Microsoft Word - 2-Agra_revisado_7353.doc Original Article Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 8 DETERMINAÇÃO E AVALIAÇÃO DO TEOR DE ÓLEO EM SEMENTES DE SOJA PELOS MÉTODOS DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR E SOXHLET DETERMINATION AND EVALUATION OF OIL CONTENT IN SOYBEAN SEEDS BY NUCLEAR MAGNETIC RESONANCE METHODS AND SOXHLET Anaísa Kato CAVALCANTE1; Larissa Barbosa de SOUSA1; Osvaldo Toshiyuki HAMAWAKI2; 1. Mestranda em Agronomia, Melhoramento de Plantas/Soja, Instituto de Ciências Agrárias - ICIAG, Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Uberlândia, MG, Brasil. anaisakato@gmail.com ; larissaufpi@ig.com.br; 2. Professor, Doutor, ICIAG – UFU. hamawaki@umuarama.ufu.br RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar e selecionar linhagens de soja de ciclo precoce quanto ao potencial produtivo e teor de óleo para a produção de biodiesel e correlacionar os métodos de ressonância magnética nuclear e Soxhlet na análise de teor de óleo. Dentre as diferentes fontes de biomassa, os óleos vegetais constituem uma potencial fonte de recurso renovável para a produção de combustíveis, transformando-se em uma alternativa viável comparados ao diesel. Foram avaliadas 19 linhagens de ciclo precoce e 5 cultivares em delineamento de blocos casualizados com três repetições.O desempenho de cada linhagem foi avaliado por meio da mensuração das seguintes características: número de dias para a floração (NDF), número de dias para a maturidade (NDM), altura da planta (cm) na floração (APF), altura da planta (cm) na maturidade (APM), altura da inserção da primeira vagem (AIV), acamamento (AC), teor de óleo nos grãos expresso em porcentagem (%OL), produtividade de grãos (PG) e produtividade de teor de óleo (PO). A partir dos teores obtidos pelos dois métodos de extração de óleo fez- se a análise de correlação. Os resultados permitiram verificar a superioridade da linhagem UFU-106 quanto ao rendimento e a produtividade de óleo. Embora o teor de óleo da linhagem UFU- 101 tenha sido elevado, a produtividade deste genótipo foi abaixo do desempenho desejável. Com relação aos métodos de extração de óleo, os resultados mostraram um coeficiente de correlação negativo, indicando que não houve correlação entre os dois métodos. PALAVRAS-CHAVE: Soja. Biocombustível. Produtividade. Soxhlet. INTRODUÇÃO A soja [Glycine max (L).Merrill], considerada uma planta milenar, é uma das principais oleaginosas do mundo. Apesar da dificuldade de estabelecer sua origem com precisão, há relatos de que seja originada do continente Asiático na região da antiga Manchúria, atual China. No Brasil, foi inicialmente cultivada na Bahia, espalhando-se, posteriormente, para os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Atualmente, o maior foco de desenvolvimento da soja encontra-se no Centro-Oeste do país (PAIVA et al, 2006). Destaca-se no cenário mercadológico interno com uma produção estimada de 57,6 milhões de toneladas na safra 2008/2009, consolidando o país como o segundo maior produtor mundial (CONAB, 2009). Para a safra 2009/10, o sexto Levantamento de Safra realizado pela Conab indicou uma produção nacional de soja de 67,6 milhões de toneladas, representando um incremento de 836,7 mil toneladas em relação ao quinto levantamento e 8,8 milhões de toneladas em relação à safra 2008/09 (CONAB, 2009). A soja é o cultivo anual de grãos mais importante do Brasil, devido à sua relevância como fonte primária de óleo e proteína vegetal, além de alternativas energéticas como a produção de biocombustíveis. Alguns entraves