Microsoft Word - 14-revisado_839.doc Original Article Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 4, p. 602-609, July/Aug. 2010 602 TEOR DE ÓLEO PARA GENÓTIPOS DE SOJA EM TRÊS ÉPOCAS DE SEMEADURA OIL CONTENTS IN SOYBEAN GENOTYPES IN THREE SOWING DATES Marcelo Magri LÉLIS1; Osvaldo Toshiyuki HAMAWAKI2; Marcelo TAVARES3; Leonardo Angelo de AQUINO4 1. Mestre em Agronomia, Fitotecnia, Instituto de Ciências Agrárias - ICIAG, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Uberlândia, MG, Brasil. marcelomlelis@yahoo.com.br; 2. Professor, Doutor, ICIAG – UFU, Uberlândia, MG, Brasil; 3. Professor, Doutor, Faculdade de Matemática – UFU, Uberlândia, MG, Brasil; 4. Professor, Doutor, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Januária, MG, Brasil. RESUMO: A época de semeadura é um dos fatores que mais influencia no desempenho da soja (Glycine max (L.) Merrill), em função das alterações das variáveis climáticas das quais a cultura é sensível. Objetivou-se estudar o efeito de três épocas de semeadura no teor de óleo para genótipos de soja, nas condições de Uberlândia-MG. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, em esquema de parcela subdividida, com três repetições. As parcelas foram constituídas pelas épocas de semeadura (31/10, 22/11 e 14/12/06) e as subparcelas pelos genótipos (Impacta, Guarani, Riqueza, Milionária, Xavante, Conquista e Garantia). Cada subparcela foi constituída por uma linha de 5 m, sendo considerada como área útil os 4 m centrais. Foram avaliadas as seguintes características: severidade de ferrugem (SF), peso de 100 grãos (PCG), teor de óleo, produtividade de grãos e de óleo. A semeadura realizada no mês de dezembro proporcionou menor peso de 100 grãos, teor de óleo e produtividade de grãos e de óleo. A severidade de ferrugem foi maior no mês de outubro. Garantia, Guarani e Conquista apresentaram maior peso de 100 grãos. As variedades Milionária, Xavante e Garantia, para o semeio no mês de outubro, e as variedades Guarani e Milionária, para o semeio no mês de novembro, se destacaram quanto à produtividade de óleo. PALAVRAS-CHAVE: Glycine Max. Melhoramento de plantas. Produtividade de óleo. INTRODUÇÃO A sojicultura por muitos anos ocupa lugar de destaque na agricultura mundial. A cultura da soja é grande fonte de proteína e óleo, que, respectivamente, correspondem em média a 40 e 20 % de sua composição química. Segundo o USDA (2007), é a oleaginosa de maior produção mundial com 220,99 milhões toneladas, seguida por canola (49,31), algodão (45,86), amendoin (32,14), girassol (27,31), entre outros. O óleo de soja é um dos produtos mais utilizados na alimentação humana e a sua participação no mercado mundial de óleos vegetais comestíveis é de 27,5% (SEDIYAMA et al., 2005). O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja com 57,1 milhões de toneladas e possui condições de aumentar os teores de óleo através da utilização de genótipos de soja adaptados e exóticos (CONAB, 2009; ROCHA, 2002). Além de fatores genéticos, para o aumento do teor e da produtividade de óleo, devem ser considerados outros fatores como a nutrição mineral e fatores climáticos relacionados principalmente com a época de semeadura (MANN et al., 2002). Dependendo dos genótipos avaliados, a correlação entre teor de óleo e rendimento de grãos de soja pode ser elevada e positiva (JOHNSON et al., 1955), pequena, variar de positiva a negativa (SIMPSON JÚNIOR; WILCOX, 1983), ou ainda, ser ausente (KWON; TORRIE, 1964). Os resultados da correlação genética mostraram que a percentagem de proteína, o peso de 100 grãos, a data florescimento, o período de enchimento e a data de maturidade, tiveram correlação negativa significativa