Microsoft Word - 8-Agra_971.doc Original Article Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 886 CARACTERÍSTICAS DA BRACHIARIA BRIZANTHA CV. MARANDU DURANTE O SEU ESTABELECIMENTO SUBMETIDA A DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO CHARACTERISTICS OF BRACHIARIA BRIZANTHA CV. MARANDU DURING THE ESTABLISHMENT ASSIGNED OF DIFFERENTS LEVELS OF NITROGEN Emerson ALEXANDRINO1; Roberta Gomes Marçal Vieira VAZ1; Antônio Clementino dos SANTOS1 1. Professor(a) Adjunto, Universidade Federal do Tocantins, Departamento de Zootecnia; Araguaína, TO, Brasil. e_alexandrino@yahoo.com.br. RESUMO: O capim Brachiaria brizantha cv. Marandu é o mais explorado na produção de bovinos em pastejo. Assim, avaliou-se o efeito de doses de nitrogênio (0, 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N) sobre as características agronômicas (matéria seca - MS e dos componentes morfológicos), morfogênicas (taxa de aparecimento foliar -TApF, taxa de alongamento foliar - TAlF e taxa de senescência foliar -TSF) e estruturais (comprimento médio de folhas - CMF, número de folhas perfilho-1 - NF, massa de perfilhos - MP e densidade de perfilhos – DP e a área foliar -AF) do capim Marandu durante sua fase de estabelecimento. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições. A MS total (parte aérea + raiz), TApF, TSF e NF vivas foram insensíveis aos tratamentos. Contudo, o efeito positivo das doses de nitrogênio sobre a TAlF, o CMF, a DP e a AF foram os fatores que contribuíram para o incremento da MS aérea, melhorando o estabelecimento do capim Marandu. PALAVRAS-CHAVE: Área foliar. Número de folhas. Perfilhos INTRODUÇÃO Apesar de o Brasil apresentar condições edafoclimáticas favoráveis à produção de forragens, os índices de produtividade animal são baixos, o que tem levado à substituição das áreas de pastagens por culturas mais rentáveis e, portanto, mais competitivas que a produção animal. Para tentar reverter esta situação, tenta-se aumentar a capacidade de suporte das pastagens, com aplicação de insumos agrícolas, como corretivos e fertilizantes. Entre os nutrientes utilizados na adubação das pastagens, o nitrogênio (N) ocupa papel de destaque. Alguns trabalhos já evidenciaram o efeito positivo da aplicação de nitrogênio em capins do gênero Brachiaria (ALEXANDRINO et al., 2004; MARTUSCELLO et al., 2005; CHAGAS; BOTELHOS, 2005; FAGUNDES et al., 2006). Por conseguinte, em virtude de sua importância econômica, o nível de N aplicado para o crescimento de gramíneas forrageiras tem atraído a atenção de muitos pesquisadores. Sabe-se que o N é constituinte da estrutura das proteínas e atua diretamente no processo de fotossíntese, em razão da participação na molécula de clorofila; por isso, é indispensável para a nutrição de plantas. Contudo, ainda não está claro como o N interfere nos processos fisiológicos da planta promovendo o incremento na produção de forragens. A expansão da área foliar em relvados de gramíneas é dado pela combinação entre o alongamento, aparecimento e senescência foliar por perfilho e o número de perfilhos por área de solo (Lemaire, 1999), e o nitrogênio afeta estas características, sendo a taxa de alongamento foliar a característica mais afetada pelo aumento do suprimento de nitrogênio (ALEXANDRINO et al., 2004; MARTUSCELLO et al., 2005; CHAGAS; BOTELHOS, 2005, FAGUNDES et al., 2006). Entretanto, os trabalhos de adubação nitrogenada em forrageiras tropicais pontuam exclusivamente o período pós-formação da planta forrageira, e como o bom manejo da pastagem inicia a formação da pastagem, o presente trabalho foi conduzido para investigar a resposta ao nitrogênio aplicado durante a fase de estabelecimento da Brachiaria brizantha. Para tanto, foram avaliadas durante o estabelecimento o efeito do nitrogênio sobre as características agronômicas, morfogênicas e estruturais de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu. () MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido na Universidade Federal de Viçosa, em casa-de-vegetação, da Unidade de Crescimento de Plantas (UCP) do Received: 24/09/09 Accepted: 13/02/10 Características da brachiaria... ALEXANDRINO, E. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 887 Departamento de Fisiologia Vegetal, utilizando-se a Brachiaria brizantha cv. Marandu. Os vasos foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado, e os tratamentos, três doses de nitrogênio (0, 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N), com cinco repetições (vaso). Os tratamentos foram implementados quando as mudas se encontravam no estádio fisiológico de 4 folhas por perfilho, prolongando-se até o estádio de 7 a 8 folhas por perfilho, um total de 30 dias de estabelecimento das plantas. A semeadura da Brachiaria ocorreu em caixas com areia, a lanço; posteriormente, as plântulas foram transplantadas para os vasos, com aproximadamente 10 dias após a emergência, utilizando-se 10 plântulas vaso-1, para garantir, após o desbaste, cinco plantas vaso-1 durante o período experimental. O desbaste foi realizado após o estabelecimento das plântulas. Os parâmetros utilizados para o descarte das plântulas foram homogeneidade, posição dentro do vaso e tamanho. Os vasos de plásticos, com 30 cm de diâmetro superior e capacidade para 6 dm3 ,foram preenchidos após preparo do solo e representam as unidades experimentais. O solo utilizado foi um Latossolo Vermelho-Amarelo, coletado na camada de 0–0,20 m de profundidade, com pHH2O = 5,9, P = 7,4 e K = 107,0 mg dm-3, Al = 0,0, Ca = 3,0, Mg = 1,1, H+Al = 3,3, CTCefetiva = 4,37 cmolc dm-3, saturação por bases 57%, o qual foi passado em peneira com malha de 4 mm. Posteriormente, com base na análise do solo, foi feita a adubação de correção da fertilidade do solo. A adubação fosfatada foi de 500 mg dm-3 de P, realizada uma semana após a semeadura, com superfosfato simples. A adubação potássica foi via solução de cloreto de potássio, parcelada durante a fase de estabelecimento, sendo utilizados 150 mg dm-3 de K para deixar o solo próximo a 250 mg dm-3 de K. A primeira parcela foi realizada quatro dias antes do transplantio e a segunda, semanas depois do transplantio. Para o estudo das características morfogênicas, foram identificados com anéis coloridos 5 perfilhos vaso-1. As medições foram feitas a cada três dias, durante todo o período experimental. Em cada um dos perfilhos marcados, foram realizadas, com régua milimetrada, medições no comprimento das folhas, para o cálculo da taxa de alongamento foliar. O dia do aparecimento de cada folha dos perfilhos identificados foi estimado para o cálculo da taxa de aparecimento foliar. Com os dados de comprimento das lâminas foliares, em função das medições, e o número de folhas mortas, expandidas, emergentes e totais perfilho-1 marcado, calcularam-se as características morfogênicas: taxa de aparecimento foliar (folhas perfilho-1 dia-1): obtida pela divisão do número de folhas completamente expandidas surgidas nos perfilhos marcados de cada vaso, no período, pelo número de dias envolvidos; taxa de alongamento foliar (mm perfilho-1 dia-1): calculado como o ganho no comprimento foliar de todas as folhas emergentes do perfilho durante o período de avaliação dividido pelo número de dias envolvidos; axa de senescência foliar (mm perfilho-1 dia-1): dado como a redução na parte verde de todas as folhas senescentes do perfilho durante o período de avaliação dividido pelo número de dias envolvidos. O filocrono que representa o período de tempo para o aparecimento de uma folha completa (dias folha) foi calculado como inverso da taxa de aparecimento foliar. As características estruturais avaliadas foram: número de folhas mortas, expandidas, emergentes e totais perfilho-1 marcado (folhas perfilho-1); o comprimento foliar perfilho-1 marcado (cm folha-1): obtido pelo ajuste dos fatores doses de nitrogênio e o tempo após a emergência; número de perfilhos (perfilhos vaso-1): dado pela contagem não destrutiva dos perfilhos presentes, que