dificultam a obtenção de altas produtividades na cultura, destacando-se: a adversidade climática e a ocorrência de insetos, plantas daninhas e doenças (NAVARINI, 2008). O lipídeo de soja é o líder mundial dos óleos vegetais representando entre 20 e 24% de todos os óleos e gorduras consumidas no mundo. O teor de óleo no grão é em torno de 18%, correspondendo, em média, a 600 Kg de óleo por hectare (ANUÁRIO, 2005). A soja pode ser utilizada também como fonte de biodiesel, uma alternativa para diminuição da dependência dos derivados de petróleo, abrindo um novo mercado para essa oleaginosa, com excelentes perspectivas econômicas e amplos benefícios ambientais. Estima-se que a soja seja responsável por 70% a 80% do biodiesel produzido no País (BUAINAIN; GARCIA, 2008). Atualmente, a produção de biodiesel vem crescendo no mundo todo, com destaque para a Received: 22/04/10 Accepted: 05/09/10 Determinação e avaliação… CAVALCANTE, A. K. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 9 União Européia, que lidera a produção mundial, seguida pelos Estados Unidos e pelo Brasil. Para atender à demanda crescente de biodiesel pode-se aumentar a área cultivada (ainda disponível no Brasil) e, também, aumentar a produtividade de óleo (produtividade de grãos x teor de óleo: 100) via melhoramento genético (ARAÚJO, 2006). A substituição de óleo diesel importado e a necessidade de se utilizar fontes renováveis e sustentáveis, tornam premente a necessidade de se desenvolver novas cultivares produtivas de soja com teores elevados de óleo nos grãos. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi de avaliar e selecionar linhagens de soja de ciclo precoce quanto ao potencial produtivo e teor de óleo para a produção de biodiesel; e correlacionar os métodos de ressonância magnética nuclear e Soxhlet na análise de teor de óleo em sementes de soja. MATERIAL E MÉTODOS Os grãos utilizados neste estudo foram provenientes do ensaio de competição de genótipos conduzidos na Fazenda Escola da FAZU, em Uberaba- MG, situada na longitude 470 57’27’’WGR, latitude 19o 44’ 13’’S e altitude de 780m, em solo tipo latossolo vermelho distrófico; com médias anuais de precipitação e temperatura são 1.474 mm e 22,6o C, respectivamente. A semeadura foi realizada no dia 17 de novembro de 2007 e a colheita ocorreu no mês de março de 2008. O solo é do tipo latossolo vermelho distrófico, textura arenosa, com 74 % de areia, 21% argila e 5% de silte, e sua análise química encontra-se na Tabela 1. Tabela 1. Resultados da análise química do solo (camada de 0 a 20 cm) da área experimental. pH M.O 6,69 3,33 P 4,10 K 53 Ca 2,29 Mg 0,57 H+Al 3,20 SB 3,00 T 6,20 V 48,35 acidez média dag/Kg -- mg dm_3-- ---------------cmolc dm-3------ ---------- % O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com 24 tratamentos: 19 linhagens e 5 cultivares (Msoy 6101, Emgopa 316, Conquista, Msoy 8008 e Msoy 8000) e 3 repetições. A parcela constitui-se de 4 fileiras de 5 metros de comprimento, espaçadas a 0,45 m. A parcela útil foi constituída pelas duas fileiras centrais da parcela, desprezando 0,50 m de cada extremidade (4,00 m2). A produtividade foi dada pelo valor de massa de grãos obtidos em cada parcela útil em kg por 4 m2 e foram transformados para kg ha-1 corrigidos a 13% de umidade. O experimento foi conduzido de acordo com os procedimentos técnicos necessários a fim de mantê-lo livre da interferência de plantas daninhas e pragas. A partir da avaliação e identificação dos materiais potencialmente produtivos, avaliou-se o teor de óleo, por meio de análises químicas dos