journal of Insect Physiology, Oxford, v. 50, p. 445–453, Mai. 2004. Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 75-81, Nov./Dec. 2009