foram estratificados em três categorias, conforme o tamanho. Perfilhos grandes apresentavam a lígula da última folha expandida acima de 10 cm de altura; perfilhos médios apresentavam a lígula da última folha expandida abaixo dos 10 cm de altura e perfilhos pequenos não apresentavam área foliar (gemas); peso seco médio dos perfilhos do vaso (g matéria seca perfilho-1): dado pela divisão entre a biomassa seca de cada vaso pelo número de perfilhos do vaso. Ao final do período experimental as plantas foram colhidas e seus componentes (folha, material morto e colmo) foram separados para determinação dos respectivos pesos secos. Aproximadamente 20% das lâminas foliares verdes foram separadas para determinação da área foliar do vaso. Essas lâminas foram passadas em medidor de área foliar, e o valor obtido foi transformado para a massa total de folhas verdes do vaso. As características morfogênicas (taxa de aparecimento foliar – TApF, taxa de alongamento foliar – TAlF, e taxa de senescência foliar - TSF), estruturais (número de folhas do perfilho – NFP, densidade de perfilhos – DP e peso médio de perfilhos – PMP) e área foliar (AF) foram submetidas a análise de variância (P≤0,10) e as médias comparadas entre si pelo teste Tukey (P≤0,10). O comprimento médio de folha (CMF) foi avaliado pela metodologia de regressão múltipla, Características da brachiaria... ALEXANDRINO, E. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 888 onde os fatores quantitativos foram as doses de nitrogênio (N) e o nível de inserção da folha (F). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 encontra-se o sumário do efeito do nitrogênio sobre os parâmetros de crescimento e desenvolvimento de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu durante a fase de estabelecimento. Tabela 1. Sumário da significância estatística do efeito de doses de nitrogênio sobre os parâmetros de crescimento e desenvolvimento da Brachiaria brizantha cv. Marandu Pr > F CV EPM Média Efeito Unidade/Unity Características agronômicas Biomassa total 0,3855 23,32 3,90 28,97 ns KgMS vaso-1 Biomassa de raiz 0,2000 31,05 1,20 6,70 ns KgMS vaso-1 Biomassa aérea 0,0811 22,38 2,87 22,77 *** KgMS vaso-1 Biomassa de lâmina foliar 0,0608 20,81 1,53 12,79 *** KgMS vaso-1 Biomassa de colmo 0,0784 24,64 1,30 9,21 *** KgMS vaso-1 Biomassa de material morto 0,0082 43,36 0,06 0,27 *** KgMS vaso-1 Características morfogênicas Taxa de aparecimento foliar 0,3932 4,09 0,01 0,12 ns folhas perf-1 dia-1 Taxa de alongamento foliar 0,0035 2,33 1,08 80,64 * mm perf-1 dia-1 Taxa de senescência foliar 0,3956 32,16 1,04 5,64 ns mm perf-1 dia-1 Filocrono 0,5467 4,57 0,21 8,18 ns Dias folha-1 Características estruturais Comprimento médio de folha 0,0163 10,26 * mm folha-1 Número de folhas perfilho-1 Número de folhas totais 0,1957 1,67 0,13 2,20 ns folhas perfilho-1 Número de folhas emergentes 0,1866 10,50 0,13 2,20 ns folhas perfilho-1 Número de folhas expandidas 0,1035 10,71 0,30 4,97 ns folhas perfilho-1 Número de folhas mortas 0,0300 16,42 0,24 2,6 * folhas perfilho-1 Densidade de perfilhos Densidade perfilhosAcima 0,0973 16,29 3,19 34,00 * perfilhos vaso -1 Densidade perfilhosAbaixo 0,7129 37,29 2,63 12,22 ns perfilhos vaso -1 Densidade perfilhosgemas 0,5787 111,8 0,43 0,66 ns perfilhos vaso -1 Densidade perfilhosTotal 0,0802 9,62 46,88 *** perfilhos vaso -1 Peso médio perfilho 0,1564 22,12 0,06 0,47 ns g perfilho-1 Área foliar 0,0057 18,18 427,5 4072 *** cm2 Pr > F: probabilidade para avaliar o nível de significância ; CV; C corresponde ao coeficiente de variação; EPM: erro padrão da média; KgMS: quilograma de massa seca. Morfogênese Mesmo com um curto espaço de tempo, as folhas passaram de um estádio vegetativo de 4 folhas completamente expandidas para um estádio de 7 a 8, em aproximadamente 30 dias, onde se verificou que a Brachiaria brizantha cv. Marandu foi sensível ao suprimento de nitrogênio, pois este influenciou a taxa de alongamento foliar (TAlF) significativo e positivamente (Tabela 