grãos, realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da FAZU. Com base na área útil da parcela, o desempenho agronômico dos genótipos de soja foi baseado nas seguintes características: NDF: Número de dias para a floração, definido como o período compreendido da emergência ao estádio R1-R2, ou seja, com 50% das flores abertas na parcela; NDM: Número de dias para a maturidade, definido como o período entre a emergência e a data em que aproximadamente 95% das vagens apresentarem-se maduras (estádio R8); APM: Altura da planta (cm) na floração e na maturidade, medida desde o colo da planta até o ápice da haste principal em 10 plantas da área útil; AIV: altura de inserção da primeira vagem, definida como a distância, em cm, medida a partir da superfície do solo à primeira vagem, obtida na época de maturação, em 10 plantas da área útil; AC: Acamamento, avaliado na maturidade [estádio R8 , FEHR (1977)], através de uma escala de notas visuais, quais sejam: 1- todas as plantas eretas até 10%; 2-todas as plantas levemente inclinadas 11% a 19%; 3 - todas as plantas moderadamente inclinadas 20% a 29%; 4- todas as plantas acentuadamente inclinadas 30% a 39%; 5 - todas as plantas fortemente inclinadas acima de 40%. PG (g): Produção de grãos, em gramas, obtida fazendo-se a pesagem de cada parcela; PO (kg ha-1): Produtividade de óleo obtida pela expressão produtividade de grãos x teor de óleo: 100. Os dados obtidos foram analisados pelo Programa Estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000) e as médias comparadas pelo teste de Teste de Scott & Knott a 5% de probabilidade. Quando observadas diferenças significativas para efeito de tratamento, realizou-se ainda, o teste de agrupamento de médias. Determinação e avaliação… CAVALCANTE, A. K. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 10 Análise do teor de óleo Extração do óleo com uso de Soxhlet Após a colheita manual, os grãos de soja foram separados das vagens secas, homogeneizados em processador e procedeu-se com a metodologia de extração no Laboratório de Nutrição Animal da FAZU. A extração do óleo foi realizada com o solvente éter de petróleo em um extrator Soxhlet, sob condições de obtenção comercial de óleo, segundo a metodologia da AOCS, método Ac.3.11 (AOCS,1997), cujas etapas são: 1 - As amostras coletadas em triplicata com 1 g de grãos de soja homogeneizados foram pesados em papel filtro, dobrado de maneira a não ocorrer perda da amostra e colocado no interior de um cartucho; 2 - O cartucho foi introduzido no extrator Soxhlet de tal forma que o mesmo ficasse totalmente submerso em éter de petróleo durante a extração; 3 - Foram adicionados 150 mL de éter de petróleo, mantendo-se volume constante durante a extração, evitando a perda significativa do solvente, devido à evaporação; 4 - Concluído o período de extração de 12 horas e após o resfriamento, o balão de fundo chato (tarado e pesado previamente em balança semianalítica de duas casas decimais antes da extração), contendo óleo éter de petróleo, foi levado ao rotavapor e mantido a 40 °C até secura. Leve fluxo de ar comprimido foi usado para facilitar a remoção de qualquer solvente remanescente. Para não comprometer a pesagem do óleo, as transferências do balão foram feitas com auxílio de papel toalha ou luvas de látex impedindo-se a contaminação deste pela gordura da mão; 5 - O balão foi levado até a estufa (80 °C) pelo período de 2 horas e depois transferido para dessecador com sílica gel até seu resfriamento à temperatura ambiente e, finalmente, pesado em balança. Ao subtrair o peso do balão