com o teor de óleo (ZEINALI et al., 2002). Segundo Voldeng et al. (1997), de 1976 a 1992, o aumento do rendimento de grãos das variedades cultivadas nos EUA foi de 0,7% ao ano, enquanto o nível de proteína foi reduzido em 4 g/kg/ano e o teor de óleo aumentou em 4 g/kg/ano. Entretanto, mesmo que a finalidade teor de óleo seja satisfeita deve ser considerado ainda o fator produtividade de óleo. Fehr (1978), salienta que para a obtenção da alta produtividade de óleo, a utilização da seleção indireta para produtividade de grãos, pode ser estratégia eficiente. Os ácidos graxos, em média, compõem 60% do óleo de soja, sendo que 85% deste total correspondem aos poliinsaturados (oléico, linoléico e linolênico) e 15% aos polisaturados (palmítico e esteárico) (LANNA et al., 2005). Enzimas que controlam a biossíntese de ácidos graxos no óleo da soja nas sementes são sensíveis à temperatura durante a época de deposição do óleo. A época e os Received: 30/12/08 Accepted: 05/04/09 Teor de óleo... LÉLIS, M. M. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 4, p. 602-609, July/Aug. 2010 603 diferentes anos alteram cada ácido graxo independentemente (WILCOX; CAVINS, 1992). Com o atraso na época de semeadura, ocorre a diminuição no número de nós da haste principal, afetando o rendimento (MARTINS et al.,1999). Ao se realizar o semeio tardiamente, a cultura tem o crescimento vegetativo adequado, impedindo a planta de expressar seu máximo potencial produtivo. Braccini et al. (2004), trabalhando 5 cultivares de soja, em dois anos, obteve perda de rendimento crescente com o atraso mensal da semeadura (15/11, 15/01 e 15/02). Aliado a isto, o teor de óleo será menor quando a maturação estiver mais próxima da época de temperaturas mais baixas, mais precisamente, com maior interação na fase de enchimento de grãos. No entanto, o cultivo de variedades de soja de ciclo precoce para épocas tardias surge como uma ótima alternativa para os sojicultores (SEDIYAMA et al., 1996). A severidade da ferrugem asiática da soja, por ser um patógeno de característica biotrófica, se acentua com o uso de cultivares de ciclos médios a tardios e com o atraso da época de semeadura para a região de cultivo, afetando assim, o enchimento e o posterior rendimento de grãos (JULIATTI et al., 2004). Os programas nacionais de biocombustíveis vêem acentuando a demanda por óleos vegetais no mercado. A soja, sendo uma cultura de grande produtividade e conhecimento técnico-científico já avançados, torna-se a cultura preferencial para uso imediato. Segundo Ferrari et al. (2005), biodiesel é um combustível obtido de vegetais com propriedades similares ao diesel comum. No entanto, para se tornar viável nos processos de combustão, o óleo deve passar por processo de transesterificação. Assim, não basta obter uma grande quantidade do produto sem que haja um controle de sua qualidade anteriormente ao campo. Deste modo, é importante que diferentes genótipos, em diferentes locais, anos, tecnologias, etc, devam ser testados continuamente. Objetivou-se, estudar o efeito de três épocas de semeadura sobre características agronômicas e teor de óleo, em sete genótipos de soja, nas condições edafoclimáticas de Uberlândia- MG. MATERIAL E MÉTODOS Condições de cultivo O experimento foi instalado na unidade experimental Fazenda Capim-Branco, pertencente à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no município de Uberlândia-MG, situado a 18° 55’ 23’’ de latitude Sul, 48° 17’ 19’’ de longitude Oeste, 872 m de altitude, no ano agrícola de 2006/07. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho Escuro-Distrófico, de textura argilosa e topografia suave. O preparo do solo constou de uma gradagem pesada seguida de uma operação com a grade destorroadora e niveladora. A adubação de semeadura foi realizada utilizando-se 500 kg ha-1 do formulado 4-30-16. O critério de recomendação da adubação foi de acordo com resultados de análise química de solo e recomendação da cultura da soja (Quadro 1) (EMBRAPA, 2006). Quadro 1. Análise de solo realizada no Laboratório de Solos do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). pH 5,6 (em H2O) P 6,4 mg dm-3 K 167 mg dm-3 (P-K: Mehlich 1) Ca 2+ 2,1 cmolc dm -3 Mg 2+ 0,9 cmolc dm -3 Al 0,0 cmolc dm -3 (Ca, Mg, Al: KCl 1 mol L-1); H+Al 3,8 cmolc dm -3 (Solução Tampão – SMP a pH 7,5) SB 3,4 cmolc dm -3 t 3,4 cmolc dm -3 Teor de óleo... LÉLIS, M. M. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 4, p. 602-609, July/Aug. 2010 604 T T = 7,2 cmolc dm -3 V 47% m 0%; M.O. 2,7 dag kg-1 (Método Colorimétrico; Método da Pipeta) As sementes foram previamente tratadas com Vitavax-Thiram SC® (400 mL para 100 kg de sementes) e utilizou-se o inoculante turfoso Bioagro®, contendo bactérias Bradyrhizobium japonicum com as estirpes SEMIA 5.079 e SEMIA 5.080 (500 kg de semente – 10 doses, com 600.000 bactérias dose-1) (EMBRAPA, 2006). A inoculação foi realizada após a semeadura diretamente no sulco. Foram utilizadas sementes que se encontravam previamente armazenadas em câmara fria à 10 °C e 50% de umidade relativa. A semeadura foi realizada manualmente à 2 cm de profundidade, em sulcos espaçados de 50 cm. Quando necessário, realizaram-se capinas manuais para controle das plantas daninhas. Aplicou-se Engeo Pleno® (0,25 L ha-1) para o controle de mosca branca (Bemisia tabaci, raça B) e Stron® (0,8 L ha-1) para o controle de percevejos. Foram realizadas 4 aplicações de fungicidas para o controle da ferrugem asiática da soja. Em todas as épocas utilizou-se a seguinte seqüência: Ópera® (0,5 L ha-1), Folicur 200 EC® (0,5 L ha-1), Folicur 200 EC® (0,5 L ha-1) e Ópera® (0,5 L ha-1). Diariamente coletaram-se dados de temperatura (máxima e mínima) e precipitação (Tabela 1). Não houve irrigação suplementar às chuvas no experimento. Delineamento experimental Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados em esquema de parcelas subdivididas, sendo o fator da parcela as épocas e da subparcela os genótipos, com três repetições. As épocas de semeadura foram 31 de outubro, 22 de novembro e 14 de dezembro de 2006. Os genótipos, oriundos do Programa de Melhoramento de Soja da UFU foram: Impacta, Guarani, Riqueza, Milionária, Xavante (variedades); Conquista e Garantia (variedades-padrão). A subparcela (genótipo) foi constituída de uma fileira de 5 m de comprimento, sendo que considerada como área útil os 4 m centrais. Avaliação Severidade de ferrugem (SF): avaliada visualmente em cinco folíolos no terço médio de cada planta, avaliando-se três plantas por subparcela, conforme a escala diagramática proposta por Juliatti et al. (2004); peso de 100 grãos (PCG): massa de 100 grãos obtida da trilha de plantas da área útil de cada subparcela, corrigida para a umidade de 13%; teor de óleo: pelo método da extrusão realizado no Laboratório de Nutrição Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da UFU (MAPA, 2005); produtividade: obtida após pesagem das sementes das plantas da área útil de cada subparcela e correção da umidade para 13%; produtividade de óleo: obtida pelo produto entre a produtividade de grãos (massa seca) e o teor de óleo do respectivo genótipo. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância utilizando-se o programa estatístico SISVAR (UFLA). As médias dos tratamentos foram comparadas pelo critério de Scott Knott, ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se o efeito significativo da interação época de semeadura x genótipo para teor de óleo (Tabela 2), produtividade de grãos (Tabela 3) e produtividade de óleo (Tabela 4). Houve efeito da época de semeadura para severidade de ferrugem (SF), não se observando o mesmo efeito para os genótipos (Tabela 1). No entanto, Garantia e Guarani apresentaram maiores valores de SF, indicando uma tendência a possibilidade de menor tolerância à doença. Segundo Azevedo et al. (2007), há comportamentos diferenciados em relação à severidade da doença nos diferentes genótipos. A primeira época de semeadura (31/10) se diferenciou significativamente das demais, apresentando maior severidade de ferrugem. Este efeito pode ser explicado pela diminuição e irregularidade das chuvas a partir do final de fevereiro (ver precipitação mensal em Figura 1), prejudicando assim o progresso da doença para as épocas de semeadura 2 e 3 (22/11 e 14/12). Gallotti et al.(2005), obtiveram menores valores de severidade de ferrugem da soja, quando semeada entre 4/11 e 24/11/04, possivelmente pela baixa e irregular precipitação, na fase de fechamento do dossel da cultura. Teor de óleo... LÉLIS, M. M. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 4, p. 602-609, July/Aug. 2010 605 Tabela 1. Severidade de ferrugem (SF) e peso de cem grãos (PCG) para os genótipos avaliados em três épocas de semeadura. SF (%) PCG (g) Genótipos Épocas Médias Épocas Médias 1 (31/10) 2 (22/11) 3 (14/12) 1 (31/10) 2 (22/11) 3 (14/12) Impacta 26,7 1,7 9,3 12,5 ns 8,72 7,57 7,45 7,91 C Guarani 56,7 2,3 6 21,7 -- 12,07 12,21 10,31 11,53 A Riqueza 35 4,7 8,5 17,0 -- 8,41 7,89 8,51 8,27 C Milionária 33,7 4,7 8,3 15,6 10,07 9,78 8,08 9,31 B Xavante 34,3 7,3 10,3 17,3 10,64 9,16 8,97 9,59 B Conquista 36,7 7,3 9,7 17,9 13,47 11,74 10,52 11,91 A Garantia 60 10 13,3 27,8 14,26 12,23 11,43 12,64 A Médias 40,4 a 5,4 b 9,4 b 18,4 11,09 a 10,08 b 9,32 c 10,17 CV (%) 55,19 10,78 Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha ou maiúscula na coluna pertencem a um mesmo grupo, de acordo com o critério de agrupamento de Scott-Knott (1974), a 5% de probabilidade. Para peso de 100 grãos (PCG), houve efeito de época de semeadura e de genótipo (Tabela 1). Assim, o PCG foi descrescente da época 1 (31/10) para a época 3 (14/12). Com relação aos genótipos, Guarani obteve juntamente às variedades-padrão (testemunhas), Conquista e Garantia, o maior PCG. Milionária e Xavante, seguidas por Riqueza e Impacta, apresentaram valores de PCG menores em relação às variedades-padrão. O PCG maior na época 1 (31/10), pode ser atribuído a maior disponibilidade hídrica que os genótipos desta época tiveram na fase de enchimento grãos, diferentemente do ocorrido para a época 3 (14/12) (Tabela 1). Gallotti et al.(2005) observaram a maior massa de 100 grãos para a época mais favorecida com a precipitação pluvial nesta mesma fase crítica. Tabela 2. Teor de óleo (%), pelo método de extrusão (MAPA, 2005), para genótipos avaliados em três épocas de semeadura. Teor de óleo (%) Genótipos Épocas Médias 1 (31/10) 2 (22/11) 3 (14/12) Impacta 8,90 Be 14,39 Ab 8,02 Cd 10,44 Guarani 14,02 Bc 16,58 Aa 9,38 Cc 13,32 Riqueza 9,27 Be 11,83 Ac 8,89 Bc 10,00 Milionária 10,09 Bd 13,81 Ab 9,49 Bc 11,13 Xavante 13,93 Ac 12,67 Bc 9,97 Cb 12,19 Conquista 14,98 Ab 14,19 Ab 10,13 Bb 13,10 Garantia 16,25 Aa 16,17 Aa 11,30 Ba 14,57 Médias 12,49 14,23 9,59 12,10 CV (%) 4,36 Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha ou minúscula na coluna pertencem a um mesmo grupo, de acordo com o critério de agrupamento de Scott-Knott (1974), a 5% de probabilidade. Houve efeito da interação época de semeadura x genótipo, para teor de óleo nos grãos (Tabela 