1 e Figura 1). Contudo, a taxa de senescência foliar (TSF) e a taxa de aparecimento foliar (TApF) foi insensível (P>0,05) as doses de N (Tabela 1 e Figura 1). A TApF é dada por um balanço entre dois fatores: o comprimento do cartucho da bainha que envolve o meristema terminal e a TAlF (GRANT et al., 1981), que respectivamente, determinam a distância que a folha tem que percorrer para emergir e a velocidade com que ela percorre essa distância. O efeito significativo e positivo do nitrogênio sobre a TAlF, não proporcionou incremento na TApF (Tabela 1, Figura 1), pois provavelmente foi contrabalanceado por um aumento no comprimento do cartucho da bainha, conforme sugerido por Duru e Ducrocq (2000), que evidenciaram o incremento do alongamento da bainha com o aumento do suprimento de nitrogênio. Além disso, as folhas já tinham iniciado seu crescimento, pois no estádio vegetativo em que a planta se encontrava, as folhas 5 e 6 eram emergentes, a 7, e possivelmente, a 8 já eram folhas em expansão. Características da brachiaria... ALEXANDRINO, E. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 889 () Figura 1. Taxa de aparecimento foliar (TApF), taxa de alongamento foliar (TAlF), taxa de senescência foliar (TSF) e filocrono (Filocr) de perfilhos de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu submetidas as doses de 0, 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N. Letra distinta indica efeito de tratamento pelo teste Tukey a 0,10 de probabilidade. Esse resultado esta de acordo com a literatura, uma vez que o efeito do N sobre a TApF não se apresenta de forma clara, em que sua limitação pode levar a algum efeito na TApF em gramíneas cespitosa como a Brachiaria brizantha cv. Marandu (ALEXANDRINO et al., 2004) e B. brizantha cv. Xaraés (MARTUSCELLO et al., 2005). O crescimento de folhas de gramíneas é unidirecional, paralelo ao eixo longitudinal da folha, e o desenvolvimento concentra-se na zona de alongamento da folha, região próxima a base da lâmina foliar, onde ocorre os processos de divisão, alongamento e maturação celular, sendo essa região um local de grande demanda por nutrientes (SKINNER; NELSON, 1995). O efeito positivo do nitrogênio sobre a TAlF tem sido verificado em muitos trabalhos científicos (ALEXANDRINO et al., 2004; FAGUNDES et al., 2006 e MARTUSCELLO et al., 2005). O aumento da TAlF deve-se ao fato que na zona de divisão celular encontra-se o maior acúmulo de N, e portanto, este nutriente afeta diretamente a TAlF (SKINNER; NELSON, 1995), sendo o aumento atribuído principalmente a produção de células (VOLENEC; NELSON, 1984). O efeito do N sobre a TSF não foi significativo no presente trabalho, e esta de acordo com Fagundes et al. (2006), que avaliou o efeito da presença de adubação nitrogenada sobre a senescência de folhas de 3 espécies de gramíneas tropicais, mas discrepante dos dados apresentados por Alexandrino et al. (2004). Aparentemente, o efeito do N sobre a TSF é contraditório, pois é dependente do estádio fisiológico e do status de N endógeno da planta. A TSF que esta em função da mobilização do N das folhas baixeiras em benefício as do topo, possivelmente pode ser estimulada ou inibida pelo suprimento de N, respectivamente, quando promove um sombreamento intenso das folhas baixeiras ou reduz a reciclagem de N quando ele é limitante na planta. Características estruturais Apesar do efeito linear positivo do nitrogênio sobre o CF do capim Brachiaria decumbens (FAGUNDES et al., 2006), o capim Marundu foi mais sensível a aplicação de nitrogênio e de resposta quadrática negativa (ALEXANDRINO et. al, 2004), demonstrando a importância da adequação da adubação nitrogenada a espécie forrageira. O comprimento da folha (CF) é o balanço entre a TAlF e a duração de alongamento foliar (DAF), que é o número de folhas do perfilho x TApF-1 (LEMAIRE, 1999). Nota-se que o efeito do N sobre o CF começou a ser evidenciado a partir da sétima folha (Figura 2), pois as plantas começaram a receber os tratamentos de N no estádio de 4 folhas completamente expandidas. Características da brachiaria... ALEXANDRINO, E. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 890 Figura 2. Comprimento das folhas do perfilho (cm folha-1) de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu em função das doses de 0, 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N e nível de inserção (F) (*folhas emergentes) ( Ŷ = -2399,22-4,22N-0,016N2+781,73F-52,58F2 + 0,8105 NF R2=0,79) Em relação ao número de folhas perfilho-1, o efeito das doses de N foi significativo e positivo sobre o número de folhas totais (NFT), número de folhas totais verdes perfilho-1 (NFV) (Tabela 1 e Figura 3). Como o número de folhas expandidas e o CF são semelhantes, logo a duração de vida da folha (DVF) foi o maior responsável pelo efeito significativo, com tendência quadrática negativa do suprimento do N sobre o número de folhas mortas perfilho-1 (NFMP) (Tabela 1 e Figura 3). A maior morte de folhas para os extremos das doses de N, tem origens fisiológicas diferentes, provavelmente devido ao baixo status de N endógeno e baixa fotossíntese líquida das folhas baixeiras que são sombreadas, respectivamente, para a menor e maior dose de N. Figura 3. Número de folhas mortas (NFM), expandidas (NFExp) e emergentes (NFEm) do perfilho (folhas perfilho-1) de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu em função das doses de 0, 20 e 40 mg dm- 3 semana-1 de N. Letra distinta indica efeito de tratamento pelo teste Tukey a 0,10 de probabilidade. O perfilhamento depende das condições intrínsecas (da própria planta) e extrínsecas (temperatura, luminosidade, umidade etc). Vários trabalhos destacam o efeito positivo do N sobre o perfilhamento (ALEXANDRINO et al., 2004, MARTUSCELLO et al., 2005). Embora as plantas que receberam alguma dose de N tenham apresentado, em valor absoluto maior densidade populacional de perfilhos total planta-1 (DPP) (Figura 4/a), esse efeito não foi estatisticamente Características da brachiaria... ALEXANDRINO, E. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 891 significativo, contradizendo as evidências da literatura. Pelo resultado aceito uma vez que a TApF não foi sensível às doses de N. Contudo, a DPTP não pode ser explicada exclusivamente pela TApF, deve-se considerar o “site usage” (pontos de crescimento) (ZARROUGH et al., 1983), que leva em consideração a ativação das gemas basilares do perfilho, estimulando o perfilhamento. Alexandrino et al. (2004) destaca o efeito do N sobre a ativação das gemas axilares dos perfilhos do braquiarão em função do aumento das doses de N. Provavelmente, esse efeito do N foi reduzido uma vez que o perfilhamento é um evento que inicia precocemente durante a fase de estabelecimento da planta, durante o estádio de 3 a 7 folhas para o Panicum maximum cv. Mombaça (GOMIDE; GOMIDE, 2000), e o tempo para que o N atuasse foi pequeno, pois as plantas receberam os tratamentos de N num estádio de 4 folhas. O N teve efeito significativo no número de perfilhos por vasos, uma resposta diferenciada as categorias de perfilhos da planta (Tabela 1 e Figura 4a), e com isso, o peso seco médio de perfilhos (PMP) das plantas adubadas com N (Tabela 1 e Figura 4b. Figura 4. Densidade de perfilhos (DP) (perfilhos vaso-1) (A) e peso médio de perfilhos (PMP) (g perfilho-1) (B) de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu em função das doses de 0, 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N. Letra distinta indica efeito de tratamento pelo teste Tukey a 0,10 de probabilidade. A densidade populacional de perfilhos e o peso de perfilhos são os dois componentes que definem aumentos na produção de matéria seca da planta, sendo que o estádio fisiológico da planta determina o principal componente de produção. O número de perfilhos é o principal fator quando a planta se encontra em pleno estádio vegetativo, fase em que o aparecimento de perfilhos é intenso, mas no final da fase vegetativa, próximo a fase