do valor obtido (peso do balão + óleo), chegou-se ao peso do óleo. A percentagem do óleo na soja foi calculada multiplicando-se a massa do óleo por 100 e o resultado dividido pela massa do grão. O teor de óleo nos grãos expresso em porcentagem (%OL), produtividade de óleo em kg ha-1 (PO). Teor de óleo por ressonância magnética nuclear (RMN) As amostras das sementes das linhagens de soja foram realizadas na Universidade Federal de Uberlândia-UFU pelo método de Ressonância Nuclear Magnética (RMN). Para a análise do teor de óleo por RNM, foi avaliada uma amostra de 100g de sementes em média, retiradas ao acaso do total de sementes produzidas em uma parcela. Os dados das amostras de cada um dos genótipos, após as análises de teor de óleo, foram arquivados em software e posteriormente, feita a calibração utilizando-se espectrofotômetro de reflectância no infravermelho proximal (NIR), marca Perstorp Analytical, modelo 5000. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados mostraram que houve diferenças significativas entre os genótipos para todas as características agronômicas (Tabela 2). O teor médio de óleo nos grãos foi de 16,75%, sendo o maior teor médio encontrado na linhagem UFU-101 (21,59%), que não diferiu estatisticamente das linhagens UFU-106, UFU-115, UFU-118, UFU-117 e das cultivares MSOY 8008 e MSOY 8000. Por outro lado, o menor teor médio foi encontrado na linhagem UFU-109 (13,51%). Esses dados foram semelhantes àqueles obtidos por Finoto et al (2008) durante a avaliação de 15 genótipos de soja, cuja a média de teor de óleo de 16,01%, variando de 13,01% a 20,12%. Moraes et al. (2006) ao caracterizar bioquimicamente duas linhagens de soja com alto teor de proteína, oriundas do Programa de Melhoramento Genético do Bioagro/UFV, observaram uma variação no teor de óleo de 18,56% a 24,03%. Além disso, constataram que à medida que se aumenta o teor de proteína, o de óleo é reduzido. As linhagens UFU-106, UFU-115, UFU- 118, UFU-117 e UFU-101 e as cultivares MSOY 8008 e MSOY 8000 foram superiores quanto ao teor de óleo, diferindo estatisticamente dos demais genótipos. Quanto às médias de produtividade, foram observados dois grupos, sendo que no grupo de maior média as linhagens que mais se destacaram foram UFU-102 UFU-104 UFU-105 UFU-106, UFU-108, UFU-111, UFU-112 UFU-115, UFU- 116, UFU-117 e as cultivares Conquista e M-SOY 8008. Neste grupo, a linhagem UFU-106 se destacou com a maior média de produtividade e alcançou um valor de 4.285 kg.ha-1. No outro grupo, UFU-110, UFU-114 e UFU-118 e a cultivar EMGOPA 316 (testemunha) obtiveram as menores médias. Em trabalho semelhante realizado por Rezende e Carvalho (2007), na região de Lavras – MG a cultivar Conquista atingiu menor patamar de Determinação e avaliação… CAVALCANTE, A. K. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 11 produtividade produzindo 2897 kg.ha-1. Por outro lado, a cultivar Msoy 8008 apresentou melhor desempenho que aquele obtido em trabalho realizado pelo CAT-Uberlândia (2006) na Fazenda Pinusplan localizada na cidade de Uberlândia – MG, cuja média foi de 2.922 kg.ha-1. Tabela 2. Resultados médios de teor de óleo extraídos pelo método sohxlet, produtividade, índice de acamamento, dias para floração e maturação, altura da planta na floração e na maturação e altura de inserção da primeira vagem obtida no ensaio de competição de genótipos de ciclo precoce. Ano agrícola 2007/08, Uberaba- MG*. Dias Altura (cm) Linhagens Teor de óleo (%) Prod. (kg.ha-1) Acama- mento Floração Maturação Floração Maturação 1ª vagem UFU-101 21,59b 2272,05a 1,67a 