OBSERVAES SOBRE ABELHAS SEM FERRO (HYMENOPTERA: MELIPONINI) COLETORAS DE LTEX EM ABRIC DO PAR Mammea americana (L Short Communication 133 OBSERVAÇÕES SOBRE ABELHAS SEM FERRÃO (HYMENOPTERA: MELIPONINI) COLETORAS DE LÁTEX EM ABRICÓ DO PARÁ Mammea americana (L.) Jacq. (CLUSIACEAE), MANAUS, AMAZONAS, BRASIL OBSERVATIONS ON STINGLESS BEES (HYMENOPTERA: MELIPONINI) COLLECTING OF LATEX IN MAMMY Mammea americana (L.) Jacq. (CLUSIACEAE), MANAUS, STATE OF AMAZONAS, BRAZIL Cristiane Dias Pereira1, Jamil Tannús-Neto1 1. Biólogo(a), Pós-graduação em entomologia, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, MA, Brasil. cristianebiology@hotmail.com RESUMO: O conhecimento das espécies de plantas utilizadas pelas abelhas sem ferrão é primordial para a manutenção das mesmas. O objetivo deste trabalho foi verificar a coleta de látex em Mammea americana (Clusiaceae) e os padrões de abundância dos visitantes. O estudo foi conduzido no Bosque da Ciência, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus-AM. A comunidade de abelhas foi representada por Trigona williana e T. recursa. A espécie presente em maior abundância foi T. recursa (89,4%). Estas abelhas coletam o látex para proteger o ninho contra possíveis inquilinos e predadores, devido a sua ação antimicrobiana. PALAVRAS-CHAVE: Abelhas sem ferrão. Meliponini. Trigona recursa. Trigona williana. As abelhas são essenciais na conservação e sobrevivência de vários ecossistemas (ABSY et al., 1984). No Brasil, as abelhas sem ferrão (Hymenoptera: Meliponini) utilizam e polinizam grande parte das Angiospermas (KERR et al., 2001). As Angiospermas oferecem cinco tipos de recompensas florais: pólen, néctar, resina, óleos compostos de terpenos e óleos florais constituídos por lipídios (REIS, 2000). As resinas e óleos florais são recompensas não usuais, limitadas a poucos gêneros de plantas (LOKVAM et al., 2000). Além das recompensas florais, as abelhas sem ferrão também utilizam outros produtos das plantas, como o látex, a madeira em decomposição, casca de árvores, suco dos frutos, sementes, folhas e seiva. A identificação das espécies de plantas utilizadas para a sobrevivência das abelhas sem ferrão, bem como o conhecimento das espécies de plantas necessário à obtenção de produtos vegetais é primordial para a conservação, preservação, manutenção e criação das mesmas. O objetivo deste trabalho foi verificar a coleta de látex no abricó do Pará Mammea americana (L.) Jacq. (Clusiaceae), bem como conhecer os padrões de abundância dos visitantes. M. americana espécie apresenta porte médio com aproximadamente 20 m de altura (CAVALCANTE, 1991), tem sido cultivada no norte e nordeste do Brasil devido ao seu fruto, o qual contém uma polpa amarelada, comestível, rica em açúcares e fibras (RODRIGUES, 1989). O estudo foi realizado no Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA-Manaus, AM), coordenadas geográficas 3008’S, 60010’W, área de 13 hectares. O levantamento das espécies de abelhas foi realizado de 01 de setembro a 30 de novembro de 2002 em uma árvore de M. americana. Esta árvore apresentava vários cortes no caule, anteriores ao atual trabalho de observação, em virtude da ação humana. O látex liberado acumulava nos cortes que depois se solidificava, este evento durou quatro meses. Observações diárias foram realizadas de uma em uma hora, por 15 minutos, no período de 9:00 às 18:00 horas anotando-se número de indivíduos de cada espécie que coletavam o látex. A comunidade de abelhas nos três meses estudados (setembro, outubro e novembro) foi representada por duas espécies da Família Apidae, Trigona williana Friese e Trigona recursa Smith. T. williana apresentava uma colônia a 100m da árvore estudada e T. recursa quatro ninhos subterrâneos a 250m. T. williana, conhecida por