reprodutiva, predomina o crescimento dos perfilhos existentes. Contudo, no experimento em função da planta estar na fase de perfilhamento de estabelecimento, o incremento de matéria seca é marcado pela fase exponencial de crescimento, pois tanto o perfilhamento como o aumento da massa do perfilho são intensos. Os resultados apresentados demonstram que esses dois processos foram importantes para incrementar a produção de matéria seca total (MST) (Figura 5), sendo o N um fator importante que estimulou os dois processos (Figura 4). A interceptação da radiação é afetada diretamente pela expansão da área foliar, que segundo Lemaire (1999) é o resultado do alongamento, aparecimento e senescência foliar por perfilho, e o número de perfilhos por unidade de área de solo. No presente trabalho, a combinação destas características incrementaram a área foliar (AF) das plantas em 85 e 133%, respectivamente, para as doses de 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N (Tabela 1 e Figura 6). Contudo, isso não foi convertido em incremento na MST das plantas (produção de matéria seca aérea + raiz) (Tabela 1), sendo apenas 29,39% superior para as plantas Características da brachiaria... ALEXANDRINO, E. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 892 adubadas com N (Figura 5). Isso demonstra que em diferentes suprimentos de N, a produção total de biomassa seca não pode ser estritamente relacionada com a área foliar, uma vez que o N altera a partição de biomassa seca da planta, onde o baixo suprimento de N favorece a partição para a raiz em detrimento a parte aérea (Figura 5). O N teve efeito significativo em todos os componentes morfológicos da parte aérea da planta, incrementando a parte aérea das plantas adubadas em 66% (Figura 5), demonstrando a importância do N no estabelecimento da pastagem. Figura 5. Produção de matéria seca (PMS) (g vaso-1) de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu em função das doses de 0, 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N. Letra distinta indica efeito de tratamento pelo teste Tukey a 0,10 de probabilidade. Figura 6. Área foliar (AF) (m2 vaso-1) de plantas de Brachiaria brizantha cv. Marandu em função das doses de 0, 20 e 40 mg dm-3 semana-1 de N. Letra distinta indica efeito de tratamento pelo teste Tukey a 0,10 de probabilidade. CONCLUSÃO A adubação nitrogenada mesmo na fase de estabelecimento da Brachiaria brizantha cv. Marandu exerceu efeito positivo nas taxas de alongamento e aparecimento foliar, no número de perfilhos, de folhas vivas e no comprimento final das lâminas foliares, contribuindo com a velocidade de estabelecimento do capim Marandu. Assim, destaca-se a importância da adubação nitrogenada durante o estabelecimento do capim Marandu como estratégia para o bom manejo dessa forrageira. Características da brachiaria... ALEXANDRINO, E. Biosci. J., Uberlândia, v. 26, n. 6, p. 886-893, Nov./Dec. 2010 893 ABSTRACT: Brachiaria brizantha cv. Marandu is the most explored in production of bovines in pasture. Thus was evaluated the effect of the nitrogen levels ((0, 20 e 40 mg dm-3 week-1 of N) on agronomics characteristics (dry matter – DM and morphological compounds), morphogenesis (leaf appearance rate [TApF], leaf elongation rate [TAlF] e senescence leaf rate [TSF]) and structurals (average leaf weight [CMF], number of leaves tiller-1 [NFP], tiller average weight [PMP] and tiller density [DP]) and the leaf area (AF) of Brachiaria brizantha cv. Marandu, during your establishment. The experiment was conducted in greenhouse arranged in a randomized design with three replicates for each treatment. However, the positive effect of the nitrogen levels on TAlF, the CMF, DP and the AF were the factors that contributed for the increase in aereal DM improving the Marandu establishement. KEYWORDS: Leaf area. Number of leaves. Tillers. REFERÊNCIAS ALEXANDRINO, E.; JÚNIOR, D. N.; MOSQUIN, P. R.; REGAZZI, A. J.; ROCHA, F. C. 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