55,33b 108,67a 88,30f 95,50b 12,56c UFU-102 15,34a 3142,27b 2,67b 50,00a 140,00b 85,00e 107,50c 9,30b UFU-103 15,12a 2420,18a 2,00a 54,67b 112,00a 87,90f 106,40c 11,90c UFU-104 16,28a 3118,64b 2,67b 57,33b 100,00a 83,00e 98,73b 14,50d UFU-105 14,28a 3247,12b 1,33a 65,00c 140,00b 95,67g 96,40b 7,95ª UFU-106 18,10b 4285,95b 1,33a 66,00c 140,00b 97,67g 110,20d 14,70d UFU-107 15,97a 2747,13a 1,33a 52,00b 108,67a 67,06c 101,22b 10,80c UFU-108 15,34a 3691,42b 2,33b 54,33b 132,67b 72,30c 92,05a 9,75b UFU-109 13,51a 2815,26a 3,33c 57,00b 120,67b 70,00c 97,16b 11,55c UFU-110 15,90a 1817,70a 2,67b 52,33b 125,67b 64,30c 83,33a 13,50d UFU-111 16,14a 3036,84b 3,67c 42,33a 111,00a 54,73b 115,7d 17,60e UFU-112 15,35a 3575,6b 2,67b 45,00a 117,00a 64,80c 90,33a 7,47a UFU-113 16,34a 2319,99a 1,67a 53,33b 112,00a 63,93c 94,2b 10,00b UFU-114 16,68a 2226,21a 2,67b 48,33a 99,33a 64,13c 88,40a 9,40b UFU-115 19,52b 3179,07b 1,67a 54,33b 108,67a 60,20c 91,00a 10,00b UFU-116 15,98a 3188.18b 1,33a 57,00b 126,33b 79,13d 117,60d 6,60a UFU-117 18,45b 3221,39b 2,67b 61,67c 112,00a 75,10d 95,72b 12,00c UFU-118 19,96b 2101,53a 2,00a 55.33b 100,00a 74,13d 93,86b 13,20d UFU-119 15,62a 2296,89a 2,33b 53,67b 140,00b 66,60c 101,7b 7,80a MSOY 6101 15,22a 2700,76a 3,33c 43,33a 109,33a 68,06c 111,47d 18,80e EMGOPA 316 17,08a 2292,51a 2,33b 46,33a 124,00b 44,80a 103,26c 12,06c CONQUIST A 16,67a 3456,18b 1,67a 49,ooa 138,00b 58,33b 87,73a 8,03b MSOY 8008 18,51b 3477,41b 2,00a 44,33a 122,33b 49,67a 111,56d 16,10d MSOY 8000 19,01b 2633,73a 2,00a 42,33a 111,00a 56,80b 114,13d 20,45f Média 16,75 2890,12 2,2 52,51 119,15 70,48 100,21 11,91 C.V. (%) 8,44 16,08 23,74 7,65 10,07 6,09 5,16 10,56 *Médias seguidas de letras diferentes entre si apresentam diferença significativa pelo teste de Scott Knott à 5% de probabilidade. Segundo Guimarães et al. (2008) o acamamento é uma característica muito influenciada pelo tipo de solo e pelas condições de desenvolvimento da planta. Observa-se que, de maneira geral, os genótipos apresentaram leve acamamento, sendo as linhagens UFU-111, UFU- 109 e a cultivar MSOY 6101 as que apresentaram acamamento mais acentuado. Para a característica número de dias para floração, as linhagens UFU-102, UFU- 111, UFU- 112 e UFU- 114 foram as mais precoces e não apresentaram diferenças significativas em relação às testemunhas. As linhagens mais tardias foram UFU- 105, UFU-106 e UFU-11 com, respectivamente, 65, 66 e 61,67 dias para o florescimento. Na característica dias para a maturação houve diferença significativa entre os tratamentos, sendo as cultivares MSoy 6101 e MSoy 8000 as que apresentaram ciclo mais precoce, juntamente com as linhagens UFU-101, UFU-103, UFU-104, UFU-107 UFU-111 UFU-112 UFU-113 UFU-114 UFU-115 UFU-117 UFU-118, dentre as linhagens UFU-114, Determinação e avaliação… CAVALCANTE, A. K. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 12 UFU-104 e UFU-118 destacaram-se pela precocidade de 99 e 100 dias. Segundo Hamer (2006) as cultivares precoces são mais procuradas por ficarem menos expostas à doença fúngica, ferrugem asiática. Por possuírem um ciclo menor, as variedades demandam ainda menor número de aplicações de fungicidas, o que reduz os custos de produção da lavoura. A altura de planta é característica fundamental na determinação da cultivar a ser introduzida em determinada região. No presente trabalho, a altura de planta na floração variou de 97,67 a 44,80 cm, respectivamente, UFU-6 e Emgopa 31. Cinco linhagens apresentaram as menores alturas de planta na maturação: UFU- 108, UFU- 110, UFU- 112, UFU- UFU- 114, UFU- 