abelha boca-de- ralo, faz seu ninho em árvores. Habita o Brasil, Guiana Britânica, Venezuela, Bolívia, Peru e Equador (SCHWARZ, 1948). T. recursa, popularmente conhecida como feiticeira é uma abelha de porte médio que faz seu ninho no solo. É encontrada desde o sul dos Estados Unidos (América do Norte) até a América central e América do Sul (SCHWARZ, 1948). As operárias destas abelhas coletaram o látex do interior da casca de M. americana, algo incomum, pois estas abelhas, geralmente, retiram Biosci. J., Uberlândia, v. 25, n. 6, p. 133-135, Nov./Dec. 2009 Received: 13/08/08 Accepted: 02/10/08 Observações sobre abelhas... PEREIRA, C. D.; TANNÚS-NETO, J. 134 resina dos frutos e flores desta Família (MARQUES-SOUZA et al., 1996). Ambas levavam o látex nas tíbias das pernas posteriores. As operárias de T. recursa coletavam de duas formas, sobrevoavam a fonte de látex ou pousavam a aproximadamente 30 cm do local onde as T. williana coletavam. Vários trabalhos têm registrado a atividade antimicrobiana de espécies da família Clusiaceae tais como: extratos da casca de Mammea africana Sabine em culturas de bactérias Staphylococcus aureus Rosenbach (Staphylococcaceae) OUAHOUO et al. (2004) e dos extratos florais de Mammea siamensis Kolsterm em Bacillus subtilis Cohn (Baciliaceae) e S. aureus (ANTIA et al., 2006). Estudos com extratos de M. americana ainda são pouco conhecidos, sendo registrado apenas propriedades inseticidas e ectoparasíticas em suas sementes (ALVARADO-PANAMENO et al., 1994). A presença de substâncias antimicrobianas no látex, provavelmente, pode ser importante para que o ninho de abelhas fique protegido contra a infecção por microorganismos. T. recursa foi à espécie de abelha presente em maior abundância (89,4%) coletando látex em M. americana. E a porcentagem mensal dessas abelhas em setembro, outubro e novembro foi, respectivamente, 95,6%, 83,5% e 90,5 %. T. williana teve menor abundância (10,6%), apesar da colônia estar próxima da M. americana. A porcentagem mensal dessa espécie foi para o mês de setembro 4,4%, 16,5% em outubro e 9,5% em novembro. A T. recursa foi a espécie dominante nos três meses de observação, podendo ter influenciado a atividade de coleta da T. williana, ou mesmo de outras espécies de abelhas. Observando a distribuição dos indivíduos coletados por intervalo de hora, verificou-se a maior abundância no período da manhã no intervalo de 9:00 as 10:00 horas com 59,3% destas abelhas. No turno vespertino, a maior abundância foi observada entre 14:00 e 15:00 horas com 40,7%. T. williana e T. recursa coletam o látex de M. americana, provavelmente, para proteger o seu ninho contra possíveis microorganismos, pois este látex pode apresentar ação antimicrobiana. Estudos posteriores são necessários para verificar os componentes químicos do látex de M. americana, pois esta espécie pode ser importante como fonte de recursos para a criação destas abelhas. ABSTRACT: The knowledge regarding the plant species used by the stingless bees for their survival is a fundamental factor for their maintenance. The objective of this study is to observe collecting latex in Mammea americana tree (Clusiaceae) and abundance patterns of visitors. The study was carried out in the “Bosque da Ciência,” Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus-AM. The bee communities were represented by Trigona williana and Trigona recursa. The latter presented the highest abundance (89.4%). These bees probably collect this substance in order to protect their nest against other possible tenants and predators, since it acts as an antimicrobial agent. KEYWORDS: Stingless bees. Meliponini. Trigona recursa. Trigona williana. REFERÊNCIAS ABSY, M. L.; CAMARGO, J. M. F.; KERR, W. 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