2). Na primeira época de semeadura (31/10) a variedade Garantia (variedade-padrão) apresentou o maior valor de teor de óleo, enquanto Riqueza e Impacta, apresentaram os menores valores para esta época. Já para a época 2 (22/11), Guarani e Garantia obtiveram os maiores teores de óleo, contrariamente, à Xavante e Riqueza com os menores valores. Para a época 3 (14/12), Garantia e Impacta seguiram, respectivamente, com o maior e menor valor de teor de óleo. Os genótipos, exceto Xavante (época 1), apresentaram os maiores teores de óleo na época 2 (22/11). Para Garantia e Conquista, não houve diferença entre as épocas 1 e 2 (31/10 e 22/11). Os genótipos apresentaram baixo teor de óleo na época 3 (14/12). Nesta época, Xavante, Impacta e Guarani Teor de óleo... LÉLIS, M. M. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 4, p. 602-609, July/Aug. 2010 606 apresentaram os menores teores de óleo. Como o teor de óleo e produtividade de grãos possuem uma associação positiva, há o incremento de teor de óleo nos cultivares mais produtivos (Montaño-Velasco, 1994). Deste modo, a variedade Garantia, que apresentou maior teor de óleo nas três épocas de semeadura, figura o rol das mais produtivas nas três épocas (Tabela 2). De acordo com Sediyama et al. (1996), a temperatura ótima para a obtenção de maior fotossíntese líquida na cultura da soja é de 25 a 30 °C. Aliado a isso, o alto conteúdo de óleo nos grãos se relaciona com temperaturas mais altas, principalmente, com 20 a 40 dias antes do período de maturação. Deste modo, os genótipos das épocas 1 e 2 (31/10 e 22/11) se beneficiaram de uma soma de altas temperaturas durante todo o ciclo e período anterior à maturação em relação à época 3 (14/12), obtendo maior teor de óleo (Figura 1). Figura 1. Dados de temperaturas média diária e precipitação pluvial mensal, de outubro a maio do ano agrícola de 2006/2007, na Fazenda Capim Branco (UFU), em Uberlândia-MG. Temperatura média diária: máxima e mínima; Outubro: Valor contabilizado somente no dia 31/10. Houve interação época de semeadura x genótipos para a produtividade de grãos e de óleo (Tabelas 3 e 4). Na época de semeadura 1 (31/10), as variedades Milionária, Xavante e Garantia, apresentaram as maiores produtividades de grãos. Já para a época 2 (22/11), Guarani, Riqueza e Milionária, obtiveram as maiores produtividades. Na época 3 (14/12), não foram detectadas diferenças significativas entre os genótipos, destacando-se a baixa produtividade geral. Das variedades estudadas, Garantia, Xavante, Guarani e Milionária, apresentaram diferença nas épocas de semeadura, onde as duas primeiras apresentaram rendimento maior na época 1, Guarani maior rendimento na época 3 e Milionária nas épocas 1 e 2. No geral, a época 1 (31/10), resultou em genótipos com maior produtividade de grãos que na época 2 (22/11), que por sua vez, maior que na época 3 (14/12). Temperatura, precipitação e comprimento do dia local em declínio estão diretamente relacionados em decréscimo de produtividade com o atraso da semeadura. Este declínio pode ser observado em Figura 1, sugerindo que os genótipos nas épocas 1 (31/10),2 (22/11) e 3 (14/12) não usufruíram de uma mesma condição meteorológica favorável em todo ciclo ou ao menos parte dele para a produtividade de grãos. Braccini et al. (2004), avaliando o rendimento de cultivares de soja semeadas em três épocas (15/11, 15/01 e 15/02) e por dois anos agrícolas (98/99 e 99/00), observaram que o atraso de semeadura, devido a presença diferenciada do fotoperíodo nas diferentes épocas, proporciona menores dias para emergência, floração e maturação. Como consequência, menores rendimentos são observados. As maiores produtividades de