115, estas linhagens não diferiram estatisticamente da cultivar Conquista. Sediyama et al. (2009) afirmam que a colheita mecanizada, em solos relativamente planos e bem preparados pode-se efetuar uma boa colheita de plantas com 50 cm a 60 cm de altura. Plantas muito acima de 100 cm tendem ao acamamento e, além de dificultarem a eficiência das colhedoras, tendem a produzir menos, e com a disseminação de diversas doenças, principalmente fúngicas, como é o caso da ferrugem asiática, é desejável que as plantas apresentam porte reduzido. Quanto à altura de inserção da primeira vagem foi observada diferença significativa entre os tratamentos, com valores variando entre 6,6cm a 20,45 cm para as linhagens UFU-116 e MSOY8000, respectivamente. De acordo com Marcos Filho (1986), a variedade escolhida para cultivo numa determinada localidade deve apresentar uma altura de inserção de primeiro legume de pelo menos 10 a 12 cm para a colheita mecânica, afim de evitar perdas devido as vagens não colhidas. Observa-se que as linhagens UFU-103, UFU-107, UFU-109, UFU-113, UFU-115, UFU-117 apresentaram médias dentro da faixa aceitável para a colheita mecanizada. Ao comparar o índice relativo de produção de óleo, verifica-se que a linhagem UFU-106 e a cultivar Conquista destacaram-se em relação às demais. A correlação entre rendimento de grãos de soja e teor de óleo, dependendo dos genótipos avaliados, pode ser elevada e positiva, pequena e variar de positiva a negativa ou ausente (Figura 1). Cruz et al. (2009) ao avaliarem o efeito de quatro épocas de semeadura nos teores de óleo, proteína e produtividade de grãos, observaram que com o atraso da semeadura da soja ocorreu a diminuição no teor de óleo e na produtividade de grão e o aumento no teor de proteína. Figura 1. Produtividade de óleo, de grãos de genótipos de soja e o índice relativo de produção de óleo na safra 2007/2008 no município de Uberaba-MG. Determinação e avaliação… CAVALCANTE, A. K. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 13 Análise de correlação dos métodos de extração de óleo A Figura 2 mostra a equação de regressão linear e o coeficiente de correlação obtidos a partir do pareamento dos valores do teor de óleo pelos métodos RMN e Soxhlet. O valor do coeficiente de correlação (r = -0,28) foi negativo, ou seja, não houve correlação entre os dois métodos de extração. As médias apresentadas pelo método RMN foram superiores ao método Soxhlet. Isso, provavelmente, se deve às diferenças entre os diversos genótipos amostrados. Além disso, deve-se considerar que o óleo determinado pelo Soxhlet é expresso na matéria seca das sementes e o do RMN, na matéria original. O mesmo comportamento de media dos teores de óleo foi observado por Ungaro et al. (1992) e Gupta et al. (1985), em diversas sementes oleaginosas. Esse resultado foi atribuído à extração incompleta e perda de óleo no processo de moagem da amostra antes da determinação por solvente (Soxhlet). Por outro lado, Godoy et al. (1986), ao compararem os dois métodos em sementes individuais de amendoim observaram que o método Soxhlet produziu valores ligeiramente acima dos obtidos pelo RMN. Figura 2. Relação entre os teores de óleo em sementes de soja determinados pelo método de ressonância magnética nuclear (RES) e os teores na matéria seca obtidos pelo método extração Soxhlet. Embora as médias absolutas dos teores de óleo, obtidas por meio do método de RMN, tenham sido superiores àquelas do Soxhlet, a correlação não significativa mostra que os dois métodos são equivalentes. Diversos trabalhos tem mostrado o espectroscópio de ressonância nuclear magnética (RMN) como uma técnica eficaz para medir o teor de óleo na seleção (CONWAY; EARLE, 1963; COLLINS et al., 1967; FEHR et al. 1968).O método de RMN por ser rápido, preciso e não-destrutivo, possibilita a utilização das sementes analisadas para o próximo ciclo de seleção, garantindo que as características genotípicas sejam mantidas nas populações seguintes. Apesar de o custo ser elevado, a RNM agrega mais segurança na seleção. CONCLUSÕES A linhagem UFU- 106 destacou-se quanto ao rendimento e a produtividade de óleo; Embora o teor de óleo da linhagem UFU- 101 tenha sido elevado, a produtividade deste genótipo foi aquém do desejável; Os métodos de avaliação de teor de óleo foram equivalentes, ficando a cargo do programa de melhoramento optar. AGRADECIMENTOS À Fundagri (Fundação Educacional para o Desenvolvimento das Ciências Agrárias) pelo financiamento desse trabalho e ao ICIAG/UFU pelo apoio no desenvolvimento do mesmo. Determinação e avaliação… CAVALCANTE, A. K. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 14 ABSTRACT: The aim of this study was to evaluate and select lineages of early soybeans on the yield potential and oil content for the production of biodiesel and correlate the nuclear magnetic resonance and Soxhlet methods in the analysis of oil content. Among the different sources of biomass, vegetal oils are a potential source of renewable resource for fuel production, turning into a viable alternative compared to diesel. It was evaluated 19 early maturity lineages in randomized blocks with 3 replicates and compared with 5 cultivars. The performance of each lineage was assessed by measurement of the following features: number of days to flowering (NDF), number of days to maturity (NDM), plant height (cm) at flowering (APF), plant height (cm) at maturity (APM), height of insertion of first pod (AIV), lodging (AC), oil content in grain expressed in percentage (%OL), grain yield (PG) and oil content yield (PO). From the levels obtained by two methods of extracting of oil it was done the analysis of correlation. The results showed the superiority of lineage UFU-106 on the yield and productivity of oil. Although the oil content of lineage UFU-101 has been high, the yield of this genotype was below the desirable performance. Concerning to the methods of extraction of oil, the results showed a negative correlation coefficient, indicating that there was no correlation between the two methods. KEYWORDS: Glycine max. Biofuel. Productivity. Soxhlet. REFERÊNCIAS AGRICULTURA BRASILEIRA EM NÚMEROS – ANUÁRIO. Brasília: MAPA, (2004). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 26, n. 229, p. 19, 2005. AMERICAN OIL CHEMISTS SOCIETY – AOCS. Official methods and recommended practices of the American Oil Chemists Society. 5.ed. Champaign, IL: AOCS, v. 1, 1997. ARAUJO, M. M. de. Melhoramento de plantas visando à produção de biodiesel. In: SEMINÁRIOS EM GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS, Piracicaba - SP: Esalq, v. 1, p. 1- 2, 2006. BUAINAIN, A. M.; GARCIA, J. R. CISoja: Biodiesel sem a agricultura familiar . Disponível em: .Acesso em 01 de set.de 2008. CAT – Uberlandia. Avaliação de diferentes cultivares de soja, safra 2005/2006. Disponível em: . Acesso em: 6 Abr. 2010. COLLINS, F. I.; ALEXANDER, D. E.; RODGERS, R. C.; SIVELA, S. L. Analysis of oil content of soybeans by wide line NMR. Journal of the American Oil Chemists Society, Chicago, v. 49, p. 708-710, 1967. CONAB. Acompanhamento da safra brasileira: Grão, Sexto levantamento. Disponível em: http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/6graos_09.03.10.pdf . Acesso em: 10 Mar. 2010. CONAB. Acompanhamento da safra brasileira: Grão, Sexto levantamento. Disponível em: . Acesso em: 6 Mar. 2009. CONWAY, T. F.; EARLE, F. R. Nuclear magnetic resonance for determining oil content of seeds. Journal of the American Oil Chemists Society, Chicago, v. 40, p. 265-268, 1963. CRUZ, T. V.; PEIXOTO, C. P.; MARTINS, M. C. Teores de óleo, proteínas e produtividade de soja em diferentes épocas de semeadura. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, Goiânia-GO. Anais... Ambiente e manejo da cultura. Londrina: Embrapa Soja, 2009. v. 17, p. 1-3. FEHR, W. R.; CAVINESS, C. E. Stages of soybean development. Ames: Iowa State University of Science and Technology, 1977. 11p. FEHR, W. R.; COLLINS, F. I.; WEBER, C. R. Evaluation of methods for protein and oil determination in soybean seed. Crop Science, Madison, v. 8, p. 47-49, 1968. Determinação e avaliação… CAVALCANTE, A. K. et al. Biosci. J., Uberlândia, v. 27, n. 1, p. 8-15, Jan./Feb. 2011 15 FINOTO, E. L.; SEDIYAMA, T.; REIS, M. S.; CRUZ, C. D. Teores de óleo e de proteína de genótipos de soja em duas épocas de plantio e dois tipos de solo em Frutal-MG. In: XXX REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, Rio Verde. 2008, p. 53 - 55. GODOY, I. J. De; TEIXEIRA, J. P. F.; NAGAI, V.; RETTORI, C. Determinação do teor de óleo. Bragantia, Campinas-SP, v. 45, n. 1, p. 161-169, 1986. GUIMARÃES, F. S. de; REZENDE, P. M. de; CASTRO, E. M. de; CARVALHO, E. A.; ANDRADE, M. J. B. de; CARVALHO, E. R. Cultivares de soja [Glycine max (L.) Merrill] para cultivo de verão na região de Lavras-MG. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 32, n. 4, 2008. GUPTA, S. K.; DHAWAN, K.; YADAVA, T. P. Estimation of oil content by side-line NMR. Oil Crop Newsletter, Addis Ababa, v. 2, p. 17-21, 1985. HAMER, E. Demanda por semente precoce de soja aumenta 150% em Mato Grosso: Portal do Agronegócio. 2006. Disponível em: . Acesso em: 20 abr. 2009. MARCOS FILHO, J. Produção de sementes de soja. Campinas: Fundação Cargill, 1986. 86 p. MORAES, R. M. A.; JOSE, I. C.; RAMOS, F. G.; BARROS, E. G.; MOREIRA, M. A. Caracterização bioquímica de linhagens de soja com alto teor de proteína. Revista de Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília-DF, n. 5, v. 41, p. 715-729. 2006. NAVARINI, L. Resposta de cultivares de soja ao controle químico de ferrugem asiática. 2008. 76 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Agronomia, UFSM, Santa Maria- RS, 2008. Cap. 1. PAIVA, B. M. de; ALVES, R. M.;HELENO,N. M.Aspectos socioeconômicos da soja. Informe Agropecuário, Belo Hotizonte-MG, v. 27, n. 230, p. 7-14, jan.\fev. 2006. RESENDE, P. M.; CARVALHO, E. A. Avaliação de cultivares de soja (Glycine max Merrill) para o sul de minas gerais. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 31, n. 6, p. 1616-1623, nov./dez., 2007. SEDIYAMA, T.; TEIXEIRA, R. C. de; BARROS, H. B. Princípios de tecnologia de Alimentos: Métodos de conservação de Alimentos. In: SEDIYAMA, T. Tecnologias de produção e usos da soja. Londrina- Paraná: Mecenas, 2009. Cap. 8, p. 77-92. SISVAR/UFLA- Programa de análises estatísticas (Statistical Analysis Software) e planejamento de experimentos. Versão 4.0: Universidade Federal de Lavras- UFLA, 2007. Disponível em < http://www.dex.ufla.br/~danielff/softwares.htm>. Acesso em: 20 de mar. 2009. UNGARO, M. R. G.; TOLEDO, N. M. P. de; TEIXEIRA, J. P. F.; SUASSUNA Filho, J. Determinação do teor de óleo em sementes. Bragantia, Campinas-SP, v. 51, n. 1, p. 1- 5, 1992.