óleo, na época 1 (31/10), foram observadas com as variedades Xavante e Garantia.. Para a época 2 (22/11), Guarani e Milionária apresentaram o maior rendimento de óleo, enquanto que na época 3 (14/12), não houve efeito significativo do teor de óleo entre as variedades. Ao considerarmos as variedades, somente Impacta, Riqueza e Conquista não apresentaram diferença significativa entre as épocas de semeadura (Tabela 4). O comportamento das variedades para produtividade de grãos (Tabela 3) e de óleo (Tabela 4) foram similares, em relação ás épocas de semeadura. De acordo com Montaño- Velasco (1994), há o ganho da produtividade de óleo para os cultivares de maior produtividade de grãos, devido a associação destes caracteres ser alta e positiva (r=0,99). Teor de óleo... LÉLIS, M. M. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 4, p. 602-609, July/Aug. 2010 607 Tabela 3. Produtividade de grãos (kg ha-1) para genótipos avaliados em três épocas distintas de semeadura. Produtividade de grãos (kg ha-1) Genótipos Épocas Médias 1 (31/10) 2 (22/11) 3 (14/12) Impacta 1687,76 Ab 1036,70 Ab 1652,60 Aa 1459,02 Guarani 1366,50 Bb 3153,64 Aa 1772,66 Ba 2097,60 Riqueza 1523,00 Ab 2562,24 Aa 1453,60 Aa 1846,28 Milionária 3110,06 Aa 2837,80 Aa 1402,80 Ba 2450,22 Xavante 3389,76 Aa 2033,60 Bb 1239,60 Ba 2220,98 Conquista 1337,64 Ab 1529,76 Ab 1582,76 Aa 1483,38 Garantia 3020,54 Aa 1894,06 Bb 1259,40 Ba 2058,00 Médias 2205,04 2149,68 1480,48 1946,00 CV (%) 43,14 Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha ou minúscula na coluna pertencem a um mesmo grupo, de acordo com o critério de agrupamento de Scott-Knott (1974), a 5% de probabilidade. Tabela 4. Produtividade de óleo (kg ha-1) para genótipos avaliados em três épocas distintas de semeadura. Produtividade de Óleo (kg ha-1) Genótipos Épocas Médias 1 (31/10) 2 (22/11) 3 (14/12) Impacta 152,12 Ab 151,32 Ab 132,86 Aa 145,44 Guarani 194,36 Bb 524,68 Aa 164,44 Ba 294,50 Riqueza 142,02 Ab 300,22 Ab 129,16 Aa 190,46 Milionária 313,28 Ab 393,14 Aa 133,08 Ba 279,84 Xavante 470,62 Aa 257,02 Ab 123,12 Ba 283,58 Conquista 199,76 Ab 219,64 Ab 160,18 Aa 193,20 Garantia 491,84 Aa 305,96 Bb 142,46 Ba 313,42 Médias 280,58 307,42 140,76 242,92 CV (%) 44,29 Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha ou minúscula na coluna pertencem a um mesmo grupo, de acordo com o critério de agrupamento de Scott-Knott (1974), a 5% de probabilidade. CONCLUSÕES As duas primeiras épocas de semeadura proporcionaram maiores produtividades de óleo, destacando-se as variedades Milionária, Xavante e Garantia para o semeio no mês de outubro e as variedades Guarani e Milionária para o semeio no mês de novembro. Para a produtividade de óleo, Guarani, Milionária e Xavante, apresentaram-se como os genótipos do Programa de Melhoramento de Soja da UFU mais promissores. A severidade de ferrugem foi maior no mês de outubro. AGRADECIMENTOS À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de Mestrado concedida ao primeiro autor. À FAPEMIG pelo financiamento parcial do projeto. Teor de óleo... LÉLIS, M. M. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 4, p. 602-609, July/Aug. 2010 608 REFERÊNCIAS AZEVEDO, L. A. S.; JULIATTI, F. C.; BARRETO, M. Resistência de Genótipos de Soja à Phakopsora Pachyrhizi. Summa Phytopathol., Botucatu, v. 33, n. 3, p. 252-257, 2007. BRACCINI, A. L.; MOTTA, I. S.; SCAPIM, C. A.; BRACCINI, M. C. L.; ÁVILA, M. R.; MESCHEDE, D. K. Características agronômicas e rendimento de sementes de soja na semeadura realizada no período de safrinha. Bragantia, Campinas, v. 63, n. 1, p. 81-92, 2004. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. 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